Uma história de amor para todas as idades
Atualizado dia 9/22/2006 9:07:42 PM em Autoconhecimentopor Celso A. Cavalheiro
realmente somos.
Os amores nos fazem ver o quanto somos vulneráveis
E os amigos o quanto somos dependentes.
Mas só os amores despertam o que
temos de melhor
em nós.
E só os amigos nos suportam
quando estamos
apaixonados.
Capítulo 1
Vou contar-lhes a minha história. É uma história de descobertas e de pequenas conquistas que mostram como a gente com boa vontade, com fé e esperança sempre pode transformar tudo à nossa volta. Ela também mostra que a gente nunca está sozinho como às vezes pensamos estar, que sempre há alguém que nos ama e quer nos ajudar a ser feliz. Esta história mostra que é preciso escutar as pessoas ao nosso redor e prestar sempre atenção ao que elas dizem mas que, mesmo assim, devemos procurar sempre dentro de nós mesmos as respostas que tanto queremos.
Minha história começa num momento lá no passado quando eu ainda era triste e sozinho.
Meu nome é Jacó. Sou um gato de rua feio, sem graça. Não enxergo muito bem do meu olho esquerdo e já não sou tão ágil como a maioria dos gatos. Fui abandonado quando era ainda muito pequeno e, embora não seja um gato velho, só estou vivo por pura sorte. Como de vez em quando, pois já não consigo caçar como antes. Infelizmente, gatos não podem trabalhar e os que não conseguem caçar por um motivo ou outro, só vivem de favor e da piedade alheia.
É uma vida triste e difícil. Passo a noite andando solitário pelas ruas, tentando achar alguém que tenha pena de mim. Sou muito magro e desajeitado e acho que é por isso que ninguém me vê com bons olhos.
Fico a maior parte do dia enrodilhado num canto da padaria de seu José esperando que alguém me jogue algum pedaço de pão ou, quem sabe, resolva me adotar. Sei que isso é muito difícil pois as pessoas detestam quem vive na rua, seja gato ou gente.
Outro dia ouvi uma velha gorda, rechonchuda, na padaria do seu José, dizer que não gostava de gatos, que as coisas estavam difíceis e que gatos só fazem sujeira e dão despesas. Quase pisou no meu rabo quando saiu da padaria, com aquele pé-de-bolo, e nem sequer me jogou um pedaço de pão. Saiu sacudindo a bunda gorda e cheia de celulite que mais parecia uma sacola cheia de biscoitos. Algumas pessoas têm raiva de todo mundo até de quem nunca lhes fez mal algum.
Quase nunca acho nada gostoso para comer pelas ruas onde ando e, às vezes, fico horas num canto da padaria comendo farelos de pão que caem ao chão e sonhando com o leite, o iogurte e com aquela salsicha vermelhinha dentro do balcão frigorífico.
Eu acho que as pessoas por aqui gostam muito mais dos cães pois dificilmente encontro algum vira-latas magricela e feio como eu. A maioria deles anda cheirando a talco, bem escovados e fingindo não sentir as pulgas chupando-lhes o sangue. E, quase sempre, estão arrastando uma ‘perua’ perfumada pela guia. No entanto, são muito relaxados. Os coitados fazem cocô em qualquer lugar e nem se dão o trabalho de tapar. Acho que as pessoas que tem cães deveriam carregar um saquinho e uma pá para juntar a sujeira, afinal os cachorros não tem culpa de serem menos inteligentes que nós gatos e precisam que alguém se responsabilize por eles.
Às vezes quando a fome aperta saio pelas calçadas e pátios da vizinhança tentando achar algum grilo para o jantar. Já nem sonho mais com um rato ou camundongo fofinho. Eles são muito rápidos para mim e alguns até me metem medo pois são maiores e bem mais fortes do que eu. Dizem que os ratos trazem doenças mas eu não entendo porque, então, as pessoas deixam lixo jogado nas ruas e nos pátios. Ratos adoram lixo. Bom para alguns gatos fortes que eu conheço, pois para eles nunca falta comida.
Tenho poucos amigos. Passo a maior parte do tempo na padaria.
Seu José faz que não me vê ali e só finge estar zangado quando algum cliente chato se incomoda com a minha presença.
Nos finais de semana, no entanto, as coisas mudam um pouco. As pessoas ficam mais relaxadas, sorriem e se divertem. Brincam umas com as outras e nem parecem as mesmas que passam por mim nos dias de semana quando vão para o trabalho - todas tensas e mal-humoradas. Se não fosse essa fome que me deixa fraco e triste, até diria que algumas delas parecem mais infelizes do que eu.
Eu gosto mesmo é das crianças que nunca ficam de mau humor e nem estressadas. Eu acho que se fosse pelas crianças não haveria fome nem tristeza no mundo e nenhum gato ficaria sem casa.
Bem, isso não é bem verdade, pois outro dia um menino meio maluco me apanhou no meio da rua, colocou-me dentro da jaqueta dele e me levou para sua casa. A mãe dele não viu nada. Ele me deixou num quartinho escuro e fedorento nos fundos do pátio e me pediu que ficasse bem quietinho, que mais tarde ele me levaria água e comida. Fiquei horas esperando e quase morri de cede e fome. Até que resolvi pular uma janela e fugir para rua de novo. Algumas crianças, às vezes, agem como adultos e não cumprem o que prometem.
A minha vida não tem sido fácil, não. Mas nem sempre foi assim. Quando eu nasci tinha uma bela família: pai, mãe e um montão de irmãos. Um gato velho e cansado que mora perto da padaria conheceu minha família e, quando está disposto, costuma contar-me sobre ela. Eu adoro ouvir suas histórias.
Capítulo 2
Meu pai era um gato persa, meio acinzentado, com longos bigodes, olhos azuis e um ar de conquistador barato. Não fazia nada, como quase todo o gato, e vivia uma vida de rei na casa de dona Mariana e seu Valdemar que não tinham filhos e tratavam-no como se fosse gente. Algumas pessoas tratam bicho melhor do que gente. Nós até agradecemos mas não precisa exagerar. Mas meu pai, coitado - dizia Emiliano, o gato velho - era só pose. Os gatos da redondeza costumavam dizer que ele era só pêlo e pose. Criado à beira da lareira no inverno e debaixo de um ventilador de teto barulhento no verão, não se movia nem para assustar os ratos que vinham comer os restos de comida atrás do fogão de dona Mariana. Mas o infeliz, no entanto, tinha muitas fãs. As gatas do bairro, mesmo a mais coquete, corriam atrás dele dia e noite e sonhavam em ficar, ainda que por um instante, perto daqueles olhos azuis e daquele pelo fofinho. Amado pelas gatas mas odiado pelos outros gatos da redondeza que se sentiam traídos, meu pai foi vivendo sua vidinha mansa e preguiçosa até que um dia conheceu mamãe.
Mamãe era uma gata forte e metida à besta, cruza de “não-sei-o-quê” com raça nenhuma. Diziam, no entanto, que era muito bonita. Tinha um pêlo negro que refletia à luz da lua e dava-lhe um tom azulado. Tinha olhos repuxados de gato de madame e um ar altivo de princesa. Caminhava como se fosse em busca do horizonte sem descer a cabeça nem por um instante. Tinha fama de ser difícil e, até aquele dia, nenhum gato tinha tido a sorte de chegar muito perto dela.
Uma tarde, no entanto, quando passeava em cima do muro de dona Mariana, toda faceira, enxergou meu pai deitado.
Texto revisado por Cris
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