O Que Se Esconde Na Escuridão
Atualizado dia 17/06/2012 11:11:27 em Corpo e Mentepor Marcelo Hindi
O grande ensaísta e poeta norte-americano Walt Whitman, certa vez respondeu ao seu interlocutor que acabara de questioná-lo a respeito de sua insistência em se contradizer, afirmando algo em um momento e o oposto noutro momento: "Sou imenso, tenho em mim todas as contradições". E assim, com a simplicidade peculiar à sua sabedoria, nos ensina algo de grande importância: os opostos são necessários, um para a existência do outro, e sua natureza mais íntima está totalmente entrelaçada, sendo inseparável. Dia e noite, luz e trevas, vida e morte, início e fim, por exemplo. Se há silêncio é porque há som; e som porque há silêncio. A vida é tão imensa que em si própria ela carrega seu oposto.
A escuridão, por muito tempo considerada representação do indesejável, mostra-se tão essencial quanto à luz, até porque como refletimos, uma sem a outra não se faz possível. Usada em metáforas para representar um dos pólos de dualidades como o bem e o mal, a ignorância e o saber, o medo e a segurança, a escuridão depende de nossa subjetividade e disposição de atribuir significados às coisas, para ter sua existência e utilidade consideradas para além de sua simples natureza física (como ausência de luz). E nossa criatividade, nesse ínterim, pode ganhar asas e participar ativamente da resignificação da obscuridade e da luminosidade.
Toda luta representa uma tentativa de distanciamento do que não é desejável ao mesmo tempo em que há a tentativa de aproximação do que é desejável. A luta é um conflito entre opostos. Se há fome, tenta-se escapar da fome saciando-a: é uma luta contra a fome que, uma vez saciada, proporciona a impressão de que tudo está bem. Se há solidão, tenta-se escapar dela caminhando em direção à companhia, há uma luta contra a solidão; se há medo tenta-se escapar dele, lutando, e procurando por garantias e controle, que, aparentemente, proporcionam segurança. Convencionemos nesses exemplos aquilo a que se procura escapar como sendo a escuridão, e aquilo que se busca alcançar como sendo a luz. Procuramos a luz, rejeitamos a escuridão.
Os opostos parecem inconciliáveis, embora saibamos que são complementares e intrinsecamente entrelaçados, assim, surge a questão: de que modo proceder? Vejamos nos exemplos: a fome não precisa ser combatida, precisa sim ser pacificada, portanto resulta em algo harmonioso se agimos em função de conciliar saciedade e fome, no sentido de buscar equilíbrio entre os opostos, e isso é a síntese. A fome é a tese, a saciedade a antítese, e a harmonia da conciliação é a síntese. A solidão e o medo não precisam ser combatidos - não é necessário lutar contra eles - e sim conciliá-los, pacificá-los. Na escuridão há, em seu âmago, luz. É a própria luz que se esconde na escuridão.
Na solidão, você encontra a delícia de sua própria companhia, e uma vez cessada a luta e com você em paz, toda relação será mais proveitosa e interessante; no medo é possível construir a sabedoria sobre o conflito entre desejo e rejeição, e compreender que nada há a temer, se o apego for pacificado, posto que essa seja a origem de todo o medo, e que a segurança e a garantia está na própria existência, e não em qualquer elemento ou situação transitória e perecível.
Na ocasião da leitura desse texto, amigo leitor, destaco o convite à cessação de toda a luta e a mudança da percepção da contradição como uma inconciliável batalha entre opostos: procuremos a luz na escuridão, a pacificação, a conciliação dos opostos e a paz verdadeira. Duas dicas importantes; a paz já é de sua natureza essencial e esse exercício de conciliação é mais fácil do que parece ser.
Um afetuoso abraço,
Marcelo Hindi - Psicoterapeuta Holístico
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