Reflexão (ou, desabafo)!



Autor José Rodismar Santos
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 06/03/2012 14:32:21
Reflexão (ou, desabafo)!
Quarta-feira, 17/11/04, duas horas da madrugada. Sono profundo.
Súbito, a campainha dispara em toques bruscos, intermitentes e ao seu barulho atordoante somou-se o som de fortes batidas na porta e gritos desesperados, quase inaudíveis, de “socorro, socorro, meu marido... moço, por favor, meu marido... ajude... ajude...” Passos desesperados no corredor...gritos...O desespero permeou, invadiu, apossou-se de todo o andar.
Atônito, num movimento absolutamente mecânico, corri para a porta e...
E... ??????? Que fazer? Abrir a porta e ir ao encontro daquele clamor desesperado?
Mas, e se fosse alguma briga de casal, assalto, invasão, arrastão, alguém armado?
Mas os gritos, os passos, o desespero permanecia, insistia, clamava!
E eu ali... Estático, pálido, o coração a mil, o corpo trêmulo!
São aqueles segundos infindáveis em que se passam pela nossa cabeça milhares de pensamentos, emoções e sentimentos os mais diversos.
Vi-me diante da tênue fronteira entre o “amar ao próximo” e o “preservar-se a si mesmo”.
Vacilante e covardemente abri a porta! Mas somente depois de ouvir as vozes de outros vizinhos junto à mulher desesperada.
No apartamento ao lado a mórbida cena: O corpo inerte de um semelhante no chão, gélido, pálido, sem brilho nos olhos, sem o fôlego, sem o Espírito da vida! Apenas 31 anos.
Infarto fulminante! E a viúva ali, aos prantos, em choque, debruçada por sobre ele, acariciando-o, beijando-o, e dizendo para que ele, o cadáver, se acalmasse, pois o resgate já estava a caminho.
31 anos! E naquele mesmo dia eles haviam ido ao médico. Obesidade, apnéia, tireóide e pressão alta já eram suas silenciosas companheiras há algum tempo.
O corpo daquele jovem ali, inerte, me levou a refletir sobre o quanto somos alheios a nossa frágil e miserável condição humana. Por quantas vezes nos achamos tão fortes, inteligentes, capazes, cheios de si, sábios, poderosos, infalíveis...? Chegamos mesmo a achar que somos donos da verdade e que com a “força” de nossa mente tudo podemos. Afinal, basta uma simples ordem e o nosso cérebro responde, submisso à nossa vontade e move nossos braços, nossos dedos, vira o nosso pescoço na direção que “ordenamos”. Ah, basta um simples movimento e tocamos a flor logo diante de nós. Basta usar os sentidos e tateamos, ouvimos, sentimos gosto, enxergamos e cheiramos.
Nesse exato momento quantos milhões de células estão se reproduzindo dentro de nosso corpo, quantos milhares de enzimas estão sendo despejadas em nosso aparelho digestivo, quantos milhares de exércitos de glóbulos brancos estão sendo postos em atividades para combater um agente estranho, invasor, dentro de nosso organismo? Estarão todos esses processos sendo realizados pela “força” de nossa mente? Será mesmo que temos algum tipo de influência consciente sobre esses processos tão simples (?)...?
“Vaidade! Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade debaixo do sol!” (Rei Salomão).
Passamos os breves dias de nossa existência “lutando” para sobreviver, e o que é pior, queremos sempre mais e mais. O outrora sonho já realizado de um carro tornou-se obsessão pelo último modelo, zero, com mil cavalos. Aquela casa tão desejada já não atende mais aos anseios de nossa ambição desmedida. Por que não tentar a mansão, ou algo semelhante a daquele vizinho ou daquele artista? Afinal, “eu” tudo posso!
Eu! Eu! Eu! Ah, o ego, esse gigante insaciável...
No Bhavagad Gita, Krihsna já nos ensinava há milhares de anos que ele, o ego, é o pior inimigo do homem, porém, pode ser seu melhor servo! (“Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo... Jesus Cristo)”.
Desperdiçamos a maior e mais preciosa parte de nosso tempo, empregamos o melhor de nossas energias correndo atrás do vento! (Salomão, de novo).
Será que a vida, ou o que entendemos ser ela, resume-se apenas em sobreviver?
Será que o Criador dos céus, da terra e de tudo que neles há, seria tão mesquinho e egoísta? Afinal, somos sua imagem e semelhança!
Olhemos para o alto. Quanta perfeição, quanta beleza, quanta exuberância!
Nosso corpo, as plantas, os rios, o perfeito sistema da biodiversidade...Os planetas, suas órbitas, as estrelas, as constelações, as galáxias...Como tudo é tão perfeito! Que sincronismo! Que harmonia! Que perfeição!!!
Seríamos nós, justamente nós, os filhos criados à imagem e semelhança de Deus, a antítese da perfeição, essa perfeição que permeia todo o universo? Estaria ela ausente apenas em nós? Ou quem sabe ela ainda exista em nós, perdida, esquecida, sufocada pelo gigantismo de nosso ego?
Até quando buscaremos alhures o que habita em nós mesmos?
Até quando olharemos para as coisas sem a visão dos olhos da alma?
Até quando enxergaremos apenas o que está abaixo do sol?
Será que lá no âmago do nosso ser, em algum breve lampejo de inspiração já não teríamos enxergando por sobre o véu que nos separa da realidade, a verdadeira realidade do mundo espiritual?
Vivemos em busca de sinais, de coisas fantásticas, de milagres!
O discernimento para, nesse exato momento, ler essas palavras já não seria um desses milagres? O sangue que jorra em nossas veias, espontaneamente, sem a intervenção da nossa vã vontade já não seria um outro milagre? A seiva que corre silenciosamente por dentro do tronco, trazendo da terra, através da raiz, o alimento necessário para a árvore naquele jardim ali em frente já não seria também um outro milagre?
Mas, o misericordioso Mestre Jesus já nos dizia: Se sequer compreendemos as coisas terrenas, como poderíamos compreender as espirituais?
Algo que me deixa maravilhosamente atônito é o fato de saber que apesar da pequenez da nossa fé e do gigantismo de nosso ego, apesar de toda nossa mesquinhez, ignorância, estupidez, imperfeição e petulância, ELE, o PAI nos ama, nos perdoa, nos ajuda, nos consola...Que amor é esse? Que amor é Esse? (Disse Jesus, o Cristo: “Qual é o pai que se o filho lhe pedir um pedaço de pão lhe dará uma pedra?”
Aquele corpo gélido poderia ser o meu, o seu, ou o de qualquer um dos nossos amados.
E nós achando que somos independentes, auto-suficientes, infalíveis...Pobrezinhos...
E vivemos em busca de grandes milagres...De sinais e prodígios...
A vida, esta sim, é o maior dos milagres que se renova a cada dia!!!
Não. Não somos perfeitos, mas, trazemos em nós a essência da perfeição Daquele que nos criou à sua imagem e semelhança!
Que Ele, o PAI, em sua infinita bondade, tenha misericórdia de nós!
José Rodismar Santos









Visite o Site do autor e leia mais artigos.. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |