Meditação não faz de ninguém um santo
Autor Ton Alves
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 2/3/2015 5:33:38 PM
Quando um dos rapazes, que praticam meditação integradora conosco, foi descoberto apanhando frutas, às escondidas, no quintal vizinho à nossa chácara, houve quem ficasse muito mais surpreso do que o esperado. Para muitas pessoas, era inadmissível, impossível até, que um meditador já adiantado na prática cometesse uma falta daquelas.
Como percebi um clima de desesperança tomando conta do grupo, provoquei um desabafo e muitos falaram o que estavam sentindo, com bastante sinceridade. “Se uma pessoa pratica meditação, como é que possa haver nela maldade suficiente para roubar? Então, meditar não melhora ninguém?” Era, em síntese, o questionamento geral.
Comecei por explicar, desde o início, o processo que ocorre na mente de quem medita. E conclui dizendo que, pelo simples fato de praticar, mesmo sincera e profundamente, não fazia, como num milagre, uma transformação positiva na vida das pessoas. Não, a meditação, por si só, não faz de ninguém um santo, um Buda, um Cristo!
Meditar é como fazer ginástica. Além de exigir persistência, a meditação exige, de quem a pratica, um desejo enorme de que os benefícios mentais e corporais que conquista, concorram para o bem.
Meditar é treinar a mente a utilizar de todo o potencial existente no íntimo de cada ser. É como descer ao fundo de um poço para descobrir tudo o que há lá. No fundo de todo ser, há as sementes e os germes de todas as possibilidades humanas. É o propósito com o qual a pessoa fez essa descida é que vai determinar o que levará de volta e colocará em destaque na sua vida.
No nosso método, insistimos que não busquemos apenas o poder quase infinito da concentração da mente e da atenção plena. Temos que colocar esse poder a serviço do que se propõem ao realizar este belo e difícil processo. A meditação não termina nem alcança seu objetivo ao encontrar a fonte de luz e vida no nosso interior. Talvez, nesse momento é que comece, verdadeiramente, a tarefa mais pesada da prática: a destinação e o uso correto dessa descoberta.
No Evangelho, há uma passagem em que Jesus lembra aos seus discípulos a necessidade de preparo, mesmo para uma pessoa que pretende atacar alguém. Ou seja, até mesmo um criminoso que resolve planejar um assassinato precisa meditar sobre ele. Daí é que vem a expressão “crime premeditado”. O que quer dizer, um crime para o qual seu executante meditou antes de realizá-lo. O criminoso entrou, dentro de si, analisou suas forças, se conectou com o poder e sabedoria que possui dentro de si e os colocou a serviço do mal.
Também nós utilizamos o mesmo método. Voltamos para nosso interior, acessamos nossa fonte de sabedoria, de força e de vida para dominar a nossa mente. A diferença é, quando a meditação é conduzida com o objetivo de beneficiar todos os seres, não será possível, nunca, usar esse poder a serviço do mal.
Nosso companheiro que roubou as frutos do vizinho tinha a mente afiada, o corpo disposto, a consciência iluminada. Só não tinha prestado a atenção naquilo que trouxera de dentro da sua alma. Com suas qualidades positivas, vieram também negativas. Ele fracassara justamente na parte mais difícil dessa jornada: a volta à superfície do seu ser.
Esqueceu-se, ou não compreendeu bem, a necessidade do amplo controle sobre todo o poder que estava adquirindo diante da fonte primeira do seu ser. Esse é o mesmo poder que é dado ao pesquisador que descobre com sua sabedoria a cura para uma doença. Mas é o mesmo poder do cientista que cria e desenvolve uma arma de destruição em massa.
Mas, então a meditação não concorre, sempre, para o bem? Não. Assim como os estudos, as técnicas e o próprio desenvolvimento filosófico e científico do ser humano, a meditação apenas dá poder, fortalece a pessoa ao revelar a ela todo o potencial que tem dentro de si. Mas não faz dela melhor nem pior do que ela realmente é. Só a faz mais capaz.
Por isso, um método de meditação sem um objetivo, sem uma característica exclusiva e fundamental que o justifique, não é completo. Há métodos de meditação para tudo. Mas nem todos estão, realmente, preocupados com o bem geral de todos os seres.
Não basta descobrir e explorar a fonte de vida e luz que temos em nós. É preciso definir, antecipadamente para onde vamos encaminhar essa energia e em que tarefa a iremos utilizar.
Como um lavrador que, antes de retirar água de um poço, prepara encanamentos que a vão conduzir e vasilhame que irão contê-la. Se uma prática não é movida pelo desejo de gerar o bem pra si e todos, pode servir para qualquer coisa.
Como uma lâmina afiada que tanto pode partir uma fruta para alimentar a muitos ou pode ferir de morte uma quantia ainda maior de pessoas.
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Ton Alves é coordenador do Projeto CASULO DE LUZ de incentivo à prática da MEDITAÇÃO HOLOMÍSTICA TRANSRELIGIOSA (MHT), baseada no exercício do silêncio interior, na contínua atenção ao instante presente e no amplo cuidado com as várias dimensões da realidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Corpo e Mente clicando aqui. |