Até que a distância os separe
Atualizado dia 02/06/2010 14:18:35 em Espiritualidadepor Nelson Sganzerla
Sou do tempo que toda garota tinha em sua estante aqueles bolachões com músicas temas das principais novelas das oito e todo fim–de–semana nos reuníamos na casa de alguém para ouvirmos aquela doce melodia, que embalava nossas paixões, às vezes até secretas, pela nossa timidez. Lembro-me quando não se era correspondido no amor, se dizia: Estou em uma fossa danada.
Nessa época, a droga não existia em nossas rodas. Claro que o pessoal do PAZ e AMOR já peregrinavam pelo LSD e outras drogas, mas eram pessoas mais velhas. Nós éramos todos românticos e sonhadores, ninguém possuía carro, mas percorríamos quilômetros a pé pelas ruas do nosso bairro em busca de aventuras amorosas e, no domingo, fazíamos o balanço das nossas eventuais conquistas.
Não sou saudosista, mas confesso que naquela época os relacionamentos eram outros. Nossa maior balada eram os bailinhos de garagem, a matinê no Clube ou o cinema no final das tardes de domingo, que sempre terminavam em uma lanchonete comendo um hambúrguer e saboreando um Milk Shake.
O ponto é: o que acontece hoje em dia com os relacionamentos? Está tudo tão vazio em torno do amor, que os jovens estão andando em círculos em busca de um prazer que é efêmero. Beijava-se pouco, mas se amava muito... Hoje isso se inverteu, beija-se muito e ama-se pouco. Não existe um começo um meio e um fim. Na época, trocávamos cartas e bilhetes na saída da escola; hoje, troca-se música no MP3 e no Ipod e cada um na sua.
Hoje se mistura álcool, drogas e energizantes com direção... e se mata pela madrugada, achando natural essa loucura. Reúnem-se em lojas de conveniências, envolvendo-se em brigas homéricas e covardes, muitas vezes tirando suas próprias vidas, por banalidades difíceis para o entendimento dos pais que sofrem por não saber o que os filhos estão fazendo, nas ruas.
Já na fase adulta, que acontece com o relacionamento do homem, que não entende uma poesia, não sabe distinguir verso de prosa, nunca leu um romance e sente sono ao assistir um drama, alegando que as “letrinhas” são muito pequenas e seu único assunto são as peripécias com seu carro, sua moto, ou o time de futebol, naquelas horrendas rodinhas que se formam ao redor do churrasco aos domingos.
O que acontece com a mulher, que pela evolução tornou-se mais bonita e exuberante, é independente financeiramente, dona de si, mas sonha com um abraço apertado e um ombro amigo como porto seguro que lhe permita a paz e a quietude depois de um dia duro e estressante de trabalho, e por mais bonita, inteligente e exuberante que seja não encontra esse companheiro...
Onde anda o romantismo nos relacionamentos, respeito, admiração, orgulho da pessoa que está ao seu lado, onde anda o amor que todos buscam? Ao contrário, o que se vê são mulheres amedrontadas e escorraçadas pelos seus maridos, agredidas na frente dos filhos. Ao contrário, o que se vê, são homens fracos, mesquinhos, egoístas sem escrúpulo, que não aceitam o fim de um relacionamento tendo sua macheza ferida e vingada com a morte da companheira.
Relacionamento é uma via de duas mãos, uma troca onde existe o prazer, de procurar fazer o outro feliz, nas pequenas coisas do dia-a-dia, esse mundo que aí está nos tornou frios e céticos em relação ao amor ao romantismo e ao bem querer, ninguém consegue mais dizer: Eu te amo! Ninguém consegue mais olhar no olho, ninguém mais tem coragem para amar, ninguém mais senta e conversa, ninguém mais revê fotos do casamento, ou daquela viagem que foi dos sonhos.
Relacionamento é repetir as mesmas coisas, todos os dias, sem medo de ser chato, de cair no ridículo. Relacionamento é deixar de ser macho para ser homem, entender que mulher gosta de carinho e não de porrada. Relacionamento é a mulher também deixar de querer ser dona de si e criticar menos o seu companheiro para também lhe dar mais carinho e atenção.
Relacionamentos acabam, porque ambos deixam de ser o que eram antes do casamento. Em algum lugar, nesse caminho, as pessoas se perdem e daí a distância torna-se muito grande entre eles, mesmo que ainda permaneçam juntos vivendo sob o mesmo teto, ou se encurta essa distância, ou essa mesma distância mais cedo ou mais tarde, certamente irá separá-los.
Pense nisso.
Texto revisado
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