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A vida não tem sentido porque paramos de sentir

Atualizado dia 15/04/2014 19:53:47 em Corpo e Mente
por Mariana Viktor


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Faz sentido?

Nos orgulhamos de ser racionais, evoluímos muito desde que descemos das árvores de Darwin. O nosso cérebro privilegiado é único em toda a Natureza.

Pensar é a função da mente, ela existe pra fazer conexões, reflexões, criar algo onde nada havia. Inventou o fogo, o avião, o sapato, o botão, a moeda. Médicos têm que pensar pra fazer cirurgias e diagnósticos. Professores precisam refletir pra elaborar suas aulas e, nós, pra aprender tudo o que eles têm pra ensinar.

Por conta desse respeitável currículo do pensar, achamos que essa é a mais nobre função humana, a única que devemos seguir pra nos orientarmos na vida. Já o sentir é burro, ingênuo, não tem utilidade e nos machuca. Gatos escaldados trancam esse departamento, fecham a lojinha e esquecem que um dia tiveram “coração”. Pra que sentir se pensar resolve tudo. Não é assim? Depende.

Não quando o pensar útil se transforma num ruminar desgovernado de pensamentos “sobre a vida”, e desencadeia a pré-ocupação, que é um tentar-antecipar-na-imaginação-e-nas-conclusões-precipitadas. Ficar ruminando dá a falsa sensação de estarmos fazendo alguma coisa sobre. Mas estamos apenas ruminando possibilidades – geralmente ruins, já notou? Ou será que alguém pensa coisas boas enquanto rumina?

- Ah, mas estou me precavendo!

Tudo bem: então, pense num plano A, B, C e D bem prático, que realmente funcione como precaução, CASO o pior aconteça. E depois pare de ruminar. Porque do contrário, você não estará se precavendo, estará ruminando. E ruminar equivale a antecipar problemas, desgraças, conclusões e profecias (sempre negativas). Significa distorcer a função mais nobre da mente, que é a de achar soluções.
Ruminar é, ao contrário, criar problemas que você nem sabe se existirão. E ficar mastigando emoções horríveis: medo, insegurança, tensão, ansiedade, raiva, indecisão, fragilidade, desconfiança, sensação de estar num campo de batalha.

- Ué, mas o pensar sobre a vida só gera emoções ruins?

Já viu alguém “pensar sobre a vida” e ficar feliz? Só quando a pessoa está buscando formas de resolver algum problema e não de criar outros, não é mesmo?
Normalmente, sem vigilância consciente sobre o nosso pensar, o que acontece é que as emoções negativas causadas pelo ruminar acabam tendo consequências muito ruins sobre o nosso agir:

- o medo de errar “de novo” pode paralisar todas as nossas iniciativas;
- a desconfiança sobre a possibilidade de nos magoarmos “mais uma vez” faz com que evitemos novos envolvimentos;
- a preocupação e a consequente tensão gerada por ela roubam nossa clareza para tomar decisões e achar soluções criativas.

Outra função da mente é a de interpretar o que acontece. Diante de um fato presente, ela vai até nosso arquivo de memórias, de experiências vividas – o nosso Google interno –, faz links e conclui por comparação e semelhança. Isso significa que, se não tivermos uma memória e uma linkagem positiva sobre a situação que está acontecendo agora, a tendência é achar que a situação vai se repetir da mesma forma negativa – então já pré-julgamos e ficamos com o pé atrás.

Supondo que certa vez fomos enganados por um vendedor de olhos azuis. Da próxima vez que formos negociar com alguém com essa cor de olhos, o nosso Google interior emitirá um sinal de alerta, deixando-nos desconfiados. Isso acontece porque nosso sistema de proteção e arquivamento de experiências reconhece os olhos azuis como sinal de perigo – e assim nascem os pré-julgamentos e muitas antipatias. Cabe à nossa mente consciente ter a clareza de entender que o fato de estarmos diante de alguém de olhos azuis em situação similar, no presente, não quer dizer que seremos enganados novamente. E, se não estivermos atentos, acabaremos generalizando: “Pessoas de olhos azuis são desonestas”.

