Sétimo Dia
Autor Marisa Moruzzi gurgel Bastos
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 11/7/2010 1:13:19 PM
E me vejo escrevendo um adeus ao marido que já morreu...
* 15.3.1946/+ 13.10.2005
Cá estou eu, sentada ao computador, com a alma chorando, tentando escrever alguma coisa:
mensagem para Rutênio ( para ser entregue na sua missa de sétimo dia, pode?)
Como pode a Morte nos dar tanta visão e nos colocar imediatamente em outra dimensão?
Ah, se eu pudesse voltar atrás, não teria visto a vida como vi! Mas é sempre assim, só com a perda é que teremos o verdadeiro sentido da vida.
O Rutênio me pregou uma bela peça, uma boa rasteira...Meu coração está dilacerado de dor e remorsos... Porque saudades ainda não deu tempo, mas sei que ela virá. Mas espero estar fortalecida.
Rutênio, meu companheiro de quase 30 anos, pai de minhas filhas, dividiu comigo a adorável adoção do Freud.
A Morte tem o poder de nos fazer enxergar só o lado bom das pessoas, acho que é por isso que ela é tão temida por todos nós.
O meu consolo foi a " Boa Morte" de ver o quanto era querido por tantos amigos, filhas, irmãos, sobrinhos desesperados.
Rutênio pode ter certeza: você foi um bom e forte guerreiro, bom e leal companheiro, amou a todos com uma paixão clara e pura, e só aqueles iguais a você é que conseguirão se transformar com certeza em Querubins.
Guerreiro incansável sempre ao lado dos desvalidos, oprimidos, não fazia distinção de cor, credo, raça e muito menos da condição social da pessoa, acreditava simplesmente no " ser humano ".
Do meio da vida para cá, tornou-se um belo e fervoroso cristão, religioso, porque sempre foi amoroso e humanista.
Amava a vida, a família, as filhas. E a mãe, então, nem se fala!
Aos amigos era reservado o melhor de seu ser.
Me amou muito, agora vejo, mas do seu jeito. E, poderia ser de outra forma?
Para um amante da vida, ele tinha que ser " Livre como o vento", assim me disse seu querido amigo Vanzo, à beira de seu corpo que era então velado. Entendemos as coisas importantes às vezes tarde demais...
Foi embora sem nos dizer um adeus, sequer um suspiro, nos deixando com uma sensação de impotência com um misto de culpa por tê-lo deixado partir. O ser humano é por natureza onipotente...
Mas essa Morte só pode ter pessoas de espírito iluminado.
Adeus Rutênio, vá sossegado, nós caminharemos as três sempre juntas, pode ter certeza.
Você deixou boas sementes plantadas aqui na Terra.
Vá em paz! Missão cumprida aqui nessa vida. Quem sabe, nós continuaremos nossa história em outras vidas?
Tenho certeza que você sempre olhará por nós! Vivemos juntos, muitas vezes, várias injustiças, mas seu espírito já era superior, você seguia adiante sem um pingo de ódio, rancor ou vingança em seu coração!
Essa singela homenagem brotou naturalmente do meu coração, ao viver o luto de esposa e companheira.
Você sempre viverá em nossos corações. E não podemos esquecer que sempre morremos um pouco junto com nossos entes queridos. Tenho certeza que você está levando um pedacinho de nós dentro de você.
Como dizia São Cipriano: " Deus não escuta a voz, mas sim ao coração". Você já deve estar junto dele, pois foi um homem de coração puro!
E nós continuaremos aqui, pois como dizem os deuses: " escondem dos homens a beleza da Morte para levá-los a aguentar a vida".
Texto: Marisa Moruzzi
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