Upanishades: Nachiketas e a Morte
Autor Marcos Spagnuolo Souza
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 1/26/2008 7:05:39 PM
Nachiketas depois de morto teve que esperar três noites sem alimento na morada de Yama, o deus da morte. Nachiketas ao ser recebido por Yama ressalta a imprudência de Yama por não ter dado hospitalidade a um brâmane e devido à imprudência no ato de receber um brâmane a pessoa perde as esperanças de futuro, os méritos do passado, as posses do presente incluindo os filhos e todos os seus haveres.
Yama dirigindo a Nachiketas salienta: “Uma vez que vieste à minha morada como hóspede sagrado e, por três noites, não recebeu hospitalidade, escolhe, pois, três dádivas”.
Primeira dádiva escolhida por Nachiketas: “Que a ira do meu pai se acalme e que ele se lembre de mim e me receba bem quando regressar para ele”.
A morte prometeu a Nachiketas que seu pai lembraria dele, o amará como antes e as noites do seu pai será um doce sono.
Segunda dádiva escolhida por Nachiketas: “No céu não há temor, velhice e morte. Os bons, tendo ultrapassado a velhice e a morte ficando felizes no céu, para além da fome, da sede e da dor. Todos que estão no céu alcançam à imortalidade. Explique o fogo sagrado que conduz ao céu”.
A morte salienta que esse fogo é o meio de alcançar os mundos infinitos está escondido no canto secreto do coração. Todo aquele que acender este fogo sagrado vencerá a vida e a morte. Todo aquele que constrói o altar para o sacrifício do fogo, e executa o sacrifício expulsa a morte e, vencendo a amargura, vai encontrar a alegria nas regiões do céu.
Terceira dádiva escolhida por Nachiketas: “Quando um homem morre, levanta-se a dúvida: uns dizem que ‘ele é’ e outros dizem que ‘ele não é’. Diz-me a verdade”.
A morte salienta: “que em tempos de antanho, até os deuses tinham está dúvida; porque misteriosa é a lei da vida e da morte. Leva cavalos, ouro, gado, elefante, escolhe filhos e netos que viverão até cem anos, extensões de terra e viva tantos anos quantos desejares. Pede o que quer que seja do mundo dos mortais, por mais difícil que possa ser de obter. Para te servir, dar-te-ei virgens louras, com coches e instrumentos musicais. Mas não peças os segredos da morte”.
Nachiketas responde a morte: “Todos esses prazeres se desvanecem e na verdade a vida é muito curta. Guarda os teus cavalos e danças e cantares. O homem não pode satisfazer-se com a riqueza. Só posso pedir à dádiva que já pedi. Quando, aqui na Terra, um mortal sentir a sua própria imortalidade não ficará preso pela luxúria da beleza enganosa. Concede-me a graça que desvenda o mistério. É a única dádiva que Nachiketas pode pedir”.
A morte diz: “Há o caminho do júbilo e o caminho do prazer. Ambos atraem a alma. Todo aquele que segue o caminho do júbilo vai bem; todo aquele que segue o prazer não alcança o fim. Os dois caminhos estendem-se perante o homem. O homem sábio escolhe o caminho do júbilo; o louco toma o caminho do prazer. Há o caminho da sabedoria e o caminho da ignorância. Estão bem distantes e levam aos diferentes fins. Vivendo no meio da ignorância, julgando-se sábios e cultos, os loucos vão, sem sentido, para um e outro lado, como cegos conduzidos por outros cegos. O que fica para além da vida não brilha para aqueles que são acriançados, ou descuidados, ou iludidos pela riqueza. Poucos os que ouvem falar do caminho que fica além da vida; e desses, só poucos o alcançam. Maravilha é todo aquele que pode ensinar a respeito do referido caminho; e sábio é todo aquele que se deixa ensinar. Maravilha é todo aquele que, quando ensinado, o reconhece. O caminho não pode ser ensinado por alguém que o não tenha alcançado; e não pode ser alcançado através do muito pensar. O caminho até Ele é através de um mestre que o tenha reconhecido: ele está mais elevado que os mais elevados pensamentos; na verdade, acima de todos os pensamentos. Este conhecimento sagrado não é atingido pelo raciocínio; mas pode ser transmitido por um mestre verdadeiro. Como o teu propósito é firme, já o encontraste. Assim eu posso encontrar outro aluno como tu! Eu sei que os tesouros se desaparecem e que o Eterno não é alcançado pelo transitório. Assim armai o fogo do sacrifício e, queima nele tudo que é transitório, alcançando assim o Eterno. Quando o sábio descansa o espírito na contemplação do nosso Deus que está fora do tempo e que é invisivelmente se ocupa do mistério das coisas e do coração dos homens, então esse se eleva acima dos prazeres e pesares”.
Nachiketas dirigindo-se a morte diz: “Dize-me o que pensas para além do bem e do mal, para além do que se faz ou não se faz, para além do passado e do futuro”.
A morte responde: “Dir-te-ei a Palavra que todos os Vedas glorificam, todos os auto-sacrifícios exprimem, todos os estudos sagrados e vidas santas procuram. Essa Palavra é ‘OM’. Quando a palavra sagrada é conhecida, todos os anseios são satisfeitos. É o meio supremo de salvação; é o supremo amparo. Quando a grandiosa Palavra é conhecida, então se torna grande no céu de Deus. A alma nunca nasce e nunca morre. A alma é nunca nascida e eterna, fora do tempo, passado ou futuro, ela não morre quando morre o corpo. Encerrado no coração de todos os seres está a Alma; menor que o menor átomo, maior que os vastos espaços. Todo o homem que capitula da sua vontade humana deixa as tristezas para trás e, pela graça do Criador, contempla a glória de Deus. Quando os sábios compreendem o Deus onipresente que permanece invisível no visível e permanente no não permanente, então ultrapassa a tristeza. Deus não é alcançado nem por meio de muitos estudos, nem por meio do intelecto ou dos estudos sagrados. É alcançado por aqueles por ele escolhido porque o escolheram a ele. Ao seu escolhido Deus revela a sua glória. Deus nem através de um conhecimento profundo pode ser alcançado, a menos que os caminhos do mal sejam abandonados e que haja descanso dos sentidos, concentração do espírito e paz no coração. A majestade do poder de Deus vence sacerdotes e guerreiros, e a própria morte é vencida”. (Bibliografia: Os Upanishades)
Sentido do mito: podemos deparar nove sentidos para o referido mito. Primeiro sentido: nenhum sacrifício material é justificável para atingir Deus. Segundo sentido: a alma sobrevive ao corpo e torna a nascer em outro corpo depois da morte do corpo anterior. Terceiro sentido: ofender ao Mestre Espiritual acarreta um pesado karma, pois, o Mestre Espiritual é uma manifestação de Deus na Terra. Quarto sentido: o pedido ao Mestre Espiritual se concretiza. Quinto sentido: o meio para atingir o Universo Eterno é oferecer sacrifício no fogo sagrado, isto é, queimar todos os desejos. O único sacrifício aceito por Deus é o abandono de todos os apegos e desejos. Sexto sentido: existem dois caminhos, o caminho do desapego a tudo que é relativo e o viver no apego. O caminho do desapego leva a eternidade e o caminho do apego leva a mutabilidade da alma por diversos corpos físicos. Sétimo sentido: cantar o mantra sagrado “OM” que é o corpo sonoro de Deus. É o som do infinito. Escutar o som “OM” é como escutar o próprio Deus. Oitavo sentido: a alma totalmente desapegada penetra no reino eterno e não renasce mais no corpo físico. Nono sentido: Deus aproxima de quem aproxima Dele.
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