Culpa e interdimensionalidade
Atualizado dia 8/12/2009 11:16:21 AM em Espiritualidadepor Flávio Bastos
"Somos donos de nossos atos, mas não donos de nossos sentimentos. Somos culpados pelo que fazemos, mas não somos culpados pelo que sentimos. Podemos prometer atos, mas não podemos prometer sentimentos. Atos são pássaros engaiolados. Sentimentos são pássaros em vôo". (Mário Quintana)
Conforme supõe o histórico religioso-cristão, Adão e Eva, através do pecado original e a consequente expulsão do paraíso pelo Criador, seriam os responsaveis diretos pelo sentimento de culpa experenciados até hoje pelo homem. Fato agravado ao longo da história do cristianismo, principalmente a partir da época medieval pelo comportamento da Igreja - o chamado "poder espiritual" - que mantinha o domínio das massas ao afirmar, sob a autoridade da Bíblia, o terror dos eternos sofrimentos do inferno e o pavor aterrorizante para os que jamais atingiriam o paraíso celestial se não fossem cristãos e se não admitissem as "revelações" ou interpretação das Escrituras Sagradas elaboradas pela teologia cristã.
Verdade ou não, o fato é que experimentamos durante o decorrer dos séculos o sentimento de culpa como um obstáculo ao nosso crescimento pessoal, profissional e espiritual. Experiência real que indiscriminadamente tem gerado sofrimento, dramas pessoais e somatizado muitas doenças na humanidade.
Para Nietzsche e Freud, o objetivo primário de todo o homem é a satisfação integral de suas necessidades. A partir do momento que isso não ocorre, surge um fenomeno interessante: os instintos voltam-se para trás, para o interior, para dentro do próprio homem. A repressão dos instintos não os eliminam, mas os redirecionam: se eles não obtiverem sucesso em sua evasão, serão introjetados, internalizados. É deste processo que surge a culpa. Em Nietzsche, a doença é oriunda da interiorização do homem - fato que o torna um animal dígno de interesse. Em Freud, ela é vista como um dos maiores empecilhos para a cura de seus doentes. Este tema torna-se central tanto em Nietzsche quanto em Freud: o primeiro relaciona a culpa à moralidade; o segundo relaciona ao diagnóstico das neuroses.
Para o terapeuta alternativo Francisco Gentina, "a culpa e a doença é o aviso que estamos agindo mal. A inconfundível Lei de Ação e Reação mostra no físico as interferências negativas plasmadas no corpo astral pelos pensamentos e atos que geram peso na consciência". E segue: "A autoculpa abala os mecanismos de defesa do organismo e descarrega no orgão mais frágil, todo o veneno gerado pelos cliches mentais. Como clips rodando indefinidamente na mente e a cada acesso na lembrança, glândulas produtoras de anticorpos, não vencendo a demanda, permitem a invasão de substâncias venenosas aos chamados orgãos de choque, instaurando a patologia. Os remédios prescritos mascaram o efeito, mas dificilmente eliminam a causa". E completa: "Estudos científicos comprovam o efeito do perdão nestes casos. Eliminando o ódio, o rancor ou a mágoa, extirpa-se a causa e consequentemente o efeito não tem mais razão de existir, diluindo por si mesmo, baseado no tempo dos sentimentos geradores da situação patológica. Pesquisas sobre o assunto demonstram que a quase totalidade dos óbitos por câncer nas suas mais variadas formas, tiveram as grandes mágoas como causadoras da doença".
Antonio Araujo, psicólogo, informa-nos "que a tarefa da culpa é amar e depender do pior, construindo um mecanismo pessoal e secreto de insatisfação diária, como uma espécie de desafio constante para uma personalidade ambivalente e receosa de tocar aquilo que está tão próximo: viver plenamente". E completa: "O segredo e mistério da dor passam a adquirir um significado quase místico, de expiação por algo que sequer se compreende profundamente..."
COMENTÁRIO
Se consideramos que a culpa é um sentimento real, que ele existe, assim como o arrependimento e a mágoa são os seus "derivados" mais imediatos que afligem o homem desde tempos imemoriais, podemos questionar: "De quem é a culpa pela existência do sentimento de culpa?"
A ciência oficial faz a sua parte, se esforça, explica até a tênue linha divisória que separa a natureza humana entre o físico e o espiritual. As religiões de fé não raciocinada, geralmente, contribuem para que o sentimento de culpa permaneça agindo indefinidamente nos corações e mentes das pessoas envolvidas por essa negativa energia. No entanto, diante deste confuso quadro que envolve um dos sentimentos mais arraigados ao psiquismo humano, esquecemos que existem as Leis Divinas que regem o Universo, e que, portanto, nos encontramos íntimamente - de corpo e alma - ligados a essas leis....
Nesse sentido, Joanna de Ângelis, em "Culpa e Consciência", através da psicografia de Divaldo P. Franco, esclarece-nos: "A culpa encontra-se esculpida nos alicerces do espírito e manifesta-se em expressão consciente ou através de complexos mecanismos de autopunição consciente. Suas raízes podem estar fixadas no pretérito - erros e crimes ocultos que não foram justiçados - ou em passado próximo, nas ações da extravagância ou da delinquência".
Sobre o arrependimento que liberta do sentimento de culpa, Joanna de Ângelis registra: "Arrepender-se de comportamentos equivocados, de práticas mesquinhas, egoísticas e arbitrárias é perfeitamente normal. A soma das tuas ações positivas quitará o débito moral que contraíste perante a Divina Consciência, porquanto, o importante não é a quem se faz o bem ou o mal, e sim, a ação em si mesmo em relação à harmonia universal. Como consequência, a culpa deve ser superada mediante ações positivas, reabilitadoras, que resultarão dos pensamentos íntimos, enobrecedores".
O processo de autoconhecimento, tanto no sentido psicológico quanto no sentido espiritual, ou seja, no sentido de sua interdimensionalidade, nos direciona para que a culpa nos leve à reflexão, e a reflexão com fé nos leve à ação, à reparação e à eliminação da própria culpa. No entanto, temos observado que o desgosto pela vida nos dias atuais é consequência direta de uma supervalorização da culpa, que não passa, geralmente, ao arrependimento que constrói e liberta. Ao contrário, o homem, ainda preso à inércia e à falta de fé, prefere o lamento à ação, numa clara demonstração de que não está preparado para renovar-se como espírito.
Em "O Livro dos Espíritos", questão 919, Santo Agostinho deixa-nos uma instrução de meditação diária que nos leva a isolar os pontos que devemos reavaliar sobre os quais temos responsabilidade: "Fazei o que fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguem tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma".
Psicanalista Clínico e Interdimensional.
flaviobastos
Dirigente mediúnico espírita
Texto revisado por: Cris
Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |