Apatia
Atualizado dia 01/11/2011 10:50:09 em Espiritualidadepor ALZiRiTA
Ah, nostalgia eu sinto... Dos tempos alegres de um inverno acolhedor, no convívio com entes queridos saboreando um vinho tinto perfumado ao redor da fogueira ouvindo os sons trepidantes da madeira queimada e os movimentos sensuais das chamas hipnotizantes. Sinto saudade desses momentos inesquecíveis que passeiam pelo meu imaginário, pois há meses a apatia ao me acolher em seu ventre e ao fazer-me prisioneira (prisão esta que permanece até a presença data), só me resta contar com flashes e flashes que assolam minha memória enevoada.
Não estou para ninguém, porém, mesmo entediada, resolvo sair à rua para me distrair. Sinto um aperto em meu coração ao deparar-me com a alegria que impera no cenário primaveril: o céu de um azul resplandecente brinda as pessoas que se exercitam pelas pistas existentes nas praças... Crianças livres como pássaros correm e brincam felizes pelos parques floridos... E a praia, antes solitária, convida às pessoas para um mergulho revigorante no mar de água transparente... Enfim, constato um clima de prazer irrefutável em contraponto ao que sinto dentro de mim - um vazio incontestável. Sei que tudo sempre passa... Um dia. Mas quando... Sei lá!
Desgostosa, volto para meu porto seguro – meu lar - e para passar o tempo, pego o jornal para ficar a par dos acontecimentos. Folheando as páginas despretensiosamente, deparo-me com um trecho de uma carta de meu querido poeta Carlos Drummond de Andrade, em resposta a carta de sua filha amada Maria Julieta que, num país distante, passava por um período de muita angústia, pois estava em dúvida quanto ao seu futuro literário. Eis a resposta do pai amoroso: “Escreva, minha filha, escreva. Quando estiver entediada, nostálgica, desocupada, neutra, escreva. Escreva mesmo bobagens, palavras soltas, experimentem fazer versos, artigos, pensamentos soltos (...). Não tenha a preocupação de fazer obras-primas, que de há muito eu já perdi, se (é) que algum dia a tive”.
Ao reler as sábias palavras e ao constatar que os sentimentos direcionados à sua querida filha, existiam em mim, perplexa fiquei. Senti uma fisgada em meu estômago e em seguida, a avalanche de sentimentos gélidos represados em meu íntimo, como numa golfada repentina, vieram à tona e, atônita, comecei a escrever sofregamente.
Querido poeta, obrigada pelas mágicas palavras direcionadas à sua filha que tocaram fundo meu coração: “escreva, minha filha, escreva. Quando estiver entediada, nostálgica, desocupada, neutra, escreva...”. Tem razão, mestre, sentimentos represados que martelam nossa mente ao serem colocados no papel deixam de nos atormentar, pois liberamos a passagem para que novos pensamentos e sentimentos de um modo espontâneo e natural habitem nossa mente; agindo assim, proporcionamos que caminhos outros e novas perspectivas de vida surjam no horizonte.
Sinto que a primavera invadiu o meu ser. E a apatia que habitava em mim foi levada pelo vento suave e fresco em direção aos vales verdejantes.
Termino este texto sentindo-me leve pelo desabafo, vislumbrando um futuro próximo de oportunidades e realizações. Retirei as pedras de meu caminho que me impediam de caminhar, mestre! Que venha a esfuziante Primavera.
Ave Poeta!
Carta ao mestre Carlos Drummond de Andrade.
Endereço: Infinito
Remetente: ALZiRiTA
Texto revisado
O Autor deste artigo indica - https://pinceladasdemim.com.br
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Musicoterapeuta, Radiestesista e Escritora. Criou o Portal SER - Saúde, Energia & Resgate / Centro de Qualidade de Vida & Desenvolvimento Humano, com a intenção de proporcionar recursos de informação para as pessoas que buscam o autoconhecimento. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |