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Reflexão do rato morto

Atualizado dia 9/16/2007 11:51:52 AM em Autoconhecimento
por Hélio Arakaki


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Nesta manhã estava borbulhando de idéias e não via o momento de transcrevê-las no computador. Foi quando fui informado de um possível rato morto no quarto de despensa. Não tive escolha. Adiei minha ida ao computador e me coloquei a procurar pelo corpo do animal.

Aproveitei o momento para exercitar a atenção plena, ou seja, me ater ao momento presente com mais consciência e o mínimo de distração. Assim, não me senti contrariado nem ansioso. Comecei a vasculhar o quartinho com cuidado. Fui percebendo o quanto havia de material guardado. A maioria inútil. E em meio a tantas tralhas, o odor da urina e das fezes dos roedores. Um quadro deprimente.

Seria imprescindível, então, realizar uma limpeza geral. Peguei dois grandes sacos de lixo e comecei a colocar tudo aquilo que era inútil, peça por peça. Até que, finalmente, identifiquei o odor característico de um animal em decomposição. Vinha de um local de difícil acesso, sem mencionar que estava repleto de um monte de material que aproveitei para jogar fora.

Findo o trabalho, me senti recompensado ao ver o quartinho mais limpo e menos abarrotado.

Veio-me, então, a seguinte analogia. Quantos fatos relacionados com o passado estamos acumulando em nossos corações? Se a nossa vida apresenta um quadro insatisfatório, provavelmente viemos trazendo inconscientemente algum fato ocorrido tempos atrás. Portanto, tralha velha. Talvez não possamos identificá-la. Mas você sabe que algo está errado, tal como o cheiro que indica a presença do rato morto em algum lugar.

É difícil admitir esse fato, pois isso exige que entremos no nosso quartinho sujo e nos demos ao trabalho de identificar cada coisas inútil que fatalmente nos despertarão sensações incômodas e até dolorosas.

Mas se negarmos esse fato as conseqüências futuras serão maiores. Chegará um momento que será insuportável conviver com a situação da falta de cuidado e do abandono. Pois nesta condição inexiste o amor. O amor só floresce quando o nosso coração está arejado, menos abarrotado de mágoas, medos, culpas e tantos outros sentimentos prejudiciais.

Sem amor o ser humano pode comprar de tudo, mas sempre será um miserável, uma vez que a carência afetiva não pode ser suprida por coisas, mas no exercício do desprendimento e do desapego, principalmente através do amor que podemos dar e receber.

A abundância do amor gera auto-estima e confiança. A miséria do amor gera a insegurança que por sua vez gera a ansiedade, que por sua vez gera a impaciência, que por sua vez gera a intolerância, que vão se somar aos outros entulhos amontoados dentro de nós.

E aí a vida se fecha em torno de um círculo repetitivo e enfadonho, onde nada de novo acontece, a não ser o acúmulo da tristeza, do aborrecimento e da insatisfação. Um cenário propício para os ratos fazerem seus ninhos e roerem o nosso coração.

Texto revisado por Cris

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