Conversar - Sempre é preciso?
Atualizado dia 11/6/2011 8:26:30 PM em Espiritualidadepor Paulo Salvio Antolini
No malabarismo para ver como atenderia, ela abriu a capinha de meu celular, retirando-o. Sorrindo, falou: "Um ajuda o outro". Ficou a segurar o aparelho em meu ouvido até que eu pusesse algumas sacolas no porta-malas do seu carro. Quando desliguei e agradeci, ela me olhou e disse: "Você me fez lembrar dos tempos de outrora, quando a gente ainda conversava ouvindo o outro". Perguntei a ela o que foi que a fez lembrar disso, ao que respondeu: "Quando você perguntou para a outra pessoa, o que exatamente ela estava querendo dizer. Você quis entendê-la. Hoje ninguém quer entender ninguém".
Sai refletindo no que ela havia me dito. Pensando no número infinito de vezes em que as pessoas se falam sem se "conectarem" no outro. Quantas vezes eu mesmo falei sem ouvir? De repente, percebi-me entristecido. Observando que, com tantas pessoas ao nosso redor, nos encontramos sós, pois não mais sabemos comungar com elas nossas idéias, nossos pontos de vista, nossas dúvidas, nossos questionamentos.
Lembrei-me de um homem que chorava enquanto me dizia que seus filhos até o amavam muito, mas que não o conheciam e nem se preocupavam com o que ele tinha pra lhes dizer. "Sempre que estou a falar o que não é interessante para eles ou mesmo o que é incomodo, eles se desligam, isso quando não cortam o assunto com um pretexto qualquer para saírem de perto ou mudarem a conversa." Disse ainda que quando ele colocava-se concordante, então sim, era ouvido e considerado o melhor pai do mundo.
Onde está aquela disposição nossa de verdadeiramente trocarmos impressões, pareceres, percepções, experiências e vivências. Onde está o "podermos falar" de forma a recebermos como devolução o acolhimento na busca de compreensão do outro pelo que estamos expondo.
Conversarmos como meio de conhecimento mútuo, sem nos sentirmos criticados, ou criticando, apenas ouvindo, questionando, buscando entender, conhecer. Conversarmos sem a pretensão de, antes do outro falar, já considerarmos que sabemos o que será dito e darmos então, nossa "seleta" opinião. Desprovidos de nossa tão grande capacidade de julgar, de enquadrarmos tudo e todos no "certo ou errado." Quando queremos conhecer alguém, colocamos-nos como ouvintes. A idéia é passarmos a conhecer as pessoas até então "já conhecidas."
Quantas vezes falamos repetidamente: "você quer fazer o favor de me ouvir, escutar o que eu estou dizendo?" Pouco depois constatamos que o outro não ouviu coisa nenhuma. O inverso é verdadeiro, nos pedem para escutarmos e não o fazemos. Cometemos as mesmas falhas que tanto criticamos. Você tem um relacionamento, marido, esposa, namorado, namorada, filhos, amigos, chefes, subordinados, enfim, está complicado. Parece que quanto mais se tenta esclarecer, mais se complica. Pare. Reflita no como está falando e no que está falando. Forma e conteúdo da comunicação. Não repita. Busque outro jeito, ou o resultado será o mesmo. Se ainda não sabe como, não tente disfarçar. Assuma sua dificuldade. Talvez seja bom até dizê-la para o(s) envolvido(s).
Parta do princípio que conversar é trocar opiniões. Entenda que opiniões diferentes não negam a sua opinião. Existem tantas verdades no mundo para quantas pessoas existirem nele, mas apenas uma realidade: a sua. Isso garante que você não precisa impor a sua verdade sobre a dos demais, a dele não nega a sua. Se negasse você teria vivido uma farsa, uma mentira.
"Quando você perguntou para a outra pessoa, o que exatamente ela estava querendo dizer. Você quis entendê-la. Hoje ninguém quer entender ninguém".
Posso fazer isso muito mais freqüentemente. E você?
Texto revisado
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