A lição da tartaruga: desacelere, viva mais e melhor
Autor Ton Alves
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 09/07/2014 22:55:54
“Quanto mais faço, mais quero e preciso fazer.” Isto é o que ouço, quase sempre, das pessoas que me pedem ajuda para se livrarem de uma compulsão. É esse sentimento a raiz de todos os vícios que afastam o ser humano de sua essência, e consequentemente, da sua paz original.
Quando a gente se conscientiza dos males que vêm dessas manias, fica fácil combatê-las. Mas o pior é quando esse sentimento se torna um jeito de todo mundo tocar a vida. A gente se vicia, ou pelo menos tenta parecer viciado, para ficar igual a todo mundo, para não ser considerado um “esquisito”.
Uma mania desse tipo e que virou moda nos últimos tempos é a tal da pressa, a correria cotidiana. Estar apressado é até chique, é uma forma de parecer moderno, dinâmico, antenado e necessário. É estar igual a todo mundo. Afinal, a velocidade é o novo ópio do mundo ocidentalizado.
A incrível parafernália de aparelhos cada vez menores e mais cheios de funções quase sempre supérfluas não ajuda. Ao contrário, agrega mais necessidades e consome, ainda mais o tempo. Não há espaço para “ser” consigo mesmo. Tudo é falsamente grupal.
A sensação é a de que os ponteiros do relógio passaram a andar mais depressa. Aliás, os relógios nem mais tem ponteiros. São números que se sucedem apressadamente ditando o ritmo da vida. E a gente está sempre atrasada. Mas, atrasado para que? Para não sentir a vida acontecer com sua infinita beleza e sabedoria? Para não viver em toda a plenitude, enfim.
Estudos sérios confirmam que a pressa, geralmente injustificada, é o “mal do século”. A correria mina a saúde, desgasta as energias, provoca doenças físicas e mentais. Com isso, encurta a vida.
Mas não é só agora que a sabedoria humana descobriu essa verdade. Há milênios, as grandes tradições filosóficas e espirituais da Humanidade vêm ensinando, através de metáforas, parábolas e lendas a inutilidade e a malignidade da pressa.
Na tradição zen-budista, há o conto da lebre e a tartaruga. Tipos antagônicos quando se fala em velocidade. A lebre, ligeira e apressada, chega primeiro ao destino, e extenuada tem que aprender a lição da espera para os que se adiantam ao momento certo. A tartaruga percorre o mesmo caminho, com um desgaste mínimo e usufrui do mesmo banquete na hora certa.
Mas, desacelerar é possível, neste mundo da pressa?
É sim, garantem os mestres. E toda a natureza faz coro ao ensinamento dos sábios. A germinação da semente tem seu tempo certo. A gestação dos mamíferos, o amadurecer do fruto, o curso das estações. Não podem ser apressados. Se forem forçados a assumir um ritmo diferente do natural não acontece ou resulta numa aberração.
E como desacelerar sem abandonar tudo, sem deixar a vida profissional, social e familiar? Como mudar o ritmo de tudo sem “ficar por fora”, sem ficar para trás? E as necessidades do dia a dia? Desacelerar é virar um eremita, um recluso? Não. Não é bem assim.
Desacelerar é retomar o ritmo normal da vida. E, para isto, deixar de lado as imposições das superficialidades. Preciso mesmo disto? Preciso mesmo fazer isto? Preciso fazer isto com essa velocidade? Qual é, enfim, a razão real da minha pressa? Estas são as perguntas que devemos fazer a nos mesmos a todo instante.
Se existe uma razão para a correria é porque faltam planejamento e austeridade na escolha das prioridades. Se a gente fizer apenas e somente o que realmente importa, o tempo que temos à nossa disposição é mais que suficiente. Preste a atenção e verá.
Se a gente se despojar de um monte enorme de “necessidades” impostas por quem ou o que está fora de nossa vida, sobra tempo para a gente mesmo. E, na verdade, tomar conta de si mesmo é a mais importante e mais essencial missão da nossa vida.
Só dando importância ao que somos e ao que queremos, de verdade, viveremos mais e melhor. E quem vive mais e melhor tem mais condições de praticar a bondade e o amor a tudo que está ao seu redor.
Experimente!
Ton Alves
Avaliação: 5 | Votos: 7
Ton Alves é coordenador do Projeto CASULO DE LUZ de incentivo à prática da MEDITAÇÃO HOLOMÍSTICA TRANSRELIGIOSA (MHT), baseada no exercício do silêncio interior, na contínua atenção ao instante presente e no amplo cuidado com as várias dimensões da realidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Corpo e Mente clicando aqui. |