ROSA DE HIROSHIMA REVISITADA
Atualizado dia 11/9/2006 12:14:43 AM em Autoconhecimentopor Maísa Intelisano
(Vinícius de Morais)
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
É uma pena que este poema, de repente, me pareça tão atual. Na verdade, mais que uma pena, é vergonhoso...
Às vezes, tenho a impressão de que andamos em círculos. Parece que sentimos prazer em repisar as mesmas pedras já tão lavadas no sangue da ganância e do preconceito. Parece que, por mais que o nosso discurso alerte para o quanto já erramos no passado, não conseguimos nos desvencilhar da hipocrisia de nossa própria natureza humana. É como se nossa mente andasse em "looping", indo e voltando no rastro de enganos e ilusões tantas vezes repetidos.
Quantas vezes ainda teremos de chorar sobre os nossos próprios erros? Quantas vezes ainda teremos de nos deparar com nossas próprias mazelas explicitamente exibidas na tela da TV? Por quanto tempo ainda teremos de lamentar nossas escolhas, nossas atitudes, nossas palavras e pensamentos, expressos nos atos e decisões absurdos de líderes que nada mais são que marionetes espirituais?
Ao que parece, ainda não tivemos o bastante de dor e sofrimento, não é? A angústia do passado parece não ter sido suficiente para nos amolecer o coração e abrandar os gestos. Nem toda vergonha e tristeza pelo que já causamos à nossa própria espécie consegue nos imunizar contra o espectro frio e sanguinário que nos ronda a cada passo.
E pensar que já estivemos lá!!! Sim, é bom que não nos enganemos!!! As pessoas que hoje tombam mortas, mutiladas e humilhadas, e todos os seus familiares que sofrem a dor da expectativa pela vida ou pela morte dos seus, são as mesmas que, no passado, ainda que em outras situações, estiveram presentes, literal ou intelectualmente, massacrando, pisando, humilhando, mutilando e matando em nome da honra, da força, da resistência, da liberdade, da pátria, etc.
E nós, que aqui assistimos a tudo isso, não podemos nos furtar à sensação insidiosa de que, talvez, tenhamos parte neste espetáculo sombrio e cruel com que, aparentemente, em nada contribuímos.
Não há como negar. A cada vez que olhamos com desdém para uma outra pessoa, investimos algo de nosso nessa violência. A cada vez que julgamos e criticamos os atos alheios, colocamos nossa marca na farda e nas armas de um soldado em algum lugar do mundo. A cada vez que mentimos em benefício ou interesse próprio, abençoamos cada um desses ataques. A cada vez que defendemos a injustiça e a corrupção, assinamos embaixo de cada decreto criminoso com que justificam essas agressões. A cada vez que nos permitimos sentir raiva, ódio ou desejo de vingança, nos colocamos lá, lado a lado, em cada trincheira onde grassa a arrogância e a prepotência, o orgulho e a vaidade.
Do outro lado do mundo, participamos intelectualmente da ação de milhares de homens friamente manipulados, que lutam por crenças e ideais, que não são seus, e tentam, a qualquer custo, defender a própria vida, justificando seus assassinatos com as palavras de seus líderes entorpecidos como viciados crônicos.
No entanto, aqui mesmo, em nosso próprio ambiente, participamos intelectualmente da briga diária de milhões de pessoas que lutam, minuto a minuto, tentando sobreviver ao ataque do preconceito que, com as mais variadas máscaras, embrenha-se em suas vidas, retirando-lhes o emprego, a dignidade, a saúde, a felicidade, o esclarecimento, a oportunidade.
Em cada gota de sangue derramada lá, encontra-se o eco sinistro das lágrimas de crianças famintas de todas as partes do mundo. Em cada membro mutilado lá, refletem-se as faces pisadas e descoloridas dos doentes sem recurso e sem assistência nos países abandonados pelo descaso e pela indiferença. Em cada gemido de medo e angústia que lá se ouve, ressoa o suspiro desesperado dos pais de família sem emprego e sem esperança em toda a face da Terra. Em cada prece erguida por causa da guerra e da violência, ouvem-se os pedidos mudos de todos os necessitados em todas as latitudes dessa nossa casa planetária.
E não é com súplicas sentidas pela paz no mundo que haveremos de nos redimir de todos esses enganos e erros de cálculo perpetrados ao longo de milênios de egoísmo. Não... A coisa é muito mais complexa e exigirá de nós muito mais consciência e literal presença de espírito para que possamos reverter o quadro obscuro que pintamos para o nosso próprio deleite.
A hora é de discernimento, é de policiarmos nossa própria mente e nosso coração, evitando que nossos pensamentos e sentimentos alimentem a sanha descontrolada que percorre o mundo em ondas negras e espessas de violência, descaso e crueldade.
A hora é de luz: luz nas idéias, luz nas palavras, luz nos sorrisos, luz nos gestos, luz nos desejos, luz nos objetivos, luz por dentro e por fora, iluminando a tudo e a todos, mas, em primeiro lugar, a nós mesmos, para que a treva se desfaça em nossas entranhas.
Luz nas mínimas coisas, luz nas grandes coisas, luz na saúde e na doença, luz na riqueza e na pobreza, luz nos bons e nos maus momentos, para que nem a morte nos separe, já que a morte não existe.
Luz para que a vida nos una onde quer que estejamos, luz para que nossos corpos se abracem, luz para que nossas mãos saibam abençoar a tudo e a todos indistintamente, luz para que nossos olhos de ver possam enxergar cada vez mais longe e profundo, encontrando, em cada olhar de fora, a mesma luz.
O momento é de amar a luz e, por amá-la e amando-a, reparti-la com todos, reavivando-a em nós mesmos a cada instante.
Em 24 de março de 2003 em São Paulo, capital.
Texto revisado por Cris
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Psicoterapeuta com formação em Abordagem Transpessoal, Constelações Familiares, Terapia Regressiva, Florais de Bach e Reiki II, é também tradutora e revisora; palestrante e instrutora em cursos sobre espiritualidade e mediunidade; e fundadora e presidente do Instituto ARCA de Mediunidade e Espiritualidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |