Quem Somos Nós? - É Possível Sair do Sofrimento, ou Uma Poética do Espaço
Atualizado dia 10/20/2008 12:11:10 AM em Autoconhecimentopor Isabela Bisconcini
Um outro ponto importante que o filme nos traz é o de que emoção e reação química são dois lados de uma mesma moeda. Nossas emoções geram descargas químicas que chegam às células através dos receptores celulares, e essas reações químicas viciam tanto quanto qualquer droga. Assim ficamos viciados às nossas emoções (sejam elas quais forem). Como diz Ruth Toledo Altschuler: "Nossa biografia se torna nosso registro biológico".
Qualquer trabalho de transformação pessoal se propõe a abrir novos caminhos, visões, percepções, atitudes, em última instância, novas relações entre os neurônios cerebrais e entre estes e os receptores celulares. Mas, para isso precisamos gerar uma energia para mudança. Lama Gangchen Rinpoche nos diz que: "É preciso ter experiências positivas para querer repeti-las". É preciso relembrar através de nosso espelho de sabedoria que somos feitos de uma energia pura e bela e que, embora nossos condicionamentos nos mostrem um caminho "batido", há outras possibilidades. Eu não sou minha insegurança, não sou meu medo dos outros, não sou minha sensação de rejeição, mas estas são as marcas que cunhei, que gravei no disco do meu continuum mental. Precisamos atualizar a percepção de nós mesmos, deixando de nos contar a mesma história todo o tempo.
Nossas reações emocionais reforçam nossas crenças a respeito de nós mesmos. O espaço é a não reação. Do espaço, brotam as situações que vivemos. A partir do espaço, pela qualidade da intenção, as coisas ganham força e forma. O espaço das possibilidades da realidade subatômica é aquele em que a intenção plasma a realidade fenomênica.
O espaço é a desconstrução da dependência químico-emocional gerada pelos nossos condicionamentos. Desconstruir é primeiro sentir na pele a dor da cadeia do condicionamento, a dor do nosso samsara pessoal, onde nos percebemos como ratos correndo no carrossel das nossas reações habituais. Assim, em princípio, parecemos colapsar, pois passamos a enxergar as amarras. Todas as amarras. Uma maneira de desconstruirmos aquilo a que chamamos realidade é nos atermos às sensações da situação e não "irmos longe" nos emaranhando nas antigas sinapses dos nomes, julgamentos, rótulos, ou preconceitos que damos às situações. Lembro-me de uma praticante budista que, passando por uma doença, disse-me: "se eu penso no nome que a doença tem, fico muito pior. Quando consigo deixar o nome de lado e fico só nas sensações, de momento a momento, e do meu dia a dia, tudo fica mais leve; de fato, não estou sentindo dor".
O filme nos aponta a direção do caminho da transformação: precisamos agüentar a retirada química das nossas adições (nossa projeção da realidade!) - a síndrome de abstinência ao vício das nossas reações emocionais/químicas; da história que nos contamos do que é a realidade - e arriscar um passo à frente e outro, de momento a momento, não respondendo ao impulso gravado que surge como "um pensamento natural". No fundo, tudo se resume a resistir à tentação de crer que o que vivemos é "A" Realidade, que as coisas "são assim". "A" Realidade não existe. Sobretudo, devemos nos concentrar na intenção de tudo o que fazemos e direcioná-la positivamente. A mente cria a realidade.
Como se diz numa oração budista tibetana: "Gentil Lama, Senhor que emana e reabsorve um oceano de infinitos mandalas, aos seus pés eu peço”. A mente de cristal, livre das próprias adições e não contaminada, como numa respiração, cria um oceano de infinitos mandalas e os reabsorve. A realidade se constrói e se desconstrói, de momento a momento, gerando e reabsorvendo estes infinitos mandalas. Por que precisamos ficar fixos nesta realidade condicionada e tediosa, se temos a todo instante o espaço - seja ele o espaço subatômico da ciência, ou o de nossa mente de cristal puro, como nos propõe o budismo? "Quem Somos Nós” é um chamado à responsabilidade pelo que criamos na nossa vida. 24/11/2005.
Avaliação: 5 | Votos: 33
Isabela Bisconcini é Psicóloga Clínica e Consteladora Sistêmica. Terapeuta EMDR. Terapeuta Floral, Reiki II, NgalSo Chagwang Reiki, AURA-SOMA. Deeksha Giver. Dedicou-se por 25 anos ao estudo da psicologia budista e prática do Budismo Tibetano. Participou do Centro de Dharma da Paz desde 1988, quando Lama Gangchen Rinpoche o fundou. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |