ARMADURA DE AÇÚCAR
Atualizado dia 09/09/2009 17:21:45 em Espiritualidadepor Maísa Intelisano
Normalmente, não damos muita importância ao que lemos, vemos, ouvimos, etc. É como se estivéssemos meio anestesiados para as coisas que nos rodeiam, como se essas coisas não nos dissessem respeito diretamente. Andamos por aí como se fôssemos autômatos, reagindo mecanicamente aos fatos e pessoas, seguindo o fluxo, como se isso fosse inevitável, irresistível.
Só que aí algo acontece, nos toca, e a gente começa a perceber que a realidade não é bem essa. A gente se dá conta de que, na verdade, tudo nos diz respeito, tudo está relacionado a todo mundo, basta que tomemos consciência disso. É aí que as coisas aparentemente sem sentido, até então, começam a fazer sentido pra nós. E cada palavra, cada imagem, cada pessoa, cada som ganha novo significado na nossa vida.
Nesse ponto é que as coisas começam a assumir a sua verdadeira dimensão em nosso mundo, em nosso pensamento. Percebemos que aquilo que parecia tão importante, na verdade, é bem insignificante, e que aquilo para o que não dávamos muita bola é que realmente interessa.
Só que essa sensibilidade é meio rara por aí, sabe?, e, quando a gente começa a se sentir assim, começa também a se sentir meio "ET" no mundo, como se tivesse caído de pára-quedas numa terra totalmente desconhecida. Não que a gente não conheça a terra, mas é que os habitantes dessa terra não nos conhecem mais e vão se afastando aos poucos.
Além disso, a vida por aí anda tão corrida, concorrida, disputada, mais sobrevivida do que vivenciada, mais engolida que saboreada, mais respondida que correspondida, sempre avaliada sem ser valorizada, mais requentada que aquecida, inconscientemente ignorada mais do que reconhecida, vivida mais no reflexo do que na reflexão, sempre envelhecida em vez de amadurecida, que acabamos meio medrosos, meio receosos de vivê-la plenamente, desconfiando de tudo e de todos, bloqueando as manifestações mais simples de humanidade, impedindo que a nossa própria simplicidade se manifeste para não sermos enganados e feridos.
A grande verdade é que temos vergonha de nos emocionar, de nos deixar envolver pelos sentimentos mais simples, pelas emoções mais puras. Temos vergonha de ser gente, de ser humano, de assumir nossos medos, manias e ignorâncias. Não nos permitimos ver a nós mesmos por dentro e não permitimos que ninguém mais o faça. Ficamos hermeticamente isolados da nossa personalidade mais profunda e verdadeira e, quando ela aparece de sopetão, sem avisar, ficamos assustados como se um estranho, de repente, nos dirigisse a palavra para falar dos nossos assuntos mais íntimos e secretos.
Essas coisas que surgem na nossa frente e nos surpreendem não são novidades nem inovações. São apenas aquelas coisas que insistimos em não ver, em não reconhecer. São parte de nós, uma parte que fingimos que não existe, mas que resiste, apesar de tudo. Elas são nós mesmos e estão apenas escondidas debaixo da armadura fria que todos os dias vestimos para enfrentar o mundo. Uma armadura que ignoramos ser feita de açúcar e que, ao mais brando raio de sol, ao menor sinal de calor humano, derrete-se serenamente, espalhando-se em nossa alma, adoçando-nos o coração.
Texto revisado
Psicoterapeuta com formação em Abordagem Transpessoal, Constelações Familiares, Terapia Regressiva, Florais de Bach e Reiki II, é também tradutora e revisora; palestrante e instrutora em cursos sobre espiritualidade e mediunidade; e fundadora e presidente do Instituto ARCA de Mediunidade e Espiritualidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |