E POR FALAR EM DESAPEGO...
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Autor Eda Cecíllia Marini
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 04/10/2011 15:29:20
Falar sobre desapego geralmente soa mal: dependendo do ponto de vista, parece complicado, pretensioso, arrogante e até falso e mentiroso. Quem, em sua vida, nunca sofreu por ter que abrir mão de alguém ou de algo que julgava ou sentia ser de estrema importância para si?
Quando crianças, o fato de saber que chegará um novo irmãozinho e que por isso o lugar de "único" deixará de existir, faz sofrer, assim como saber que freqüentar a escolinha exige ficar sozinho e abrir mão do aconchego da mamãe para aprender a caminhar por si próprio. Mais difícil ainda, é aprender a viver em sociedade: emprestar brinquedos (símbolo de domínio pessoal!), dividir a atenção da professora com outras crianças, perder-se na multidão anônima da escola, sendo mais um e não o único. Estes são os primeiros treinos conscientes de desapego: a descoberta que o mundo é muito maior do que o mundo pessoal, e que, para viver nele é preciso soltar-se e caminhar consigo e pelos próprios pés.
Diariamente, somos colocados frente a situações que nos levam a praticar, com bom senso, o desapego. É o modo que a Vida tem de nos ensinar a sermos livres. Libertados de amarras que nos prendem à inércia, na liberdade amadurecemos e enxergamos novos horizontes e oportunidades que antes não notávamos por estarmos confortavelmente presos em situações ou pessoas.
É claro que é muito mais fácil e funcional quando estamos na rotina; automatizamos atitudes e hábitos a tal ponto que, reagimos ou agimos sem perceber, pois tais atitudes e valores já se incorporaram em nós, enraizando-se em nível subconsciente.
Mas, de repente, a Vida nos dá um chacoalhão: ela quer que cresçamos e, se parados, não saímos do lugar. Estes empurrões são proporcionais às nossas necessidades, mas apesar disso, muitas vezes é difícil entendê-los e aceitá-los. É muito comum a indagação angustiada: "Porque eu? Porque comigo?"
Poder. Status social. Perdas de bens materiais, de emprego, de estabilidade financeira nos abalam terrivelmente, pois nos obrigam a nos separar da fonte de nosso conforto e estabilidade. É preciso reduzir despesas, deixar de lado o supérfluo, medir e repensar as necessidades, o que implica em reavaliar valores pessoais e familiares, as verdadeiras amizades.
Implica em praticar o bom senso, a indulgência; em saber relevar e deixar ir tudo e todos que não conseguem se enquadrar na nova realidade. É um momento poderoso de descoberta dos amigos de verdade, e, sobretudo do próprio potencial ético, da força interior, do nível de autoconfiança e da certeza do merecimento pessoal na reestruturação de uma nova arquitetura profissional e financeira.
Desapego é deixar ir, sim, com gratidão pelo que se teve e pela oportunidade de poder e saber empreender novos caminhos.
Envelhecer. Não aceitar o estereótipo social de inutilidade, fragilidade, doença, solidão e medo, mas sim entender a beleza da maturidade, a riqueza das experiências vividas e deixar ir, sem dó e frustração, as idéias amargas da perda da juventude do corpo. Valorizar e praticar os bons hábitos adquiridos na estrada percorrida assim como as novas possibilidades dos novos tempos, do novo corpo, da nova inteligência intelectual e principalmente, a emocional.
Desapego é deixar ir, sim, com gratidão pelo que se teve e pela oportunidade de poder e saber empreender novos caminhos.
Adoecer, perder a saúde e o bem estar físico. O tratamento médico é indispensável como também buscar as causas internas e externas, respeitando os limites do corpo e da alma. Neste caso, o desapego é não se revoltar; é a aceitação humilde e verdadeira da própria humanidade e de suas propriedades: a temporalidade e a mortalidade do corpo físico, o que não significa largar-se, não se cuidar, entregar-se. Isto seria negligência e omissão.
O foco principal é perceber que, apesar de termos em nós o poder divino e suas qualidades inerentes, o controle central ainda escapa de nossas mãos.Graças à nossa imaturidade espiritual e emocional, que nos impedem assumir plenamente o controle de nossa evolução pessoal, não temos a saúde plena em tempo total.
A doença nos fere como uma violenta bofetada, e nos mostra de forma dura e objetiva (embora achemos cruel e injusta) a nossa vulnerabilidade, impotência, ignorância, joga no chão nossa arrogância e até pretensão de sermos diferentes e melhores que o resto do rebanho.
A doença e suas conseqüências e seqüelas são o grande desafio para nossa fé em uma inteligência maior e em sua justiça, embora não a compreendamos. São o teste para o desapego do controle sobre si próprio, sobre a família, sobre os bens materiais, sobre o futuro, sobre a morte e sobre a vida. E, diante da morte, o desafio da aceitação da temporalidade e da mortalidade; da entrega a uma nova etapa ainda desconhecida, permitindo-se deixar ir sem dor ou medo.
Luto. Morte. Dor. A grande perda do familiar querido, principalmente filhos. Dor maior não existe!
A dor da distância, da não presença física, da saudade. Mas é preciso se desligar, deixar ir, entregar à sabedoria do Todo, para que haja evolução, mudança, crescimento, tanto pessoal quanto daquele que passou à outra dimensão.
Perdem-se familiares não só para as a morte e as doenças, mas também para as drogas, insanidade emocional, álcool, maus hábitos, desvios de conduta, e por aí vai. Claro que devemos procurar conciliar e, orientar e buscar a cura para tais males, porém sempre lembrando que nossos entes queridos não são propriedade nossa, mas que tudo o que for feito deverá sê-lo em função de seu crescimento e felicidade pessoais.
Isto é desapego, é deixar ir, sem dor; é amor verdadeiro, que tudo dá sem querer troca. Desapego é deixar ir, sim, com gratidão pelo que se teve e pela oportunidade de poder e saber empreender novos caminhos.
É ato de independência das coisas e seres, permitindo-se e permitindo-lhes caminhar por conta própria; embora se sinta sua ausência, há força para a superação e sobrevivência, na alegria do surgimento de novas oportunidades, relacionamentos e experiências.
É libertação do orgulho, da vaidade, do medo, da arrogância.
Para reflexão:
- Em minha rotina, o que ou quem não estou deixando ir e que se tornou um peso em minha vida, para minha alma e meu corpo?
- O que ganho ou deixo de ganhar com isso?
- Porque preciso disso?
- Ainda preciso disso?
Não desanime e deixe ir... Consciente e amorosamente troque e transforme-se para ter harmonia e luz. Muita paz.
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