A ESSÊNCIA DA SAIA DE BALI
Autor Sueli Ambrosio
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 13/12/2009 17:01:52
A ESSÊNCIA DA SAIA DE BALI
Certa vez me presentearam com uma exótica calça comprida Made em Bali. Lindíssima, toda feita com pedaços de tecidos estampados e coloridos. Minha primeira providência foi tingi-la em um tom mais escuro para quebrar o imenso e chamativo colorido. Ficou como eu queria. Usei aquela peça durante anos e era a minha roupa predileta.
Um dia, cansada da calça, transformei-a em uma saia longa. Porém, por um erro matemático na costura, fiz uma abertura frontal muito pequena e toda às vezes que a usava tinha dificuldade em andar, pois a saia me travava os movimentos na altura do joelho. Tinha que andar com passos pequenos, miúdos, e acabava me cansando. Mesmo assim, de vez em quando lá ia eu novamente com minha saia de passos pequenos, roupa pra quem precisava andar devagar, comedidamente.
Um belo domingo, em que a saia me segurava insistentemente pelos joelhos, arranquei-a, peguei a tesoura e fiz duas enormes fendas laterais. Coloquei-a novamente. Que maravilha; movimentos soltos, andar rápido, e a saia continuava a mesma. A minha velha e preferida peça de roupa, agora, a saia de Bali.
Por que demorei tanto em tomar esta medida? Por que não pensei nisso antes? Pensar, até pensei, mas me faltou a coragem, a vontade. Refleti sobre tudo isso e pude traçar um paralelo, uma trajetória de vida que incrivelmente se encaixou no período de tempo em que ganhei esta peça de roupa, até o dia da decisão. Comparar trajetória de vida com peça de roupa? Sim!
A roupa preferida simbolizava um pouco da minha essência. Somos sempre os mesmos, incondicionalmente. Apenas vamos mudando alguns aspectos, para que haja uma renovação. Será que quando tingi a minha calça de Bali, apagando-lhe o alegre colorido, já não renunciei, ali, a uma alegria esfuziante, colorida, aquela alegria espontânea como o riso de uma criança?
Continuei apegada à forma da calça por muito tempo, como ficamos apegados às coisas antigas, aquelas que nos fazem bem, pois são seguras, inalteráveis, imutáveis.
Um dia arrisquei-me a mudar a forma da peça de roupa, transformando-a em uma saia. É quando nos abrimos às mudanças, transformações, sem perdermos a nossa essência; o elemento fundamental para que cresçamos sem mistificações, sem agressões ao nosso Eu interior. Porém, inconsciente ou conscientemente, abrimos apenas uma pequena fenda, aquela que nos permite espiar o mundo lá fora, sem muitos envolvimentos, sem nos expor, nos mostrar por inteiros.
Essa pequena fenda, como a da saia de Bali, acaba nos aprisionando justamente onde necessitamos de maior movimento. No ponto exato de onde nasceria uma liberdade mais ampla, um andar mais largo, mais aberto. Aprisionamos nossa visão, pois não andamos apenas com as pernas, andamos com o nosso olhar interior, nossa visão íntima que necessita de ângulos abertos e variados para enxergarmos o necessário, o desnecessário e tudo aquilo que nos ajudará na caminhada.
Quando resolvi, afinal, abrir fendas maiores em minha saia para libertar meus movimentos, senti que não necessitava mais dos passos miúdos, apertados; poderia até correr sem ter os movimentos tolhidos.
Creio que quando tomamos a iniciativa e a atitude de abrir fendas enormes em nossa visão de mundo e de vida, nos libertamos da prisão que nos encarcera dentro de uma saia justa. Podemos correr e saltar, caminhar com passos largos sem desfazer da velha peça de roupa; isto é, da velha saia de Bali, a minha Essência.
Avaliação: 5 | Votos: 4
Pedagoga, Especialista em Gestão Educacional, lecionou Filosofia na Rede Pública Estadual. Intuitiva e estudiosa do Tarô, busca por caminhos que mostre uma realidade mais passivel de ser transformada por meio da espiritualidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |
