AMOR INCONDICIONAL - Parte V




Autor Oliveira Fidelis Filho
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 14/06/2012 16:37:09
"O Amor não se ufana, não se ensoberbece."
"O amor não se ufana." A idéia deriva do vocábulo grego "perperos" que significa "vanglória", "auto-exaltação", "fanfarronice". A ostentação é a idéia principal desse vocábulo. Pode-se aludir à "exibição intelectual" ou "exibicionismo retórico".
O ufanismo é um comportamento bem comum em regimes militares. O governo militar brasileiro usou deste artifício para ludibriar a população. Assim, surgiram canções e slogans tais como "este é um país que vai pra frente" "Brasil, ame-o ou deixe-o", entre outros. Na época, perdemos importantes cientistas, estadistas, artistas e intelectuais nas mais variadas áreas; o país tornou-se acéfalo! Ficou claro que marchar e evoluir são realidades excludentes.
Um governo lança mão do ufanismo para camuflar sua incompetência, para desviar a atenção dos próprios desmandos, atos de intolerância e desumanidade. Enfim é um sinal de fragilidade e de medo; fragilidade de caráter e medo da verdade.
O ufanismo é, também, uma característica destacada no discurso religioso, percebido nos líderes fracos entrincheirados atrás do ofício e dos púlpitos. Ali, com muita frequência, a fraqueza, incompetência, insegurança são, concomitantemente, camufladas e reveladas por meio de uma oratória vazia, raivosa e cínica. Onde os gritos servem para compensar a falta de conteúdo, congruência e autoridade e, sobretudo, falta de Amor. Para sobrepor a própria mediocridade apelam para histórias nas quais se apresentam como heróis de força, ousadia e sabedoria. Não raras vezes, nas histórias que contam, nos testemunhos que dão, tornam-se protagonistas de situações e feitos que jamais vivenciaram. Quanta mentira o ufanismo projeta! Como se tornam ridículos aqueles que o incorporam! Quão desacreditados se tornam, sobretudo diante da própria consciência!
Em nível pessoal o ufanista busca compensar a mediocridade vivida ao mesmo tempo em que investe na auto-exaltação em detrimento dos outros. O ufanismo é, concomitantemente, uma atitude de defesa e de ataque que busca proteger a alimentar a fome do ego. É é uma das armas de quem se sente fraco. Sob a "mania de grandeza", subjaz o complexo de inferioridade.
O amor não se ufana, pois, não precisa de tal artifício. Onde há Amor não há espaço para o ufanismo, pois, o sentimento é de graciosa plenitude. O Amor livra quem o vivencia da necessidade de inflar-se com o senso de sua própria importância, ou melhor, com o senso de sua própria insegurança.
Para o apóstolo Paulo o Amor além de não se ufanar também não "se ensoberbece." O verbo ensoberbecer vem do grego "phusioo" que significa "ser orgulhoso", "ser arrogante", "ser presunçoso", "ser vaidoso".
Na ausência do Amor o orgulho se manifesta. Para o orgulhoso é quase impossível respeitar a opinião alheia. O diálogo e a convivência são prejudicados porque ele se coloca sempre acima dos outros. Sente prazer em constranger e o faz de maneira acintosa. Tem dificuldade de conviver com opiniões diferentes, de ser confrontado, de ouvir e é desprovido de humildade. Para o orgulhoso só existe uma verdade: a dele. O orgulho é o verniz que encobre a ignorância. No orgulhoso, a ingratidão é marcante.
Para o orgulhoso suas boas obras precisam ser por ele reiteradas vezes comunicadas e lembradas. Suas expressões de bondade - filantropia - precisam de platéia. "Ignorar a mão esquerda o que faz a mão direita, ou não tocar trombeta", como preceitua o Mestre Jesus é, praticamente, impossível. Sua caridade objetiva alimentar, antes de tudo, o próprio ego.
O orgulho é mais um dos artifícios do ego para disfarçar o medo e a insegurança. O problema é que tal camuflagem revela mais do que esconde, pois, quanto maior o orgulho mais vulnerável o orgulhoso se torna. Não são poucos os que vivem com o "orgulho ferido". Lembrando Luiz Gasparetto "toda mágoa é orgulho ferido." O orgulhoso sente-se humilhado exatamente por lhe faltar humildade. Não fosse o orgulho não queixariam dos outros, pois é próprio do orgulhoso se ofender com facilidade.
No pulsar do amor incondicional não mais somos limitados pelo individualismo, isto é, deixamos de ser indivíduo para sermos individuação. Tornamo-nos a força do propósito divino em ação, o Todo nos arrebata e em nós se expressa levando-nos a partilhar da sinfonia cósmica. Deixamos de ser um desafinado instrumento solo, uma nota solitária e distorcida, para sermos parte da harmoniosa melodia da grande orquestra que celebra a glória do Criador e da Criação.
Jesus não sentia necessidade de orgulho, arrogância, presunção, vaidade ou de qualquer expressão de soberba. Sentia-se pleno em si mesmo, ou seja, plenamente no Ser. Dele são as inquestionáveis palavras: "quem vê a Mim vê o Pai, pois Eu e o Pai Somos Um". Jesus se movia no "caminho sobremodo excelente", existia em Amor.
O sentimento de plenitude que o Amor Incondicional proporciona supre toda a carência de aparentes necessidades, de ilusórios complementos; deixa-nos a salvo das medíocres tentações do ego. Tornamo-nos felizes em nós mesmos sem a necessidade de chamar a atenção, sem a necessidade das muletas do ufanismo e da soberba.
Davi expressa esta realidade ao poetizar: "Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando a procura de grandes coisas, nem de cousas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para contigo."









Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |