A Recuperação como um Processo de Autoamor
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Autor Willes S. Geaquinto
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 12/14/2013 12:13:40 PM
A Recuperação como um Processo de Autoamor
Recentemente numa atividade motivacional na Comunidade Terapêutica de Recuperação Novo Caminho, em Varginha, onde presto ofício voluntário, quando cogitava sobre o que deveria referenciar profundamente um processo de recuperação ou de transformação existencial, veio à tona a seguinte reflexão: Sabemos muito pouco sobre o amor. Não somos “ensinados, instruídos” ou estimulados a pensar sobre o amor, saber mais sobre o amor. Existem diversos estereótipos que nominamos como sendo amor. Novelas, filmes e peças teatrais, em suas mais diferentes abordagens tentam traduzir, muitas vezes de forma equivocada, o que seria o amor. São inúmeras as associações feitas com o amor: sexo, posse, necessidade, romance, casamento etc. Até o sofrimento é associado ao amor. Porém, não possuímos uma definição exata do que seja, verdadeiramente, amor. E, em virtude desse desconhecimento, a maioria das pessoas vive “carente” de amor.
Ao longo do tempo, baseado, principalmente, no ensinamento cristão, fomos instruídos a “amar o próximo como a nós mesmos”, mas, pouco nos informaram sobre como amar a nós mesmos. Aliás, “amar a si mesmo” foi, durante muito tempo, condenado e equivocadamente interpretado como egoísmo, egocentrismo e outros adjetivos similares quando, em verdade, o autoamor é o cerne de todo aprendizado amoroso, inicialmente em relação a si mesmo e, consequentemente, em relação aos outros. O autoamor é algo tão profundo que poucos o conseguem atingir plenamente, pois requer, além do esmero em se autoconhecer e condutas contínuas de valorização de si mesmo, uma postura amorosa que contemple os seus iguais. O autoamor é elemento fundamental em nosso processo de autoaperfeiçoamento moral e afetivo. Porquanto a qualidade do afeto que dedicamos ou dedicaremos aos outros, inevitavelmente, estará sempre ligada ao amor que dedicamos a nós mesmos.
Conhecemos muito do “amor condicional”, aquele que é dado em troca de algo ou pelo reconhecimento de algum feito, mas ignoramos quase que totalmente, o amor incondicional, cujo exemplo mais forte é aquele que pais e filhos saudáveis têm e trocam entre si. Ou o que chamo de “amor humanitário”, aquele que alguns indivíduos dedicam aos seus semelhantes, pelo simples fato deles serem criaturas humanas iguais, e que se revela quando, de alguma maneira, compartilham solidariamente seu afeto.
Visto desta maneira, chegamos à conclusão de que “amor é afeto”. Toda demonstração afetiva contém o amor. Não há complexidade, quando você percebe o amor como afeto, não há como confundir algo que não é afetivo com amor. Embora alguns tentem adjetivar o amor, ele é inconfundivelmente substantivo, está circunscrito a uma polaridade única: é positivo, saudável, gera harmonia, sobriedade, crescimento, prazer, satisfação, alegria, estados de felicidade. Dito, assim, pode parecer demasiadamente simples, mas, para que complicar o que só faz bem? A questão fundamental, talvez seja entender que, o que não representa afeto não é amor, pois, como descrevi no capítulo sobre a afetividade, não somos muito dados à afetividade; sabemos pouco e praticamos menos ainda.
Todo desejo de transformação, incluindo a recuperação – em face dos mais variados tipos de adicção –, passam, necessariamente, pelo resgate do amor por si mesmo, pelo aprendizado e aperfeiçoamento do autoamor. Ninguém que adentra a algum tipo de vício, desconforto ou situações geradoras de desequilíbrio, o faz por amor. Quando o faz é porque está a vivenciar um estado de desamor, de desconforto vivencial, interior, profundo, não está em paz consigo mesmo. É possível que, mesmo inconscientemente, esteja “odiando” a si mesmo, a vida e o mundo.
A autodestruição, alimentada pelo vício, é resultante do desamor, da falta de afeto para consigo mesmo. A recuperação, por sua vez, é um “processo amoroso”, é a busca da “identidade” autoamorosa, perdida pelo indivíduo. Não é plenamente sustentável a recuperação do adicto, quando se cuida somente dos sintomas do seu vício. Por isso é necessário identificar as causas mais profundas que o levaram a perder-se de si mesmo e da sua essência amorosa. E, para o sucesso dessa tarefa, é imprescindível criar, através de uma abordagem cognitiva e transpessoal, as condições pedagógicas para que o adicto se reconheça como indivíduo capaz de superar-se e de aprender ou reaprender a amar a si mesmo. É trabalho árduo, que requer ânimo e persistência, mas, como bem disse o poeta Fernando Pessoa : “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.
Observação: Este é um pequeno fragmento do capítulo Vícios e Autoestima, do meu livro AUTOESTIMA - AFETIVIDADE E TRANSFORMAÇÃO EXISTENCIAL, que deverá ser lançado no início de 2014.
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Willes S. Geaquinto - Psicanalista,Psicoterapeuta, Consultor Motivacional. Trabalha com a Terapia do Renascimento promovendo o resgate da autoestima, o equilíbrio emocional e solução de transtornos, fobias,etc... Palestras e Cursos Motivacionais(relação de palestras no site). Contato: (35) 99917-6943 site: www.viverconsciente.com.b E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Corpo e Mente clicando aqui. |