A Experiência Mística
Atualizado dia 21/03/2013 12:59:47 em Corpo e Mentepor Renato Mayol
A experiência mística é tida por alguns como uma alucinação causada por algo que afeta o cérebro e tal suposição é baseada em alguns achados da neurociência que correlacionam imagens da atividade do cérebro com certos comportamentos. Mas um estado mental não é igual a um estado cerebral e a consciência não está subordinada ao cérebro.
Há casos onde o cérebro é completamente afetado por graves processos infecciosos, mas os pensamentos não são afetados. E também há casos de doentes graves e em coma a quem lhes é prognosticado pouco tempo de vida e que, de repente, saem do coma e contam que “do lado de lá” souberam quem eram e sentiram um amor incondicional e resolveram retornar, recuperando-se com a cura total da sua doença, para darem o seu testemunho. Também há os gêmeos univitelinos que não pensam e nem agem exatamente do mesmo modo - cada um tem a sua própria personalidade. E há vários casos de regressão hipnótica a vidas passadas, comprovados por pesquisadores de diferentes universidades, indicando que recordações podem ser preservadas de uma vida para outra, mesmo quando o cérebro não mais existe. Portanto, nós não somos apenas nossos cérebros.
O cérebro pode fazer com que seja criada a sensação da individualidade, mas se conseguirmos fazer com que o cérebro pare momentaneamente de processar as informações que vem do meio ambiente, algo acontece no silêncio interior, algo que nos inunda com um conhecimento transcendental. E é essa experiência mística que distingue os iluminados daqueles intelectuais que têm tão somente o árido acumulo de informações.
Assim, Tomás de Aquino, o Doutor Angélico da Igreja, mestre de filosofia e teólogo, que se empenhou em defender e justificar os açoites, a tortura e a pena de morte durante a Inquisição Medieval e que tentou provar a existência de Deus através de elaborados malabarismos intelectuais, após se dedicar por mais de 20 anos à sua “Suma Teológica”, onde tentou conciliar os filósofos gregos com os teólogos cristãos, ao ser agraciado com uma experiência mística disse que todos os seus volumosos escritos eram absolutamente nada perto do que havia apreendido pela experiência com o desconhecido. E essa experiência ele não tinha como expressar.
Porém, algumas pistas nos foram legadas por alguns homens que, agraciados com a consciência cósmica pela experiência mística, abandonaram as luzes fugazes para se recolherem no silêncio interior, longe do esfervilhar de uma sociedade onde, em essência, o tudo é absolutamente nada e, como tal, qualquer espaço que esse tudo possa ocupar irá valer sempre nada.
Entre aqueles que tiveram uma experiência da Unidade encontra-se João de Yepes, que nasceu na Espanha e se tornou conhecido como João da Cruz. Com seu exemplo de vida e seus escritos espirituais, João da Cruz ultrapassou os limites do tempo e espaço, indicando o caminho a ser seguido por aqueles que decidem iniciar a caminhada que leva à união indescritível com o Todo. Assim, é dele a frase: “A alma que fica presa ao sabor dos prazeres perde a sua liberdade”. De fato, o livre-arbítrio total é perdido no momento exato em que é exercido, pois quem o exerce fica preso à escolha que fez e às suas consequências.
Igual a João da Cruz, também João Bernardone, nascido em 1182, em Assis na Itália, renunciou a todos os seus bens e fez voto de pobreza absoluta, pregando a pureza espiritual, o desprendimento dos bens terrenos e a identificação com os sentimentos de paz e de harmonia. O seu Amor revelava a unidade entre tudo e todos, unindo toda a criação. Ficou conhecido como Francisco de Assis. Francisco renunciou a qualquer tipo de vaidade, à futilidade e ao mundo, ficando no mundo, mas sem pertencer ao mundo para não se tornar vítima do mundo. Mundo esse orquestrado por feitores que querem que não se questione nada e que se deem apenas as respostas que eles esperam que sejam dadas. É a maquiavélica manipulação do cérebro formando exércitos de mortos-vivos.
Também preocupado não com as riquezas e o corpo, mas com a alma, foi Sócrates, que considerava divina a sua missão de despertar os homens do torpor em que vivem. Torpor causado pelo apego às fúteis coisas terrenas que levam à escravidão da alma.
É interessante constatar que aqueles que vivenciam a experiência mística, independendo de quão separados geograficamente, ou de quão distantes no tempo, todos têm em comum a sobriedade de costumes e de hábitos, a rejeição a qualquer tipo de violência e o desapego das distrações e desejos da vida diária. E todos dela regressam com os mesmos ensinamentos para auxiliar os buscadores a catalisarem seu próprio encontro com a Força Criadora, pois cada um deve por si mesmo tentar se salvar, e isso só acontecerá quando for alcançado o êxtase místico ou, segundo Immanuel Kant, a iluminação filosófica. E nessa jornada do “Conhece-te a ti mesmo”, uma das perguntas que cada homem deveria fazer a si mesmo é: “O que foi que eu fiz para merecer nascer nessa Terra como ser humano?”.
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