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DEUS E O POLÍTICO

Atualizado dia 18/08/2010 18:37:27 em Espiritualidade
por Oliveira Fidelis Filho


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Penso que nunca estive tão distante da realidade política como neste ano. Entretanto, não é só da política que me vejo desassociado, sinto-me igualmente distante do futebol e da religião, realidades que já me cativaram muito mais. Sinto-me, às vezes, como se estivesse em outra dimensão de existência, outra dobra. Será que fui abduzido e não sei?

Mas a realidade está aí presente e com reais implicações no dia-a-dia de todos nós. Além do mais, penso que é na política que todo cidadão de bem deveria estar, pois o que torna a política, por vezes, nauseante é a omissão de tais cidadãos.

Percebo, já há algum tempo, a preocupação de muitos eleitores em saber se sua excelência o candidato crê ou não em Deus.

Observo, também, o exagerado alarde gerado pela resposta a uma pergunta que talvez nem faça sentido ser elaborada. Sabe-se quão questionável e maquiada é uma resposta dada no calor de uma corrida presidencial, até porque a fé em Deus deve ser percebida, pelos eleitores, não a partir de uma declaração, mas de atos.

Declarar que crê em Deus, portanto, tem a mesma importância que comer buchada de bode, pastel na feira, churrasquinho na esquina, vatapá ou caviar, tomar chimarrão, cafezinho, cachaça ou whisky, pegar criança no colo, abraçar bêbado, dançar samba, funk, pagode  ou valsa. O que importa é o voto.

Para o candidato, ir ao culto evangélico, ao terreiro de macumba, à missa, usar quipá, prostrar-se na direção de Meca, acreditar em disco voador, papai Noel, duende, e ainda afirmar que cada uma destas realidades é parte integrante de sua crença desde sempre, só tem um objetivo: vencer as eleições.

Sua empatia para com a preferência do eleitor move-se sob a força gravitacional do voto e, como sua excelência, o voto possui o mesmo peso vindo de quem vier, o candidato transformado em chuchu é temperado de acordo com o gosto, ou mau gosto, dos eleitores. Possui ainda o surpreendente poder de camuflagem e adaptação de um polvo, ajustando-se às nuances de um minado terreno sobre o qual se move como quem pisa em ovos. Busca ajustar-se ao perfil multifacetado do povo que, em época de política, oferece conclusivas provas de que gosta mesmo é de teatro.

Na corrida em direção à Presidência da República, o fato é que os candidatos, por garantia, acendem uma vela para Deus e outra para o diabo. O que torna, na prática, sem sentido a resposta que venha dar ao questionamento sobre sua fé em alguma divindade.

Em um país onde apenas 7% da população se declara atéia, posicionar-se diferente dos 93% da população pode ser, literalmente, politicamente incorreto. Por mais insincera que tal declaração se configure, são poucos os políticos suficientemente honestos para assumir sua incredulidade em relação ao Deus dos religiosos.

Mas a quem interessaria, efetivamente, a fé de um candidato em um país tão abençoadamente diversificado, também, em nível de crenças e com um sincretismo religioso tão eclético como o Brasil? Quando algum repórter esvaziado de criatividade ressuscita esta pergunta, qual o objetivo?  De que Deus está se falando? Penso que nem ele sabe pois seu interesse está no quanto a resposta possa render ao "quarto poder", em termos de audiência e dividendos.

Penso que os candidatos agem no que tange à sua fé em Deus, semelhantemente ao juiz de futebol em sua relação à sua progenitora, ou seja, deixa uma em casa, ou bem guardada no coração, e leva a outra para o estádio para satisfazer a torcida e ser de domínio público.  

Mas, se sua excelência professar crer em Deus, isso o nivelará ou até mesmo criará uma santa empatia não só com milhões de brasileiros, mas também com o próprio diabo, pois a Bíblia diz que o diabo crê em Deus. Quanto ao diabo, entretanto, sabemos não ser boa política empenhar nossa alma em sua declaração de fé, pois, segundo a mesma Bíblia, ele possui uma eterna fraqueza relacionada à mentira.

Quanto a mim, espero sim, que o próximo presidente creia.

Creia, sobretudo, na verdade. Seja verdadeiro diante de sua consciência, dos microfones e das câmeras, com os amigos íntimos e diante da nação. Que não seja mesquinho, dissimulado, cínico, incongruente ou ignorante dos fatos.

Creia no poder da educação. Investindo nos professores, intelectual, emocional e financeiramente, possibilitando-os gerar uma educação que expanda a inteligência emocional e espiritual. Investindo pesado na educação muito mais leve será o investimento necessário na saúde e na segurança.

Creia na absoluta relevância da Terra
. Atente que sociedades inteiras já pagaram com a própria extinção o desrespeito para com a Mãe Natureza.

Creia na importância da transparência. Que as leis aprovadas, as decisões tomadas, os acordos estabelecidos, as cartas de intenções assinadas, sejam fundamentados na lisura e no compromisso com o bem público. 

Creia na energia limpa.
Que a produção de energia poluidora, atrelada aos interesses financeiros e ao atraso tecnológico, dê lugar a investimentos na pesquisa e no desenvolvimento de energia limpa.

Creia na importância do exorcismo
. Que tenha coragem e Sabedoria para expulsar os demônios da injustiça, do empreguismo, da corrupção, da miséria, dos preconceitos, da ignorância, da guerra, por meio de ações movidas por amor a justiça e a paz. Que combata o inferno da miséria em todos os níveis, mesmo que não acredite no diabo, e trabalhe na construção do céu mesmo descrente de Deus.

É bom lembrar que estaremos elegendo um político, fruto da nossa sociedade, ou seja, herdeiros dos valores vivenciados por ela. Portanto, esperemos menos e façamos mais. 

Texto revisado

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Conteúdo desenvolvido por: Oliveira Fidelis Filho   
Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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