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A Admiração que se torna oração...

Atualizado dia 13/10/2016 12:01:09 em Espiritualidade
por Paula Sousa


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Às vezes acontecem coisas estranhas. Passamos por um lugar, por onde passamos centenas de vezes e, de repente, parece ser diferente, novo, cheio de significados, que sequer imaginávamos. É o assombro, a contemplação, o encantamento... A admiração é a irmã da fé. É o grito cheio de surpresa que brota do mais profundo do nosso ser, diante do “mistério” que nos envolve e nos escapa. “Mistério”: este termo remete a “myo”,”fechar os lábios”, onde a pessoa leva a mão à boca para se calar e cede lugar ao ouvir e ao silêncio.
É docilidade à audição que voz que nos habita; é o sussurro que vem da realidade e das coisas, despertando o nosso ser para o espanto, para a maravilha e para o milagre. “Mistério” significa a percepção de algo escondido de uma realidade não-manifestada e não-comunicada. Nesse sentido se pode dizer que a vida humana, as pessoas com quem convivemos, a realidade que nos cerca, o universo, a história... são “mistérios” para nós. Tudo é mistério. “Mistério” não se opõe a conhecimento; não é o que não se pode conhecer de algo. Refere-se, antes, a algo que pode ser conhecido, mas o nosso conhecimento nunca consegue apreender sua totalidade. É o ilimitado do conhecimento. Conhecer mais e mais, entrar em comunhão cada vez mais profunda com a realidade que nos envolve.

Portanto, a expressão “mistério” se refere mais à inesgotabilidade da realidade que à nossa incapacidade de conhecimento. Daí que a atitude diante dessa realidade é a do silêncio, da admiração e do espanto. O mistério nos mantém sempre na admiração até ao fascínio, na surpresa até à exaltação. É a capacidade do ser humano de se comover diante do mistério de todas as coisas. Não é pensar as coisas, mas sentir as coisas tão profundamente que percebemos o mistério fascinante que as habita. Nesse sentido, “mistério” não diz respeito a teorias, a doutrinas; diz respeito antes a uma experiência, a uma vivência que nos invade e nos conduz a caminhos novos. Diante do mistério que desperta a admiração, somos convidados a enxergar além das aparências, a adquirirmos um outro olhar sobre a realidade, a vida e as pessoas. William Blake, poeta inglês, escreveu: “Ver um mundo num grão de areia, um céu estrelado numa flor silvestre, ter o infinito na palma da mão e a eternidade numa hora”.

O mistério irrompe como voz que convida a escutar mais e mais a mensagem que vem de todos os lados, como apelo sedutor para nos mover mais e mais na direção do coração de cada coisa. Ele pertence a uma dimensão humana à qual todos tem acesso, quando vivem em profundidade e conseguem penetrar nos níveis mais profundos da vida. Eis a plenitude da vida: mergulhar naquela Presença benfazeja que nos enche de sentido, de alegria, e nos surpreende a cada momento, sorrindo entre as coisas.


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