Voltar a ser criança
Atualizado dia 05/05/2016 16:36:42 em Autoconhecimentopor Paulo Tavares de Souza
Desde muito pequeno, ouço essa história e confesso que demorou muito para conseguir encontrar a lógica desta afirmação. O que existe de tão especial assim nas crianças? A inocência? Seria isso suficiente para credenciar alguém para entrar no Reino dos Céus?
A resposta para essas indagações surgiram como um insight que irei compartilhar com vocês.
Fazendo um estudo sobre o preconceito, percebi que todo ser humano é preconceituoso, pois temos conceitos pré-estabelecidos para tudo. Se formos apresentados a um médico, uma postura e uma condição de respeito já surgem de forma automática, pois o conceito está pronto dentro da gente. “Estamos diante de um doutor, alguém que estudou muito e pode curar as pessoas”, é inevitável conter a admiração. De outra forma, diante de um delegado de polícia, a maneira de nos comportarmos será completamente diferente, pois existem outros componentes emocionais determinando nossas reações, é comum nos sentirmos constrangidos e muitas vezes nos tornarmos apreensivos, assim por diante.
Para a criança não existe isso, a criança não tem conceitos prontos, ou seja, a criança não é preconceituosa, não exalta nem teme aqueles que se aproximam dela, envolve-se com todos da mesma forma, sem elaborar distinções, sem classificar, julgar ou segregar ninguém de pronto, não é interesseira e nem irá prejulgar ninguém, quer apenas sentir e, como explica o psicólogo D. W. Winicott, transformar a realidade em brincadeira.
Infelizmente, não somos mais crianças, seguimos um programa de crenças e valores, construído sob influência do meio em que fomos criados e não percebemos que essa programação conspira contra o nosso bem estar; Tratamos o outro de acordo com as nossas convicções e, com isso, passamos a viver de forma gregária, excludente e tribal, procurando apenas a companhia daqueles que se afinam conosco.
Aprendemos, a partir da influência do mundo, a nos afastarmos daqueles que não se ajustam aos nossos padrões internos e passamos a julgar o comportamento do outro de forma automática. Deixamos de ser criança e nos tornamos robôs programados. Como nos ensinou um brilhante psicólogo: nascemos únicos e nos tornamos cópias.
O Galileu sempre esteve certo e demorei muito para compreendê-lo, percebi que a única forma de libertar-se dessa condição é despertando a criança interior, olhar o mundo com a mesma leveza de um menino e voltar a brincar.
A criança não está em guerra com o mundo, não quer administrar, controlar, mudar ou combater nada, quer apenas testemunhar o mundo que a conduz, como uma folha que cai da árvore e é conduzida pelo riacho. Assim sendo, a criança entende o mundo como uma brincadeira e é, justamente desta forma, que ele deveria se encarado. O mundo é a representação de um jogo criado pelo Absoluto, feito para nos divertirmos e não para problematizarmos o tempo todo.
A criança é um exemplo de fé, de resignação, de aceitação, de tolerância e revela uma profunda integração com a Natureza. Por isso Jesus ensina:
"Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”. Mt 18:3
Texto revisado
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