Por isso, é muito importante que a gente pense sobre a forma como estamos pensando.

Outro problema de viver ruminando é deixar de sentir (as soluções, as pessoas, a intuição, o a-go-ra). Queremos controlar tudo com o pensamento – até o que não faz parte do departamento do pensar.
Quem nunca deixou de sentir prazer durante o sexo porque os pensamentos ficam pensando coisas realmente desprazerosas, como “será que perderei a ereção?”, “e se ele notar que tenho celulite?”, “não sei se ela está gostando da minha pegada”.

Ou, então, caminhamos na rua pensando e pensando e pensando e pensando... E esses pensares vão se intercalando, se misturando de forma tão caótica, que se fossem projetados numa tela de cinema pra assistirmos mais tarde, ficaríamos assustados com o efeito final – a sensação seria algo como a que causa o filme Koyaanisqatsi, que na linguagem dos índios hopi significa “vida em desequilíbrio” ou "um estado de vida que pede uma outra maneira de se viver”.

Mas quem não pensa é alienado, é o que dizem.

E sentir é arriscado. Sentir causa sofrimento, frustração, desilusão, dor de cotovelo. Pensamos como mecanismo de defesa, como antecipação para não sermos feitos de bobos, para ficarmos espertos, tá ligado?
Verdade.
Mas perceba: são os sentimentos que surgem de pensar sem parar que causam, sim, muito sofrimento, perturbação, culpa, raiva, medo.

Acontece a toda hora: quando pergunto para um cliente o que ele sente sobre tal coisa, ele descreve o que acha. Mas achar é função da mente. O que você sente sobre isso? Ah, não sei, nunca pensei sobre. Mas não é pra pensar sobre, quero que você sinta. O que você sente?

(silêncio...)

Não sei o que sinto.

É por isso que nada tem sentido. Faz sentido?
Se não sabemos o que sentimos, como podemos, nós mesmos, ter sentido - embora tenhamos, e muito?
Não tem sentido = não tem sentir, simples. Já pensou sobre isso? A resposta sempre esteve dentro destas palavras. Como não pensamos nisso, se essa é a coisa mais importante em que precisamos pensar pra que nossa vida não vire... algo sem sentido?

Quando sentimos que nada tem sentido é sinal de que estamos pensando mais do que sentindo. O sentir anda vazio, foi todinho transferido pro andar de cima: a mente. Porque isso é cult, é evoluído, é papo-cabeça, é científico, é prolixo, é filosófico, é bonito, é inteligente, tem conteúdo. Sentir é para os fracos. E lá da cobertura, pensamos controlar tudo. Estamos na torre de comando, comandando... o quê mesmo?
O sentir está tão desligado que perdemos o contato até com nosso corpo. Não sentimos os pés tocando no chão, o corpo em contato com a cadeira, esbarramos nas pessoas, evitamos olhar nos olhos delas dentro do elevador – o que elas vão pensar?
Não sabemos mais do que gostamos. Não sabemos mais o que queremos. E, mesmo quando estamos em férias, não conseguimos sentir o relaxamento merecido, porque estamos pensando nos problemas.

O antídoto?
Volte a sentir. Sinta quem você é. Sinta quem é o outro. Sinta o aqui/agora. Sinta o gosto e o cheiro da sua vida. Sinta a sua intuição. Sinta o seu próprio sorriso. Sinta o que você quer. E o que não quer. O sentir quando vem da conexão conosco mesmo – e não como subproduto da ruminação de pensamentos – é o nosso lugar seguro.

É quem verdadeiramente somos. É onde temos sentido.

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Conteúdo desenvolvido por: Mariana Viktor   
Meu propósito é conduzir você através de uma jornada gostosa e surpreendente para o seu verdadeiro EU, melhorando o seu relacionamento com você mesmo e com os outros. Currículo: http://www.somostodosum.com.br/e.asp?i=13774 Contato para atendimentos individuais ou de casais em crise: [email protected]
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