(Re)Construindo um relacionamento
Atualizado dia 11/21/2007 5:47:46 PM em Autoconhecimentopor Theresa Spyra
Vim da Alemanha. Lá, um país de primeiro mundo proporciona que as mulheres tenham ainda mais liberdade de comandar suas vidas, falando em termos de dinheiro. E isso faz com que os homens sejam necessários somente para procriar. Mas será que isso é bom? Será que é isso que está acontecendo aqui?
Na verdade, financeiramente, o papel masculino está perdendo seu lugar. E aí é a grande questão: um relacionamento que só se mantém pela questão do dim-dim, quebra fácil, fácil. E de certa maneira, muitos casais modernos acabaram deixando os valores como amor, respeito ao próximo, conversa em família, crescimento mútuo, diversão conjunta, liberdade de opinião, aceitação e perdão, por coisas, bens e serviços que podem conquistar.
Passam alguns anos atrás de casa própria, carro, móveis, eletrodomésticos, escola para os filhos, empregada, etc. Quando conseguem, são obrigados a encarar um ao outro, porque não há mais grandes objetivos para serem conquistados. E então percebem que um não conhece o outro. Descobrem que suas feridas (que todos têm) não foram curadas. Pior: descobrem que a pessoa que é mais importante na vida, o parceiro, em vez de ajudar a superar as dores, provoca mais ainda e destrói os sentimentos mais profundos.
Principalmente nós, mulheres, que somos mais sensíveis e necessitamos expressar nossas emoções, ficamos “na mão”, sem ter no parceiro alguém em quem possamos confiar nossas emoções. Não quero generalizar: é lógico que existem homens sensíveis e companheiros; só estou dando uma amostra do que acontece no meu trabalho. Mas o homem igualmente sofre, por dois motivos: ele não foi criado para trabalhar as emoções da mulher, nem as próprias. Numa sociedade como a brasileira, latina, homem que é homem não demonstra emoções. E por outro lado, porque o Brasil ainda é um país em crescimento e as propagandas hipnotizam a todos com os prazeres do consumo, o homem (e também muitas mulheres) colocam o seu foco mais naquilo que podem ter, do que no relacionamento. Na Alemanha temos a possibilidade de ter muitas coisas materiais. O que as pessoas querem conseguir aqui, lá já é realidade e... mesmo assim as pessoas não se sentem felizes, os casais não estão bem... Qual será o caminho?
Mergulhando no íntimo do casal
Meu trabalho é terapêutico. Sou facilitadora de Constelação Familiar Sistêmica e lido muito com a questão de relacionamento. Vamos esquecer um pouco essa questão da busca material, que no fundo está disfarçando um comportamento que tanto é do homem como da mulher. O que percebo no consultório é mais uma busca para a cura das dores internas. Cada pessoa carrega dentro de si a necessidade de ser aceito, acolhido, quer pertencer a algum lugar. Pode parecer estranho, mas é muito comum alguém, dentro da própria família, não se achar pertencente a ela. E isso já se percebe ainda na infância: quantos de vocês não se sentiram sem o carinho da sua mãe, sem a atenção do papai? Quantos de vocês não acharam que o irmão recebia mais que você? E muitas vezes, recebia mesmo?
A Constelação Sistêmica diz que a família é um sistema que se auto-ajusta. Fomos ensinados que somos um indivíduo, mas não somos. Em relação à família, fazemos parte de um todo, que se chama sistema familiar, e tudo o que fazemos é influenciado pelo que aconteceu e acontece dentro da família, principalmente nossos pais, irmãos e avós, além da família atual: companheiro ou companheira e filhos.
Nossas emoções e atitudes estão condicionadas por heranças genéticas. Quantas pessoas você conhece que sempre arruma o mesmo tipo de companheiro, por exemplo, alcoólatra? Isso é o sistema atuando. É lógico que a pessoa não quer conscientemente um viciado, mas ele sempre aparece... E assim, a tendência de arrumarmos parceiros ou agressivos, ou apáticos, ou pouco carinhosos, ou focados somente no trabalho, ou que traem sempre, pode ser um “ajuste” que trazemos conosco, originado em algum momento na própria família. O outro lado também possui os ajustes dele, e só podemos trabalhar cada um focado nas próprias emoções e características.
A “malinha” de problemas
Carregamos, pela herança genética, “malinhas” de problemas que não pertencem a nós. Queremos consertar o casamento dos nossos pais, ou ser diferente do avô ou avó, ou ser melhor dentro de uma família que achamos problemática. Pegamos o problema do marido e achamos que é nosso, e assim também fazemos com os nossos filhos.
A Constelação Sistêmica coloca tudo isso à tona: as características emocionais que temos, o que estamos carregando, se queremos resolver problemas que não têm nada a ver com a gente, se queremos assumir o papel do pai quando somos filho, ou do marido quando somos esposa, ou do filho quando somos pai... E aí começam os problemas de relacionamento.
Existem muitos pais que, ao se colocarem no papel de filho, têm atitudes fracas, sem responsabilidade e sem autoridade. Muitas mães, ao se colocarem no papel do pai, se endurecem, assumem todo o lado financeiro, perdem a doçura e o sentimento de acolher característico da mãe. Muitos filhos, ao assumirem as dores e os problemas dos pais, perdem o respeito aos próprios pais, aos chefes do trabalho, às pessoas que comandam. Então, quando casam, também não conseguem o respeito.
A família é um sistema único. Porém, você representa diversos papéis dentro dela. Você é filho dos seus pais e sempre será, devendo se comportar como filho deles. Você é marido ou esposa do parceiro(a) e deverá ser assim: você não é pai da esposa ou mãe do marido. Você é pai ou mãe dos seus filhos e deve exigir o respeito deles, sem um pingo de dó. A sua “malinha” de problemas é só sua, mas será que você está carregando os seus problemas somente?
Somente com cada um assumindo o seu próprio papel, as suas próprias dores e, a partir disso, entendendo e aceitando o papel do outro e as dores do outro, é possível haver um relacionamento duradouro. Então, não havendo mais nada a ser compensado, não havendo culpados pelo sofrimento, o amor entre o casal se demonstra pleno e vigoroso, como já existia antes, porém, camuflado pelo peso do sofrimento e culpa mútua. No fundo, o sofrimento é uma ilusão que acreditamos realidade. O sofrimento deixa de existir, quando paramos de “alimentá-lo”.
Theresia
Terapeuta e facilitadora de constelação familiar sistêmica
www.nokomando.com.br
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 11
Theresa Spyra é alemã, trainer e terapeuta com especialização em constelação sistêmica familiar, organizacional e estrutural. Estudou com a também alemã Mimansa Erika Farny, pioneira na introdução do método sistêmico de Bert Hellinger no Brasil, e aprofundou-se nos sistemas estruturais e organizacionais, com estudos no Brasil, Alemanha e Suíça E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |