RISCO DE VIDA
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Autor Christina Nunes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 1/20/2008 12:07:15 PM
"Não há risco de vida. A expressão é inadequada de vez que a vida é eterna. Há riscos na vida.
Risco* de não se haver esta conscientização de eternidade, lançando o homem no imediatismo das vantagens ilusórias justificadas pela enganosa visão da uma vida só, na qual se deve extrair o máximo em favor de si mesmo em primeiro lugar e em detrimento, se necessário, do próximo.
Riscos, por ausência desta noção de continuidade pura e simples, de que a materialidade impere, implacável, no culto desenfreado aos valores voláteis da vaidade voraz e do orgulho pétreo, classificadores de seres humanos em função das sutilezas traiçoeiras das aparências enganosas do ter, e não do ser.
Riscos, por conseguinte, de se alegar justificáveis todos os métodos desumanos, ardilosos, violentos ou astutos ao se estratificar classes sociais, raciais e étnicas em situações desesperadoras de subsistência, porque os questionáveis motivos políticos e econômicos supostamente assim funcionam e assim o requerem.
Riscos de se relegar o ser verdadeiro ao estado abjeto da bestialidade porque a hora que passa é a que conta e nada mais há de vir depois; porque os valores verdadeiros inerentes ao ser humano e defendidos pelos grandes de espírito que estagiaram de tempos em tempos no mundo foram descartados como ineficientes ou inadequados, como ideologia estéril vigente apenas no mundo inaplicável de poetas e de visionários, inúteis aos grandes avanços da ciência especializada primordialmente em produzir obras de vulto no terreno das comodidades...
Risco maior, em suma, de que tais comodidades, modas comportamentais e psicológicas e interesses subreptícios, tão bem empregados nas diretrizes egotistas da fugaz vida material, não vigorem, para o profundo choque e pesar de muitos, naquele minuto solene em que cada qual deverá tornar às paragens de origem tão só e tão desnudo - interiormente - quanto veio ter nos estágios materiais terrenos.
É este o risco maior: a constatação de que, de modo inapelável, tudo que temos na continuidade inexorável da vida, para além das portas do túmulo, não são os subterfúgios, as crenças falsas e convenientes, os apêndices e os ornamentos com os quais enfeitamos, disfarçamos e enganamos ao mundo material a nossa verdadeira face - esta sim! - que haverá de transparecer, soberana, na vida real: na vida interina e reveladora de que o maior risco enfrentado a cada etapa da jornada é justo aquele residente nas maiores limitações de visão e de compreensão habitantes de nós mesmos!"
* ([Do b.-latim risicu, riscu, poss. do lat. resecare, cortar - Aurélio XXI)
Caio Fábio Quinto
pela psicografia de Lucilla
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Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |