Ela só tinha 05 dias para ser o que nasceu para ser.
Autor Alzira
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 9/26/2016 5:44:34 PM
Uma sentença final que veio para revirar seu mundo.
O Espaço Verde estava comprometido.
Precisava defender o que, significava a sua vida.
Naquela situação específica não possuía os recursos para safar-se. Mas também não tinha como procrastinar. Precisava agir rápido.
O peso da idade já atingia seu corpo físico. Doía-lhe os pés, a vista falhava, a audição diminuía. Dos currículos que enviava não recebia resposta. De favores materiais começou a depender.
Não chorava mais, já havia aprendido que lágrimas não resolvem pendências.
JÁ APRENDERA QUE SOMENTE APÓS DECIDIR É QUE AS COISAS COMEÇAVAM A ACONTECER.
Dentro de si guardava um mundo de idéias que ela entendia serem inteiramente viáveis. Se para si eram possíveis poderiam sim, serem realizadas.
SABIA QUE SOMENTE ATITUDES RESOLVEM PENDÊNCIAS.
Com o quê e com quem poderia contar?
Já possuía um acervo significativo de matéria prima.
Simpatizantes diziam que iriam contribuir agregando seus valores.
O período do inverno já terminara, a primavera surgia, magnífica. As flores lhe davam força.
APRENDERA A BUSCAR NAS COISAS REAIS O QUE LHE FORTALECIA NOS MOMENTOS DIFÍCEIS.
Assim como os animais que por ali viviam. Os animais lhe ensinaram muito sobre o fim das lamentações. Em silêncio trabalhavam, em silêncio observavam. Deixavam o universo atuar, faziam apenas o que era possível do instante atual até a hora do repouso. Quando os outros, humanos ou não, destruíam o que tinham construído, simplesmente recomeçavam tudo de novo. Sempre encontravam um outro lugar, um outro parceiro um caminho novo.
MANTINHAM O FOCO NAQUILO QUE NASCERAM PARA SER: CÃO, PÁSSARO, TRAÇA, RATO...
Então decidiu enxergar o Espaço Verde já em pleno funcionamento. Planejou cada centímetro com o máximo de detalhes que conseguia imaginar.
Concentração foi fundamental para espantar os silvos do desânimo.
E começou a desenhar:
Na entrada uma pintura retratando pessoas lendo, dentro de um enorme vaso de flores, com humaninhos sentados nos galhos, usufruindo da sombra das folhas e flores.
Uma estrada estreita ladeada com cercas brancas que às vezes desaparecia no meio de trepadeiras floridas.
Muitas árvores numa grande área gramada, deixavam passar reflexos do nascer do sol.
Só o prazer de percorrer aquele trecho do Espaço Verde - mesmo que só no ato de desenhar e colorir - já compensava a ida até o local.
Bancos confortáveis permitiam paradas para observação da natureza ou leitura silenciosa.
Então, já envolvidos naquela esfera de beleza, paz e quietude se deparavam com o rancho/livraria: um quiosque enorme, arredondado, com varandas e cortinas de estampas floridas. As cores predominantes na decoração eram o rosa e o branco que se davam inteiramente bem com o verde daquela natureza exuberante.
Vários ambientes foram bem dispostos para que os leitores escolhessem o que lhes fossem adequados. Havia livros para para todos os gostos.
No atendimento ficava Dona Rosa, uma culta e sorridente senhora, que vestia um avental e estava sempre atenta na administração das preferências dos leitores.
Os visitantes podiam saborear deliciosos lanches preparados com produtos colhidos no Espaço Verde.
Uma música suave embalava o acolhimento daqueles que por lá passavam.
E assim, os bons pensamentos se apossaram do desânimo que evadiu-se por se sentir indesejado.
UM PENSAMENTO É FORTE O SUFICIENTE PARA CRIAR UMA IMAGEM, ESCOLHA SEMPRE UMA IMAGEM POSITIVA.
Ao olhar para o relógio percebeu que o tempo passara sem pertubações depressivas. Já tinha fixado na mente o desejo final.
Ouvia um constante sussurro que lhe orientava rumo ao caminho traçado. O que precisava fazer era o que tinha nascido para ser: ir em busca do lugar ideal para sentir-se produtiva.
Escrever o que sentia e transformar a escrita numa arma contra o imaginário depressivo.
Repassar todo o conhecimento que havia aprendido.
Ensinar o poder de uma leitura adequada.
Levar o prazer da leitura para os que ainda não puderam usufruir de tamanho benefício.
Levantou-se, de cabeça erguida, lápis e bloco de notas na mão.
Colocou nos pés o tênis velho - o mais confortável - tinha um longo caminho para percorrer: bater de porta em porta.
Retomou sua caminhada rumo ao objetivo determinado. Alguém havia de entender seu coraçao.
Só tinha 05 dias e lhe cortariam o direito de escrever. Não podia arcar com os custos, precisava encontrar palavras certeiras.
Decidiu confiar no que lhe ditava o sussurro: A VIDA EXTERNA DEPENDE DA VIDA INTERNA DE CADA UM DE NÓS. PENSAMENTO VIRA AÇÃO.
Qualquer ação, desde que não seja prejudicial para si mesmo e para outros, trará um resultado.
Se não for como voce sonha, com certeza será um degrau na escala do seu desejo contido, ora exteriorizado.
Saia do lugar, siga, prossiga, insista!
Pra frente, pra cima, pro alto!
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