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SONHO EM ESCULTURA

Atualizado dia 11/2/2007 1:21:44 AM em Autoconhecimento
por Fátima Rodrigues Graziottin


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O que é o sonho, senão a obra máxima de criatividade, que desconhece amarras, limites, coerência, lógica e tudo o que é racional e que pode ser "enquadrado"? O que é o sonho, senão a expressão profunda de nossa conexão com os nossos instintos de VIDA? O que é o sonho, senão a expressão inefável, intocável, mas com poder transformador, daquilo que é "dito como REAL"?

E quando esse sonho se transforma em peças concretas, palpáveis, reais, feitas em TERRACOTA... o que será que é possível sonhar? Na "Sala dos Sonhos", dentre variados sonhos de todas as ordens, significados, variações, detalhes e naturezas, um sonho em especial chamou-me a atenção...

O Menino-lobo, a Madonna Negra, o Útero, a Árvore-de-cabeças e o Casal-de-bico-de-pássaro observavam Gaiaysha que, sentada, com joelhos dobrados, descansava sua cabeça nos braços apoiados em seus joelhos. Alheia a todos os outros "sonhos" da sala, observava - curiosa - o "Sonho de Ícaro". O rapaz adormecera sob a copa da Árvore-de-cabeças. Seu rosto jovem esboçava um leve sorriso de êxtase e prazer ingênuo...

Gaiaysha, que decidira inocentemente observar o sonho de Ícaro, percebeu-se - quase que instantaneamente,à velocidade de seu pensamento - dentro do sonho do rapaz!

"Que bom"! - pensou ela. "Que coisa mais maravilhosa é saber que Ícaro sonha comigo"!

E no sonho os dois dormiam sentados, posições idênticas, rostos pendidos para o lado, de forma que seus rostos quase se tocavam na indelével névoa do sonho de cada um que ora era pessoal, ora era coletivo, povoado - também - pelos variados "Sonhos" da "Sala dos Sonhos".

Agora, Ícaro e Gaiaysha estavam ali, sob a copa da frondosa "Árvore-de-cabeças", olhando um livro de pernas para o ar. Um raio de sol muito forte - saindo da ponta dos dedos do "Rei Apolo" - marcou com letras de fogo a página que eles estavam olhando: "Sonhos dentro de sonhos: um sonho em terracota e muito além dela".

Gaiaysha passou os dedos suavemente sobre as letras de fogo, respirou fundo, deu um beijo na bochecha de Ícaro e fechou delicadamente o livro. Levantou-se e saiu lentamente da "Sala dos Sonhos", transportando-se para um jardim florido salpicado de amores-perfeitos e bocas-de-leão plantados em velhos carrinhos-de-mão e vasos sanitários coloridos... enxergava ainda, através de paredes de pedra cuidadosamente colocadas e envernizadas, uma pia feita de terracota, cujo pé tinha a forma de um falo ereto, simbolismo puro de INSTINTO de VIDA e de CRIAÇÃO!

Ela já não sabia se estava dentro ou fora do sonho, se aquele jardim que ela agora via e admirava era ou não outra "Sala de Sonhos"... Mais uma vez respirou profundamente para tentar organizar os sentimentos e as sensações provocadas na "pele feita de barro" e muito além dessa grossa "pele". Estaria ela vivencinado e sonhando sonhos dentro de sonhos, em túneis de luz infinita?

Olhou ao redor e observou que agora, aonde se encontrava (bem próximo ao jardim), havia ruínas de uma empoeirada e abandonada fábrica judiada pelo tempo. Estariam ali escondidos os "sonhos abandonados", os "mal-vistos", os "olhados com desconfiança", os "sonhos negados", "os vergonhosos", os "não-compreendidos", os "mal-cuidados", "os apavorantes", enfim, os "mais abomináveis" sonhos?

Sentiu um arrepio em toda a cabeça e teve a sensação de que todos os fios de seus cabelos estavam de pé!

