Você é uma pessoa do bem?
Atualizado dia 1/11/2017 11:03:46 AM em Autoconhecimentopor Flávio Bastos
Sigmund Freud registra que não é de admirar que os homens tenham se acostumado a moderar suas reivindicações de felicidade: "Na verdade, o próprio princípio do prazer, sob a influência do mundo externo, transformou-se no mais modesto princípio de realidade". Assim, um indivíduo pode pensar ser feliz, simplesmente porque sobreviveu ao pior.
Espanta-nos a resignação de tantos desafortunados que, habituados à luta de evitar ainda mais sofrimentos, não priorizam obtenção do prazer. (Mal) disfarçadamente, se comprazem ao relatar um caso de pandemia, duma falência, da queda de um avião e proferem de cor a máxima: "antes pobre com saúde...". Desconfiados, ao se depararem com um rico saudável, sentenciam: "não deve ser feliz".
Evita-se sofrimento mantendo distância das pessoas, se isolando. Mas a felicidade passível de ser alcançada assim é apenas a da quietude. Não convivem. Freud aponta o que considera mais plausível: "tornar-se membro da comunidade humana e, com o auxílio de uma técnica orientada pela ciência (entenda-se trabalho), passar para o ataque à natureza e sujeitá-la à vontade humana". Eis a razão pela qual a civilização tanto dignifica o trabalho: estamos com todos, para o bem de todos.
Os dicionários se dividem ou se repetem na conceituação da palavra "bem". No entanto, numa olhada mais cuidadosa pela internet, percebemos que tal conceito encontra-se implícito nas palavras do Papa Francisco, uma referência por ser a autoridade máxima da Igreja Católica. Mas o que nos diz o Sumo Pontífice? É o que veremos a seguir.
Para fazer o bem, Francisco indicou várias opções simples, contidas nas palavras do profeta Isaías: procurar justiça, socorrer o oprimido, fazer justiça ao órfão e defender a causa da viúva, ou seja, ir para onde estão as chagas da humanidade, onde há dor.
Quando veio ao Brasil, em 2013, Francisco afirmou que os brasileiros podem "dar ao mundo uma grande lição de solidariedade", e pediu "aos que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social, que não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário".
E concluiu: "Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de pacificação será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma".
A fala do Papa no Brasil, agrega os conceitos de bem comum, numa visão moderna e direcionada ao social como base para o estabelecimento do bem-estar, a felicidade e a paz, que está relacionado com o ideal de progresso que todas as sociedades e nações do mundo devem alcançar, através da igualdade social e econômica, onde todos possam ter melhores condições de vida. Nesta direção, Freud e Francisco sintonizam numa mesma percepção de felicidade possível a partir do social.
Por outro lado, afirmam os reencarnacionistas que temos a "semente" do bem que encontra-se latente em nossa inconsciência, e que as nossas escolhas em vida determinarão se essa semente irá germinar e desenvolver. Nesta lógica, uma parábola oriental nos ajuda a refletir sobre o bem e o mal.
O discípulo perguntou ao mestre zen: "Como posso distinguir o bem do mal"? "Eis uma pergunta tola. Reflita e me responda você mesmo", disse o mestre. Depois de refletir, disse o discípulo: "É muito simples, tudo aquilo que é capaz de destruir as coisas feitas com amor, é considerado o mal". "Você já viu um tigre? Quando ele sai em busca de comida para os seus filhos e encontra na floresta uma bela corça, fruto do amor de seus pais, ele não a devora assim mesmo"? "Sinto-me confuso", disse o discípulo. O que vai contra a nossa natureza é o mal", respondeu o mestre. "todo o resto é o bem".
Podemos concluir que o mal é a ausência do bem em nós mesmos, ou seja, regamos a semente que mais compatibiliza com o nosso caráter, segundo as intenções que orientam o livre arbítrio. E por aí vamos pelo ciclo das reencarnações, evoluindo com a prática consciente do bem e paralisando o processo quando a prática do mal predomina em nossa experiência física.
Portanto, o conceito moderno de "pessoa do bem" está vinculado ao de bem comum, de solidariedade e fraternidade, onde o "eu" perde a sua exagerada importância diante do "nós". É o "outro e o todo" que se ressignificam no sentido de compreendermos a dinâmica natural do universo, no qual somos mais um ser que pensa, aprende e busca a felicidade possível. Este caminho passa pela "cidadania", que é um conjunto de direito e deveres pelos quais o cidadão está sujeito em relação à sociedade como um todo. Assim, ser cidadão é ser consciente, exercendo a cidadania no dia a dia. Esse conceito é muito mais amplo de que possa parecer e compreende noções importantes de ética e moral. A cidadania precisa ser exercida de modo consciente, isto é, com indivíduos cumprindo suas obrigações e possibilitando aos outros exercitarem os seus direitos.
Independente da condição financeira, o cidadão consciente é aquele que compreende a sua importância no contexto do mundo que habita. Quanto mais cidadãos conscientes -ou do bem- mais progresso e bem-estar social, por isso é muito importante promover e incentivar as ações educativas para a comunidade no que diz respeito à construção de uma consciência crítica e transformadora no pleno exercício da cidadania em um estado democrático de direito.
Texto revisado
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Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |