Tempo de morar sozinho
Atualizado dia 6/17/2016 3:56:42 PM em Autoconhecimentopor Adriana Garibaldi
Um encontro sem testemunhas, de você com você e para você, assumindo o papel de observador de si.
De início, provavelmente se sinta um estranho no seu próprio mundo, no mundo que criou ou que a vida parece ter criado para você.
Quem opta por morar sozinho, ou mora sozinho por força das circunstâncias, provavelmente já tenha experimentado essa sensação. A imersão num grande vazio onde antes existiram coisas, pessoas movimentando-lhe a vida, mantendo-o preenchido, ocupado. O barulho das pessoas que completavam os espaços daquele local que chamava de lar dava-lhe a sensação de pertencimento, de que tudo movia-se sempre numa única direção, em torno dos seres queridos e suas necessidades, outorgando sentido às suas ações.
Hoje nos espaços cheios de memórias, você se movimenta em atos sem referência, atividades que mesmo assim necessitam ser realizadas, reaprendendo a considerar novos objetivos em sua realidade sem ter medo do que isso pudesse acarretar pela quebra de seus paradigmas emocionais.
Encontrar um sentido nas coisas que vai fazendo, porque afinal têm que ser feitas, enquanto outras vão sendo deixadas de lado e você se pega questionando. Para quê? Para que fazer ou para quem fazer? Encontrar sentidos parece ser o grande aprendizado de morar sozinho produzindo ações para si. Desaprender o que foi aprendido, as referências que lhe assinalavam que a finalidade daquilo sempre encontrava-se nos outros, nos vínculos familiares, como sendo elas, as pessoas em torno, que dessem o impulso ao movimento de fazer, como se o existir e o fazer estive-se atrelado a elas e não a você.
Referências que construíram sua história e precisam ser reformuladas a partir de um novo começo. Voltando-se agora para si mesmo para aprender a viver sozinho e se descobrir como um ser único, integrado a uma sociedade que, paradoxalmente, começou a se mostrar mais ampla e mais rica a seus olhos, cheia de chamados e de qualidades diferentes, que você precisa estar disposto a conhecer enriquecendo-se com alguns novos estímulos que antes provavelmente nunca foram vistos.
Seu reduto doméstico preenchia todos os departamentos de sua mente e de suas ações, limitadas ao por que e ao para que dos outros.
Morar sozinho é se descobrir dono de suas horas, administrador de seu tempo. Prestar atenção em algumas coisas simples que antes fazia no automático. Um café da manhã caprichado para sentar sozinho e saborear como se fosse o último ou o primeiro. Um banho demorado. Cozinhar para você e ter o prazer de fazê-lo com capricho.
Parece estranho, é como se tivesse mudado de residência mesmo permanecendo sempre no mesmo lugar.
Ver alguns detalhes que antes lhe passavam despercebido.
A tênue claridade matinal entrando pela fresta da janela.
O tamborilar da chuva na vidraça da sala. Pequenas e antigas coisas que lhe parecem novos, nunca vistas.
Antes eram as crianças, os horários da escola, do almoço o jantar. E você ficava atarefada ao ponto de não conseguir ver os detalhes.
O tempo de morar sozinho é o tempo dos detalhes, dos instantes de observação como se a vida tivesse adentrado num espaço silencioso, num meditar constante da vida, das emoções e dos sentimentos. Você se transformou agora, exatamente nisso, num observador da vida, numa testemunha do tempo, de seu tempo.
...O tempo de morar sozinho.
Texto revisado
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