Saree - Um Poema no Corpo
Atualizado dia 9/30/2012 12:01:31 PM em Corpo e Mentepor Enildes Corrêa
As cerimônias de casamento também são excelentes oportunidades para testemunharmos cenas que parecem sair diretamente do conto das mil e uma noites. As roupas exóticas e belíssimas, os ornamentos, a decoração do ambiente, entre outras coisas, levavam-me a quase não acreditar no que os meus olhos viam. Inundada por aquele panorama de cores e brilho, decisivamente, deixei de lado a cor preta do meu vestuário. Não vi mais nenhum "glamour" no famoso vestido preto básico, super valorizado na moda ocidental. Espontaneamente, desconectei-me dessa preferência.
Na Índia, há alguns costumes que não convém ao visitante infringi-los, por exemplo, a mulher usar roupas curtas, justas ou decotadas, pois poderá ser muito mal entendida. Por outro lado, o costume local oferece, à ocidental, a oportunidade de usar um saree com os lindos adereços: colares, pulseiras, brincos (como são maravilhosos!), tornozeleiras e o bindi entre as sobrancelhas. É uma experiência que vale muito a pena! O traje e os acessórios compõem um estilo tão diferente do que usamos no Ocidente, que suscita-nos novas sensações e até mesmo, percepções diferenciadas, revelando, de surpresa, um ângulo nosso inusitado.
E o saree parece ser capaz de revelar o ângulo mais belo da mulher. Confesso que nunca me senti tão bonita quanto na Índia, vestida com o traje nacional das mulheres, que ressalta a singularidade da expressão feminina. Definitivamente, saree é um poema no corpo. Ao andar pelas ruas movimentadas de Poona, trajando saree, sentia meu corpo traduzir poesia em cada passo, envolta naqueles tecidos macios e esvoaçantes. Festivos comentários do pessoal do bairro onde eu morava não faltavam. Então, usar saree tornava-se uma celebração! Parecia dia de festa, e toda aquela situação fazia-me rir à toa... Um contentamento que vinha de dentro para fora. A leveza e a suavidade da seda, bem como a alegria impressa na cor, pareciam impregnar-se em mim naqueles momentos, como uma magia alcançando as camadas invisíveis do ser.
Na Índia, não impera a cor preta nas vestimentas. Todas as cores da natureza têm seu espaço assegurado e valorizado na moda indiana: o azul do céu, "das vestes dos anjos"; o verde dos mares e das florestas; o alaranjado e o amarelo do sol, das mangas maduras; o rosa das flores dos ipês; o branco do algodão, da neve, das cachoeiras; o vermelho do fogo, das rosas; o lilás dos campos de lavanda; o dourado do ouro; o prateado da lua...
No Ocidente, por outro lado, ultimamente há um predomínio do uso da cor preta nas mais diversas situações. Cor que ainda é associada ao luto. Mesmo a moda infantil está sob a influência desta tendência. Até os uniformes adotados por inúmeras organizações são inteiramente pretos, em sua maioria, inclusive em Cuiabá, apesar das altas temperaturas desta terra. Incluem-se neste caso, lojas de departamento, escritórios, repartições públicas, institutos de beleza, restaurantes etc. Fico a imaginar como se sentem as pessoas que usam roupas pretas durante, praticamente, os sete dias da semana. E o mais agravante, nem sempre por livre-escolha, mas por obrigatoriedade de um uniforme imposto pela organização onde ganham seu sustento.
Que saudade das cores lindas e vibrantes que vemos na Índia! Mesmo nos canteiros de obras, lugar onde predomina o cinza do cimento, do concreto e a frieza do ferro, deparamo-nos com operárias da construção adornadas pelas roupas e enfeites coloridos e brilhantes, como que em oposição à dureza daquele trabalho. E permanecem conectadas com o dom divino, dado por nascimento a toda mulher: o de revelar graciosidade na sua expressão.
Como seria bom se nós, ocidentais, déssemos mais importância ao estudo e à compreensão da psicologia das cores. Quem sabe, nossos olhos encontrariam nas vestes das pessoas muito mais a vivacidade e as nuances das colorações, que fazem tão bem ao sentido da visão e nos reportam à eterna dança da harmonia das cores do Universo.
Após inteirar-me de ensinamentos originais da cultura indiana, pude entender que a explosão de cores e brilho que vemos lá nas celebrações religiosas, nos casamentos, na manifestação artística de vários segmentos, remete-nos à expressão da celebração interna. Como disse-me Kiran Kanakia: "Nós temos de viver de maneira muito celebrativa. Esse é o compromisso de todos nós com a vida. E isso é o que nós temos esquecido".
Namastê!
Texto revisado
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Administradora e Terapeuta Corporal Ayurveda. Formação e especialização na Índia. Ministra palestras e seminários vivenciais a organizações governamentais e privadas. Autora do livro "Vida em Palavras" - coletânea de crônicas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Corpo e Mente clicando aqui. |