A VISÃO DO PARAÍSO
Atualizado dia 07/08/2010 22:02:03 em Espiritualidadepor Oliveira Fidelis Filho
A Bíblia - o livro Sagrado Cristão - abre e fecha seus registros com dois grandes Sonhos. Ambos são impregnados de símbolos, criados a partir da realidade social, cultural e religiosa de onde emergiram.
São Sonhos presentes nas mais variadas culturas que, salvaguardando pequenas diferenças, expressam aspirações comuns. O primeiro é o fascinante Sonho do Jardim do Éden, escrito por Moises.
Seu simbolismo nasce das adversidades experienciadas por uma sociedade nômade e sua luta diária para sobreviver. Os registros bíblicos dão conta que, durante quarentas anos, o povo Hebreu, comandado por Moisés, perambulou pelo deserto da Palestina rumo à Terra que Deus lhes prometera.
Durante este período, em que foi exterminada praticamente toda uma geração, o povo conviveu com situações desesperadoras. De um lado, o sol inclemente do deserto, a terra seca e improdutiva, a escassez de água e alimento para as pessoas e rebanhos, e a dureza da vida, que levava a crença em um Deus Severo, Irado e Vingador; de outro, os profundos questionamentos, diante dos sofrimentos gerados pelo exaustivo trabalho, guerras, animais ferozes e abrasadoras serpentes. A absurda repressão que a religião e suas infindáveis leis impunham, gerava culpa, vergonha, medo e um desejo de fuga de Deus. Também eram inúmeras as perdas de recém-nascidos e de mães em trabalho de parto, bem como a discriminação absurda da mulher, legitimada pela própria Lei Mosaica.
Se vivêssemos em uma situação assim com o que sonharíamos?
Para mim, não é difícil entender o Jardim do Éden como a poesia da alma, cujo objetivo é mitigar, com a miragem de um luxuriante Oasis, a ressequida realidade de um exaurido povo.
O Jardim do Éden é o mais reconfortante Sonho que a humanidade já sonhou e que ainda sonha. Extrapola os limites da história daquele povo e da geografia mediterrânea desaguando e ecoando no inconsciente coletivo. Arquétipo extraordinário e abençoador!
Fustigados pela dureza da vida, o pensamento refugia-se no reconfortante universo dos sonhos. Ai encontra os rios abundantes, bosques maravilhosos, riquezas imensuráveis, uma relação harmoniosa e equilibrada em nível pessoal, familiar, com a Natureza e com o Criador.
Não se trata de um relato histórico descritivo ou de saudade, e sim de esperança. De construções mentais que transpõem o sonhador para muito além da realidade e que o fazem crer em possibilidades ainda não tangíveis, produzindo o equilíbrio psíquico sem o qual enlouqueceria.
O outro, igualmente glorioso Sonho, encontra-se nas ultimas páginas da Bíblia, no livro de Apocalipse, termo que significa Revelações. O que nos faz lembrar que uma das funções do sonho é revelar, ou seja, trazer para a consciência o que no inconsciente se esconde.
Quem já teve o privilégio de ler "A História dos Hebreus", obra completa do historiador Flávio Josefo, sabe que a realidade de Jerusalém contemporânea ao Vidente São João, que culminou em sua destruição pelos Romanos por volta do ano 70 D.C., são inenarráveis.
Viviam sob o domínio romano, sob a opressão da religião e internamente repartidos por várias facções políticas e religiosas. A insegurança, o medo, a miséria, a fome, a peste e a barbárie criaram um espetáculo demasiadamente horrendo, mesmo para os soldados romanos que sitiaram a cidade sob o comando do então general Tito.
Qual é o sonho de quem vive numa cidade mergulhada em tanta tragédia?
Novamente, para mim o sonho da Cidade Santa, de uma Nova Jerusalém, contrasta em todos os níveis e dimensões com a então degradante realidade.
Novamente o sonho funciona como mecanismo de compensação, encharcando a mente e a alma da poesia capaz de suavizar a aterradora realidade. Assim, o vidente canaliza os gritantes anseios da sociedade e, voando nas asas da poética imaginação, pousa no universo dos sonhos, onde tudo é possível. A imaginação transpõe a realidade caótica e vislumbra a Cidade Arquetípica, extraordinariamente acolhedora, segura, rica, justa, iluminada e, em cujo interior, o Amor, a Justiça, a Luz, a Paz e a Alegria florescem. Nela não há dor, nem morte, nem pranto, nem templo, pois todo coração é habitação de Deus.
A humanidade - mais uma vez - defronta-se com perspectivas incertas em relação ao futuro próximo. Grandes alterações climáticas, geológicas, políticas, financeiras e sociais parecem se avizinhar. Ainda não fomos capazes de transformar os dois grandes Sonhos em realidade - pelo menos em nível global - por isso o medo volta a rondar o espírito humano.
Criar a realidade Paradisíaca de um Jardim (bosque) do Éden ou de uma Cidade Santa depende de cada um de nós. Cabe-nos abandonar o temor e abraçar a Fé. Impregnar nossos pensamentos destes dois grandes Sonhos, tirá-los dos "arquivos" do inconsciente pessoal e coletivo, dos limites alienantes de muitas interpretações e trazê-los para a luz da consciência, transformando-os em realidade.
Ciência e tecnologia para isso não faltam, que venha a expansão da consciência para que vivamos sem medo.
Texto revisado
Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |