Sexo
Autor Nuno Michaels
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 31/12/2007 17:45:49
Não é um título para chamar a atenção - embora esteja estatisticamente provado, por quem perde tempo a estudar essas coisas, que as palavas "sexo" e "grátis" são as que mais chamam a atenção dos leitores. Imagine-se, então, se o título desse artigo fosse "sexo grátis"...
Sexo é mesmo o tema desta crónica - para alguns, o tema de uma vida inteira. Nenhum julgamento. Energia sexual é igual a desejo, e o desejo é a própria força de vida. Deus, ou Vida, ou Todo, ou Um - tudo isso são nomes diferentes para uma mesma coisa - desejo. Não dizem as Escrituras Orientais que Deus criou o mundo porque um grande desejo nasceu nele?. Deus é desejo - desejo de se manifestar, de ser mais, maior, mais amplo, abrangente, melhor. Universo é versus uno: o desejo de se tornar um. É o caos desejando ser cosmos.
Toda a religião cristã está baseada no sexo (ou na falta de...). A Virgem deu à luz sem pecado, e Adão e Eva foram expulsos do Éden porque tomaram consciência do pecado. Para quem ainda não percebeu, não foi realmente a maçã o pomo da discórdia - isso é simbologia para ser decifrada. A queda deu-se porque num instante eram filhos de Deus e no instante seguinte viram-se nus e ganharam consciência do seu próprio desejo. Viram-se como homem e mulher, e esse é um dos mitos que suporta a visão do universo como uma unidade dividida, em permanente dinâmica entre opostos complementares: homem e mulher, bem e mal, verdade e mentira, luz e trevas. Atraindo-se, repelindo-se, desejando-se.
Mas toda a divisão só tem sentido na mente analítica e mesquinha do homem. O desejo só é julgado como mau porque nos castramos a cada momento, porque reprimimos essa energia que é tão natural em nós mesmos. A energia sexual é o primeiro nível a que se manifesta a energia vital, e que pode ascender a níveis progressivamente mais elevados, livres e criativos. O que no início da escala é sexo, no nível mais elevado é verdadeira visão e fusão espiritual. Não é esse o objectivo das práticas tântricas? É.
A nossa tradição, judaico-cristã, condena o desejo e julga-o como mau e pecaminoso - faz dele um tabu e por isso somos tão divididos, infelizes e neuróticos. Se pudéssemos ao menos admitir que é o sexo a energia primária que nos move, poderíamos libertarmo-nos dele. Porque quanto mais o negamos mais prisioneiros ficamos da necessidade de o reprimir, recalcar, sublimar. Mais e mais energia psíquica usamos para o manter sossegadinho e preso no alçapão onde guardamos os conteúdos indesejáveis da psique, e ficamos lá presos com ele enquanto o guardamos para que não saia.
E depois, claro! Não temos como não o viver, porque faz parte de nós - e precisamos de carros grandes, poder social, dinheiro, competência intelectual, influência e controlo psicológico sobre os outros - masturbações solitárias socialmente aceites que não só não são pecado, como são motivo de orgulho perante as nossas mães, a nossa igreja, a nossa comunidade, os nossos inimigos - aqueles de cuja aprovação dependemos e em torno de quem orbitamos.
Quando a energia vital não é dispersada ao nível dos orgãos sexuais, acumula e começa a mover-se para níveis superiores. Mas não se chega lá reprimindo o desejo. É preciso reconhecê-lo, admiti-lo e vivê-lo. E só depois chega a consciência que o pode conduzir. Este é um rio que não se contorna, e não há caminho de volta. A única solução é atravessá-lo com uma intenção: não ficar preso no meio. Ou como diria o poeta, antes de amar a Deus, amai-vos uns sobre os outros. Mas não fiquemos aí. Saí de cima uns dos outros porque estareis prontos. Quando for a consciência e não a repressão a gerir, então poderemos realmente amar a Deus.
Nuno Michaels
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Conselheiro Astrológico, Formador, e Life-Coach. A sua abordagem à Astrologia é Esotérica na lente, Psicológica no trabalho com clientes, Existencial nos pressupostos, e Terapêutica na abordagem. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
