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De vez em quando, aqui na Terra...

Atualizado dia 12/09/2014 09:06:52 em Espiritualidade
por Christina Nunes


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Acabara de sair da consulta à cardiologista, e andava meio baratinada bem ali, no coração da Tijuca, em busca do tal laboratório onde ela me afiançara conseguir marcar determinado exame para risco cirúrgico com a presteza que se quer para a data da minha próxima cirurgia, quando sou colhida de surpresa pela moça robusta e simpática, com vestido colorido de primavera, vindo em minha direção em meio ao movimento intenso da calçada:

- Precisa de alguma ajuda? Procura alguma coisa?... 

Sem dispor de tempo para expressar minha admiração pela abordagem mais do que bem-vinda, expliquei em poucas palavras que sim. A médica me indicara um laboratório naquela rua, mas eu cometera a imprudência de me distrair de indagar o número e agora, deparando mais de um, não sabia ao certo onde me dirigir. 

- Qual o nome? - Ela indagou, parada ao meu lado, o sorriso agradável imóvel nos lábios; e eu, constrangida, outra vez não soube responder com segurança. Tinha nas mãos as guias dos exames, mas havia me fiado no detalhe de que a rua era bem em frente ao prédio onde havia me consultado havia poucos minutos, certamente com um laboratório só. Jamais imaginaria que seriam, na verdade, três, e nem a cardiologista se lembrou de me advertir disso. Fiquei, assim, olhando a moça com um sorrisinho sem graça, e tentei gaguejar alguma coisa, talvez a vaga lembrança de que o nome começava com a letra "p"! 

No entanto, nem havia articulado a resposta e ela, como por mágica, pareceu ler meus pensamentos. 

- Deve ser o Pro Eco!... 

Ouvindo, lembrei de supetão e, aliviada, concordei na mesma hora. E a moça risonha, paciente toda vida, me explicou: segue em frente, vai para a calçada direita, etc... 

Findo o auxílio, encantada, ao mesmo tempo, da ajuda bem-vinda, como mais ainda da atitude da moça, agradeci reiteradamente - e ainda outra vez,  elogiando-lhe a esponteneidade fraterna das atitudes,  enquanto, acenando, ela se afastava com o sorriso inalterado. 

E não considero o agradecimento reiterado um despropósito! 

Já ouvi falar de lugares ao redor do mundo onde sequer contamos com a chance de se recorrer à ajuda de transeuntes nas ruas, em instantes de necessidade. Ouço casos em que este ou aquele passou, nestes dilemas, pela situação desagradável de ouvir como resposta um ácido "não falo com estranhos"..., e é por isso que a atitude luminosa daquela moça me fez pensar. 

Lembro-me de que quando estava na Ilha de Fernando de Noronha, o encanto experimentado com a beleza e paz absolutas daquele recanto paradisíaco me evocava com insistência a ideia de haver saído momentaneamente do mundo - desta Terra ainda convulsionada por ansiedades e preocupações constantes durante as rotinas do nosso dia a dia, e nem me refiro, aqui, às provas mais ríspidas que a humanidade atravessa! Falo daquele passo a passo rotineiro, cheio de movimentos e de ruídos, semelhantes a uma gincana ininterrupta e barulhenta. O ir e vir, o cansaço diário, o tumulto das ruas dos grandes centros, as desavenças presenciadas ou vividas, os inúmeros compromissos... Ao depararmos de repente, e portanto, com um remanso gigantesco como o existente na atmosfera daquele idílio apartado do continente, algo nos soa como se houvéssemos deixado de inopino o planeta, para mergulhar numa antecipação do que seria o paraíso celeste: paz, tranquilidade; ausência absoluta de aborrecimentos ou de questões pequenas a roubar nosso sossego. Beleza visual estonteante; pessoas mais felizes, mais calmas, mais gentis!... 

Sobretudo, este último ítem! 

Do mesmo modo, recordo-me de ter assistido ao filme Nosso Lar experimentando esta mesma sensação em relação ao enredo, fiel ao livro do querido Chico Xavier: uma cidade dimensional encantadora, onde pessoas são gentis, acolhedoras, a todo momento dispostas a somar e interagir para o melhor da vida - jamais para o pior! Em uníssono, pois nas cidades dimensionais assim funciona: a habitação desses lugares acontece por sintonia. Logo, num local onde impera a atmosfera psíquica homogênea mais evoluída em quem pensa, sente e age para o bem, outro não pode ser o padrão ambiental. E isso provoca no visitante esta mesma sensação de paz inalterada, de segurança espiritual, de resgate da certeza de que a vida é para ser valorizada e bem vivida, e de que a luz existe, sim, no interior de cada ser humano, e que esta luz pode e é, sim, vivenciada espontaneamente por um sem número de habitantes das esferas deste nível! 

Todavia, não apenas nessas esferas! Muitos andam por aqui, já agora e entre nós, reencarnados! Como belas lamparinas espalhando sua cota valiosa de luz íntima, em meio aos desacertos da materialidade!

Depois que aquela moça primaveril veio espontaneamente ao meu encontro numa manhã ensolarada, sem nem ser percebida pelos transeuntes de uma avenida cheia de barulho e agitação, com o seu sorriso largo e me presenteando, discreta, com um auxílio precioso para o meu momento, ocorreu-me esta ideia, mergulhada como fiquei nos próprios pensamentos e sentimentos, durante o resto do caminho: o de que, de vez em quando, entre os movimentos tão heterogêneos dominantes na esfera densa onde agora habitamos, um padrão Nosso Lar baixa à Terra - bem no meio do nosso trajeto! 

Vem-nos, espontaneamente de encontro, sem nem pedirmos, num instante de necessidade! E nos faz resgatar a convicção da existência de uma realidade espiritual mais venturosa como uma aragem perfumada, mesmo enquanto ainda aqui, na materialidade povoada das angústias e das insatisfações humanas! 

Uma realidade que se faz evidente no instante certo, com a mesma discrição a um só tempo ostensiva e silente, e graciosa, de todas as maravilhas divinas já tão negligenciadas pelo ser humano imediatista e descrente dos nossos séculos! E desta vez, como em outras ocasiões preciosas que me ocorreram às lembranças, esta realidade se materializou através da simpatia generosa de uma moça risonha e robusta, com vestido colorido e tatuagem nas costas, no decorrer de uma manhã bela e ensolarada de meados de um mês de setembro!


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Conteúdo desenvolvido por: Christina Nunes   
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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