A visão da fábrica empoeirada, abandonada e judiada pelas intempéries e pelo tempo deixou-a mais pensativa ainda: o que seria o TEMPO, afinal? É possível medí-lo, torná-lo linear?

O que existiria mais além de sua pele feita de barro?

E... ela, então, percebeu-se novamente sentada ao lado de Ícaro. Instantaneamente, já estavam envoltos num abraço quente e acolhedor. Sentiam o toque, o carinho, o amor infiltrados na sua pele e olhavam à frente, ao longe, muito, muito além de sua própria pele...

Uma luz rosa-dourada envolvia-os docemente, como um chuvisco de AMOR, vindo da base do arco-íris que piscava lá longe, como que convidando-os para participar da VIDA, vivenciando a beleza e o colorido daquele momento que sonhavam juntos, serena e docemente! Sincrônica e simultaneamente, juntaram suas mãos num gesto de reverência e de agradecimento por estarem ali, naquele momento, sonhando juntos o mesmo sonho!

E ficaram assim, nesse estado de reverência e de agradecimento, perdidos no KAIROS comum, que definitivamente os abraçava agora e os envolvia com toda a sua potência!

Um calor abrasador desceu e subiu pela coluna dourada de Gaiaysha, indo até o topo de sua cabeça, descendo veloz e fortemente até o chakra básico de Ícaro... O fogo da paixão e do amor transbordava da "endo-pele" de Ícaro, passando para a pélvis, para o tronco, para os braços, para o pescoço, para o rosto de Gaiaysha, unindo-se com ela num enlace de puro fogo, de pura paixão e transformando-se numa luz de cor violeta-azulada que preeenchia todos os poros e cada célula da poeira cósmica com a qual tinham sido moldados, com muita força e muito amor!

Estavam já deitados, enlaçados, beijando-se, ora terna, ora sofregamente, envolvidos por uma nuvem azul-dourada que reluzia fortemente ao sol! Suas pernas entrelaçavam-se, numa dança cósmica de amor, sexo, alegria, ternura, júbilo, CRIAÇÃO e VIDA! Já não sabiam mais quem era Gaiaysha e quem era Ícaro!

Eram o próprio amor, o instinto sexual, a criação, o criador, o sol, as estrelas, a lua, o mar, a própria vida, na sua mais plena e bela expressão e manifestação criativa! ...o ventre de Gaiaysha se mostrava cheio de amor, alegria, criação, serenidade e de VIDA!

Repentinamente, um brilho de luar envolveu a "Sala dos Sonhos"... Os vultos dos sonhos sonhados por outros sonhadores apareciam tênues, mas brilhantes, como o lusco-fusco das estrelas. No ar, a atmosfera de algo a ser anunciado solenemente...

Agora, Ícaro e Gaiaysha acarinhavam e acolhiam enternecidos e embevecidos Ikalu, o filho das estrelas que povoam os sonhos dos amantes oníricos.

Emocionados, Gaiaysha e Ícaro tiveram a visão colorida do sonho sonhado na pele feita do barro e muito além dela, lá longe, além do tempo, próximo ao tempo-não-tempo, ao tempo-fora-do-tempo, no limiar da infância da humanidade: o sonho de amor de toda a humanidade!

Nos seus braços - agora como braços de medusas - cabeças de crianças lindas e felizes entregavam-se totalmente a cafunés iridescentes de amor! Era a aurora da nova humanidade, o sonho sonhado por Ícaro e Gaiaysha e todos os seres que os antecederam!



Este sonho foi sonhado "de olhos bem abertos", admirando as esculturas de DORLI SIGNOR, filósofo e escultor, na Maratona de CRIATIVIDADE da ESCOLA GAÚCHA DE BIODANÇA - EGB, na cidade de Santa Maria, RS, no dia 27 de outubro de 2007.

DORLI, obrigada por me proporcionar momentos tão lindos e profundos!

PANTEÃO-GALERIAS - Av Presidente Vargas, 115, Sta Maria, RS


CLIQUE AQUI! ESCOLA GAÚCHA DE BIODANÇA - EGB



Texto revisado por Cris

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