AMOR INCONDICIONAL - Parte II
Atualizado dia 17/02/2012 08:43:55 em Espiritualidadepor Oliveira Fidelis Filho
Definir Amor incondicional ou desejar exaurir seu significado é "missão impossível"! É como esperar que as crianças esgotem a areia da praia ou a água do mar com suas pazinhas e seu baldinhos. Bem mais fácil, entretanto, é identificar situações e comportamentos onde o amor se faz sentir, se dá a conhecer, "dá o ar da graça".
O livro sagrado cristão declara que Deus é Amor, o que não alivia muito, em termos de definição, pois o Amor continua resistindo às tentativas de definição. O que é ótimo, pois definir é também limitar e não raras vezes a definição é burra. De forma mais tangível, penso que o Sol é um bom exemplo de Amor incondicional. Todos os dias e sem alarde esparge luz sem fazer distinção entre as formas de vida, sem desejar nada em troca. Pacientemente, alimenta com luz e calor as mais variadas espécies, além de proporcionar luxuriantes espetáculos sem esperar aplausos.
Deixo, entretanto, para o leitor, o lúdico e místico desafio de estabelecer outras analogias entre o Amor e o Sol.
O apóstolo Paulo em sua tentativa de oferecer uma aproximação da dimensão do Amor começa declarando que é paciente!
Mas o que significa ser paciente? Sei que etimologicamente paciência vem do latim patientia "resistência, paciência", do verbo pati, "agüentar, sofrer". É obvio que tal "definição" torna a paciência nada atraente e até sofrível! Não é sem razão que o mesmo apóstolo declare que "a letra mata, mas que o espírito vivifica". Além do mais, o significado das palavras muda com o tempo e com o uso. E, neste artigo, paciência está a serviço do Amor. E tudo que se coloca a serviço do Amor tem seu significado alterado para melhor. Em verdade o que gera sofrimento não é a paciência e sim a sua ausência.
Lembrando a mãe de minhas filhas, de origem asiática, "paciência é uma virtude", com o que o filósofo Nietzsche talvez não concordasse, haja vista sua filosófica e utópica idéia de super homem. O melancólico filósofo considerava a paciência uma fraqueza, não sendo esta uma "virtude" que desejasse possuir, o que possivelmente contribuiu para levá-lo a muitas situações desastrosas. Como diz um provérbio chinês, "um momento de paciência pode evitar um grande desastre; um momento de impaciência pode arruinar toda uma vida".
A paciência pode ser entendida como um dos raios por onde o amor se manifesta, mostrando o seu clarão, seu calor e sua energia. Ou uma onda, uma freqüência por onde o Amor se propaga.
A paciência traz, para mim, a idéia de calma, autocontrole, sábia aceitação, segurança interna, domínio próprio, da não necessidade de se defender reativamente. É própria de quem se sente pleno em si mesmo, que sabe da tonificação que a resiliência compassiva proporciona ao caráter.
A paciência nada tem a ver com fraqueza, pois é necessária muita força e harmonia interna para exercitá-la. É própria de quem não se sente ameaçado, de quem se conhece, que já se encontrou. Quando nos falta paciência, perdemo-nos de nós mesmos, saímos dos domínios do Eu para sermos capachos dos caprichos do ego. A paciência é fruto do transbordar da essência Crística que nos habita, floresce nas vidas onde o ego encontra-se ressequido.
No coração onde o Amor não mora, a paciência também foi embora.
"Dai-me paciência!" Este é o suspiro anelante de muitos, nas mais variadas circunstâncias. Mas será que desejam mesmo apropriar-se desta virtude, desta expressão de Amor? Faço esta pergunta, pois o desenvolvimento da paciência só é possível mediante os embates. É o rico tesouro oriundo de experiências de confronto, onde a amorosa perseverança manteve-se entrincheirada em amoroso combate.
"Ganhamos" paciência da mesma forma que fisicamente ganhamos massa muscular e resistência; é preciso exercitar e perseverar. Quanto mais impacientes, mais oportunidades para "aquisição" de paciência surgem. Pense nisso! A paciência é uma prova de evolução espiritual, certificado de limpeza emocional. Não é à toa que os impacientes têm tantas oportunidades para desenvolver a paciência.
Dalai Lama nos lembra que "Por um lado, ter um inimigo é muito ruim. Perturba nossa paz mental e destrói algumas de nossas coisas boas. Mas, se vemos de outro ângulo, somente um inimigo nos dá a oportunidade de exercer a paciência. Ninguém mais do que ele nos concede a oportunidade para a tolerância. Já que não conhecemos a maioria dos seres humanos nesta terra, a maioria das pessoas também não nos dá oportunidade de mostrar tolerância ou paciência. Somente essas pessoas que nós conhecemos e que nos criam problemas é que realmente nos dão uma boa chance de praticar a tolerância e a paciência".
Um buscador da verdade, um filho da Luz, entende os problemas como desafios e os desafios como abençoadoras oportunidades de crescer em paciência. Portanto, "Aprimorar a paciência requer alguém que nos faça mal e nos permita praticar a tolerância". Tal mudança de percepção permite ressignificar tudo que antes poderia gerar amargura, irritação, stress e desanimo.
A paciência acalma, acolhe e aquece. Leonardo da Vinci lembra-nos que "a paciência faz contra as ofensas o mesmo que as roupas fazem contra o frio; pois, se vestires mais roupas conforme o inverno aumenta, tal frio não te poderá afetar. De modo semelhante, a paciência deve crescer em relação às grandes ofensas; tais injúrias não poderão afetar a tua mente".
A paciência quando a serviço do amor e da criatividade leva-nos a degustar de forma mais demorada e prazerosa os alimentos, mais profundamente os relacionamentos, mais satisfatoriamente as atividades e mais sabiamente as oportunidades. Lembrando Isaac Newton "Se fiz descobertas valiosas, foi mais por ter paciência do que qualquer outro talento".
O Amor Incondicional se refestela nos braços da paciência. Lembrando o Apostolo Paulo: "o Amor é paciente".
Texto revisado
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Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |