As doenças culturais




Autor Leandro José Severgnini
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 28/01/2014 18:04:36
Há alguns dias atrás, eu assistia a uma palestra do cientista brasileiro Laércio Fonseca, ex-professor da USP. Nesta oportunidade ele comentava sobre uma pesquisa feita pela PUC/SP sobre os índios da Amazônia. Segundo o seu relato, nesta pesquisa eram coletados dados históricos sobre a saúde, qualidade de vida e bem estar, segundo os dados relatados pelos próprios nativos. O que chamou muito a atenção dos pesquisadores, foi a informação repassada pelos índios (informação que passou de geração em geração dos índios), de que após a introdução do homem branco em seu meio, começaram a surgir casos de depressão e suicídio entre os índios. Antes haviam casos isolados, mas depois da chegada do homem branco, o número de casos atingiu proporções que assustava os próprios nativos. A conclusão a que os pesquisadores chegaram foi de que o tipo de cultura imposta pelo homem branco (principalmente a religiosa), destruiu completamente o bem estar daquele povo. E podemos compreender isso facilmente. Basta imaginar aquelas pessoas vivendo em um estado de conexão com a natureza, sem competição, mas apoio mútuo e, o principal, vivendo em nudez, mas sem qualquer malícia ou perversão; é óbvio que o homem branco dotado de toda a sua "cultura e moralidade" jamais aceitará tal situação. Era necessária uma urgente conversão religiosa, senão todos estariam "despertando a ira de Deus e estariam condenados ao inferno".
Pois bem, é apenas uma pesquisa, mas que condiz perfeitamente com a conhecida história de dominação do homem branco nos mais diversos pontos das Américas. Esta é uma questão importante para trazermos uma reflexão à nossa vida pessoal e, fatalmente perceberemos que hoje nós mesmos somos um reflexo desse tipo de condicionamento cultural trazido, principalmente, da Europa. Veremos que apesar de tanto tempo, ainda estamos submersos no sentimento de culpa e de medo; continuamos achando a submissão religiosa uma bênção; continuamos achando que as diferenças, principalmente raciais e sexuais, existem porque tais indivíduos são inferiores; etc. Claro, muitas coisas mudaram. Se um texto como esse fosse publicado há algumas décadas atrás eu seria perseguido e condenado a sabe-se lá o quê. Mas muitas coisas ainda precisam mudar, e o primeiro passo está no nosso foco mental. Precisamos, primeiramente, sair da condição mental de que somos pecadores; somos sim seres imperfeitos, mas quem é que vai condenar você por sua imperfeição? Buda dizia que o sofrimento existe sim, mas que é apenas um fruto de nossa ignorância, da nossa falta de sabedoria. Porém, essa sabedoria só pode vir de um lugar: de nossa própria consciência, bem lá no fundo, num cantinho escuro que precisa apenas ser arejado para irradiar sabedoria e compaixão, algo que é totalmente o oposto de condenação e imposição. A única maneira de nos curarmos dessas doenças culturais é através do amor. O amor é o único remédio para a ignorância, o julgamento e a opressão. E a boa notícia é que está ao alcance de todos.
"A vida não é um castigo: é tão valiosa que só pode ser vista como uma recompensa. Você devia estar grato à existência por ter sido escolhido para respirar, amar, cantar e dançar".Osho.
Leandro Severgnini









Palestrante espiritualista e escritor. Autor dos livros intitulados "Dias de Luta, Dias de Glória", "Liberdade - Nada Menos Que Tudo" e "Em busca do infinito". E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |