Quem quer comprar palavras?
Atualizado dia 16/11/2007 07:19:46 em Autoconhecimentopor Bernardino Nilton Nascimento
Nossos olhos mandam para nossa mente sinais que despertam o prazer momentâneo de possuir apenas pelo olhar, e sua mente capta, começando assim a crise interna do querer. Nossos ouvidos mandam sinais em ondas para a mente que, sem controle, desperta o desejo e transforma as mentiras em verdades. Seria bom se todas as decisões tomadas antes dessem uma rápida pausa e passassem pelo coração, para ouvir a intuição e procurar tomar uma atitude mais realista, com responsabilidade e equilíbrio, para não sofrer mais tarde.
Temos que ter o máximo cuidado, estamos sempre vulneráveis às técnicas do marketing, das palavras cada vez mais aprimoradas para nos conquistar, e assim, sem perceber, nos dominar e nos fazer enxergar somente o lado materialista e o desejo de ter, sendo enganado pela falta de atenção às verdadeiras necessidades. O jogo de palavras pode levar você, seu bairro, sua cidade, seu estado e seu país a sofrerem grandes danos através do seu voto, quando insistimos em acreditar nas palavras mentirosas dos políticos.
Assim também funcionam as religiões bem preparadas. Os oradores, quando falam, jogam, fazendo você acreditar em palavras não ditas, curas não realizadas e, o pior, deixando-o como se estivesse em uma janela de avião: voando, porém, tendo a visão pequena da paisagem e da liberdade. O melhor para a evolução é ser livre e voar vendo todos os lados, isto é, estudar sobre tudo.
Vivendo sem medo da grade do pecado, grosseiramente imposta ao ser humano apenas para cumprir seus mandamentos, mas com medo de perder o freguês, praticam o jogo de palavras, que se transforma numa prisão para a evolução do ser. Particularizado, conforme as doutrinas religiosas, o ser humano vive preso e com medo da verdadeira liberdade e da evolução. Fazem os seus fiéis acreditarem no passado, com medo do presente e prometendo um futuro feliz, porém, presos a uma só doutrina. Mas, como ser livre e feliz enxergando somente por uma pequena janela?
Cuidado com o jogo de palavras, elas fazem você pensar que está indo para o lado certo, adquirindo as coisas sem necessidade e, muitas delas, depois de possuídas, se tornam sem importância, e aquele valor que você deu se acaba em um instante. Esse jogo te traz o apego, um terrível mal para quem já sabe que tudo aqui é passageiro.
Lembro-me bem quando fui assistente de uma determinada religião e coordenador de ensino religioso. Conversava com o “superior” na sala, quando uma senhora entrou para falar com ele. Sem perceber que eu estava ali, começaram a conversa. A pobre senhora, feliz da vida porque tinha recebido um dinheiro extra que estava retido no INPS, gostaria de agradecer oferecendo uma parte como donativo para a igreja. O “superior”, com o poder das palavras, já foi convencendo a pobre senhora de que foi uma dádiva de Deus e um milagre da igreja, e que ela tinha que dividir com a igreja, que é a representante Deus.
A senhora estava com uma criança de mais ou menos doze anos, ambos vestiam-se simplesmente. “Por favor, pegue um envelope, coloque o donativo e ofereça a Deus. Com certeza Ele vai ficar muito grato e sua vida vai melhorar muito”, disse o “superior”.
Enquanto conversavam, eu estudava o jogo das palavras e o poder com que ela influencia o ser humano. Quem disse que Deus precisa de dinheiro? Na verdade, o que a igreja precisa é ficar aberta, e para isso tem que pagar luz e os impostos, mas não os oficiantes ficarem ricos. Quem tem que ficar com uma situação confortável são seus membros. Isso acontece também com os sindicatos, cujos dirigentes acabam ficando ricos e seus filiados trabalhadores, pobres.
Voltando à história, resolvi interromper a senhora, já convencida e agradecida, quando ia sair para fazer seu donativo, que era uma boa quantia, e na frente do “superior”, disse para a pobre: “Olha, o que a senhora recebeu já era seu de direito, e foi o próprio homem que atrasou seu pagamento. Agora, a senhora deveria fazer compras para suprir as necessidades da sua casa e dos seus filhos. Com o que sobrar, se o seu coração realmente desejar, poderá fazer uma pequena contribuição extra para igreja. A sua contribuição mensal já é suficiente para suprir as necessidades da igreja, o que vem de extra é para sua ampliação.”
Daí pra frente fui discutindo com o “superior”, e acabei saindo da sala com a senhora. Logo depois voltei para despedir-me para sempre das religiões.
Peço a Deus que me dê o poder das palavras, não para convencer as pessoas e, sim, para mostrar que elas têm um coração, uma casa que é seu corpo e que devem se tratar bem e se amar muito, para ter amor no coração em estoque.
Liberdade, amor e alegria são conquistas internas que se consegue mudando seu interior e desejando a felicidade do próximo e não se deixando aprisionar pelo jogo das palavras, a ponto de ultrapassar a sua realidade e a sua personalidade.
BNN
Texto revisado
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