Meditação e espiritualidade




Autor Marco Moura
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 16/04/2025 07:51:29
O que é mais importante: mudar o mundo ou mudar a mente? Pensando em larga escala, diremos que mudar o mundo seja mais importante. Porém, o mundo é transformado por pessoas e quem rege o comportamento das pessoas é a mente. A mente gerencia o que pensamos, o que falamos e o que fazemos.
Quanto ao mundo, não o conhecemos como ele realmente é, mas como a mente o vê - segundo sua própria interpretação. O que diferencia uma pessoa comum de um sábio iluminado não é viverem em mundos distintos, mas o quão lúcido cada um está diante da realidade. Existem aqueles que estão dormindo e os despertos. Se a vida de alguém segue no piloto automático, durante a maior parte do tempo, sua vida é regida pelo pensamento impulsionado pelo gostar ou desgostar. Nesse sentido, a pessoa está tão identificada com o que o pensamento diz sobre si mesma e sobre o mundo, que ela está praticamente vivendo um sonho produzido pela mente. Ela está em ilusão, dormindo diante da realidade. Quem vive em função de seus pensamentos e impulsos perde a chance de vivenciar a realidade do aqui e agora, pois o comando de sua vida está entregue ao pensamento. Como se tivessem vida própria, os processos mentais vão assumindo o controle sobre o indivíduo, que passa a confiar na versão da realidade que o pensamento apresenta. É como viver diante de uma tela em sua frente projetada pela mente.
Passado, presente e futuro
Note que o pensamento tem tudo a ver com o passado e o futuro, e quase nada de conexão com o presente. A matéria-prima do pensamento são dados registrados na memória que foram coletados, interpretados e se tornaram a estrutura do nosso entendimento de mundo. Continuamente, reconstruímos os dados mais superficiais, enquanto as camadas mais profundas representam opiniões e crenças mais fixas. De todo modo, esses registros formaram-se a partir de condições variáveis e subjetivas, como o estado de ânimo. Certamente, a realidade baseada nos registros do passado não é confiável. Do impulso para o pensamento, vem o impulso para a ação. Sem a habilidade de vivenciar o aqui e agora atentamente, a energia mental é projetada para as memórias e imaginações. Nossa ação acontece no presente, mas o pensamento se fixa em recriações do que foi vivido ou em expectativas sobre o futuro. A cada passo dado, a mente perde a experiência da caminhada.
O pensamento em seu lugar
Tudo isso significa que o pensamento é ruim? De forma alguma. Os pensamentos são necessários, mas se tornam um inconveniente quando vivemos em função deles. Tudo tem o seu lugar e momento apropriado. O pensamento é útil como uma ferramenta da mente, ou seja, quando ele presta serviço à mente e não quando ele se torna o governador da mente. Enquanto ferramenta, ele é funcional; quando se torna dominador, é disfuncional. O pensamento somente assume o controle sobre nós quando estamos desatentos. É quando a energia mental dispersa e se move dentro de um mecanismo condicionado entre registros do passado e projeções futuras. Dentro desse mecanismo, o indivíduo se priva de viver com autenticidade e, seguindo assim, mal pode notar que vive como um zumbi.
A espiritualidade na meditação
Quando se fala em espiritualidade na meditação, isso pouco tem a ver com um entendimento religioso sobre o divino. De preferência, tudo o que se referir a doutrinas e conhecimentos adquiridos deve ser mantido de lado durante a prática. Queira ou não, são conceitos anexados ao pensamento. Espiritualidade refere-se a abandonar a idolatria ao pensamento, a não servir aos propósitos do ego como se fosse seu senhor. Essa liberdade ou liberação mental só é possível quando a atenção plena é recobrada e assumimos o nosso propósito de viver de modo integral, com mente e corpo em uníssono. Precisamos abandonar a densidade do pensamento para mergulharmos na sutileza da alma, por assim dizer. É a renúncia que nos permite imergir na essência do ser e nos conectar à vida original. Outro termo utilizado para esse refinamento da consciência é purificação. Purificar a mente dos três venenos: cobiça, raiva e ignorância. O pensamento, mesmo que positivo, carrega conceitos e contaminantes mentais relacionados à experiência mundana. É preciso distinguir bem o que é válido para o mundo externo e o que serve para o mundo interior. Enquanto seres voltados para o exterior, temos progredido bastante no uso da mente para elaborar conhecimentos técnicos e para solucionar problemas complexos por meio do raciocínio. O pensamento bem direcionado pode produzir todo esse conhecimento útil para a vida mundana. Porém, toda essa elaboração não se aplica ao nosso mundo interior. Nós nos especializamos demais por fora e esquecemos do básico para nutrir o nosso mundo interior: relações humanas saudáveis, conexão com a natureza, harmonia dos ciclos orgânicos etc. Tratamos questões internas como se fossem problemas a serem resolvidos.
Questões básicas do nosso mundo interior, nós tentamos solucionar da mesma forma como fazemos com problemas mundanos, elaborando soluções mentais sofisticadas. Para questões internas, toda essa complicação é um fardo. Precisamos da simplicidade de uma mente presente e atenciosa. Escolhamos estar presentes.
Marco Moura









Conteúdo desenvolvido pelo Autor Marco Moura Marco Moura conduz no Centro Dao de Cultura Oriental (metrô Ana Rosa, São Paulo) práticas voltadas ao desenvolvimento integral do corpo e da mente, por meio do Tai Chi Chuan, Qigong e Meditação Budista. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Corpo e Mente clicando aqui. |