A criança emburrada, a gratidão e o Natal



Autor Alex Possato
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 25/12/2012 11:10:35

Ontem, véspera de Natal, recebi um presente que não pode ser pago por nenhum dinheiro do mundo. Subitamente, num único instante, através de uma ligação que minha namorada recebeu, entendi. Entendi com a alma. Fui arrebatado por uma compreensão que vai muito além da lógica: o universo está me conduzindo, passo-a-passo, a cada momento da minha jornada. Ele coloca as pessoas certas, nos lugares certos, nas horas necessárias. E tira as pessoas que não são mais necessárias na caminhada. A mente não entende, pois ela é imediatista. Quer resultados na hora. Funciona alucinadamente, com suas meia-dúzia de crenças e distorções emocionais... Mas o coração compreende esta profunda guiança, e é importante abrir um espaço vazio para escutá-lo.
Um simples telefonema. De alguém muito próximo da minha namorada. E que também é muito próximo da minha vida, e eu nem tinha noção. Uma pessoa que fora extremamente importante para mim, para meu irmão, enfim, na minha família, e com o qual tive poucos contatos... porém, fundamentais, repentinamente se mostrou em toda a sua importância.
Fatos de mais de 25 anos atrás tornaram-se claros, e clara ficou a proteção que tenho recebido de Deus, através das mãos que me foram estendidas em momentos cruciais... e eu, até então, não tivera a humildade nem de reconhecer, quanto mais, de agradecer.
Um simples telefonema. De alguém muito próximo da minha namorada. E que também é muito próximo da minha vida, e eu nem tinha noção. Uma pessoa que fora extremamente importante para mim, para meu irmão, enfim, na minha família, e com o qual tive poucos contatos... porém, fundamentais, repentinamente se mostrou em toda a sua importância.
Fatos de mais de 25 anos atrás tornaram-se claros, e clara ficou a proteção que tenho recebido de Deus, através das mãos que me foram estendidas em momentos cruciais... e eu, até então, não tivera a humildade nem de reconhecer, quanto mais, de agradecer.
Repetindo a programação familiar
Fui educado pela minha avó paterna, Dona Iracema. Que me transmitiu sólidos valores cristãos. E também muitas mágoas e dores. Ela excluiu seu próprio pai da sua vida. Tirou até o nome dele da certidão de nascimento e do registro de identidade. Deve ter tido uma dor muito forte, que eu nunca entendi. Mas com certeza, teve os seus motivos. Vovó também excluiu todo o lado da família paterna, que era uma família tradicional, formada por empreendedores, profissionais liberais e até um ex-prefeito de Rezende. Quando justamente estava numa posição financeira estável, em crescimento, junto com vovô, trabalhando numa escola particular de propriedade de seus primos, aqui em São Paulo, com o próprio negócio prosperando, ela brigou com os parentes, reeditou as mágoas familiares e largou tudo. Fez vovô largar o empreendimento, e partiu para outra cidade. E daí em diante, nunca mais se reergueram totalmente.
Esta história me marcou muito. Nunca entendi o velho álbum de fotografia com fotos recortadas e vazios estranhos... pessoas que eram retiradas a tesouradas do album, como se pudesse ser excluída a energia de alguém que viveu neste mundo.
Parece que meu avô materno também foi alvo de algum tipo de rejeição. É o que minha mãe deixou nas entrelinhas, num determinado momento. Bem... exclusões existem em todos os sistemas familiares. A mente magoada e ferida, que não recebeu o carinho, amor e dinheiro que se achava merecedora, sempre irá negar os pais e o passado. Esse é o mecanismo natural, que inclusive impulsiona o ser humano para o crescimento. Porém, é um crescimento baseado na dor, na falta, e não na prosperidade e amor. E isso traz sofrimento.
Eu reeditei este meu passado familiar. Sempre justificando minha falta de gratidão e amor pelos meus familiares devido à separação precoce que vivi com meus pais, e às constantes brigas e dificuldade que presenciei com meu irmão e meus avós, deixei de perceber que tudo isso eram... justificativas. Sim, meus pais me deixaram com meus avós. Sim, eles tiveram problemas com o álcool, com neuroses, dificuldades financeiras, etc. Sim, isso provocou mágoas em mim.
Mas quem disse que, seu eu tivesse uma família mais estável eu estaria amando e sendo grato? Trabalho com constelação familiar sistêmica, e percebo que não existe nenhuma relação entre amor e família estável. Logo, eu só não olhava com gratidão verdadeira para meu passado familiar, e para tantos que me apoiaram nesta jornada, porque estava... emburrado! Sim! Emburrado, feito uma criança marrenta. Aos poucos, esta criança ferida e mal-criada foi se revelando. E não foi fácil lidar com ela, já que eu criei uma série de justificativas para explicar minhas dores, meus comportamentos, minha personalidade. Eu teci um ego em torno desta criança ferida, e para destituir seu poder, e permitir que a gratidão e o amor fluissem por mim e pelo meu sistema familiar, era preciso desconstruir todas as justificativas. Todas. Porque elas não são reais.
A mente também não pode forçar a compreensão. Digo a compreensão profunda. Que liberta a alma. Isso ocorre por graça divina. Assim como a mente não pode forçar a gratidão e o amor. Pelas coisas que sou grato e tenho amor, simplesmente, sou grato e tenho amor. Não é a mente que diz ter gratidão e amor. E pelas coisas que não consigo ter gratidão e amor, simplesmente posso olhar para isso e reconhecer. E orar para que Deus ilumine o perdão. Sim, o perdão, pois se não há gratidão e amor, é porque existem mágoas e estou culpando alguém do passado.
Subitamente, esta compreensão me arrebatou. Tomou conta de mim. Enquanto eu segurava um crucifixo, na loja de artigos cristãos, a namorada rindo com o celular na mão, se divertindo com a sincronicidade da vida. Véspera de Natal. A possibilidade do ser crístico nascer em meu coração. E a oportunidade da minha criança deixar de ser emburrada, e olhar verdadeiramente para as dificuldades passadas e atuais com um sorriso de compreensão, aceitação, perdão e... gratidão. Sabendo que está sendo conduzida amorosamente por uma mão invisível, que cuida de todos a cada instante, e para quem tudo o que ocorre está absolutamente correto.
Alex Possato é terapeuta familiar sistêmico e coordena a Casa Amor em Movimento e o site Expressão do Ser









Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |