Espiritualidade e a interdependência afetiva
Atualizado dia 31/01/2010 12:00:04 em Espiritualidadepor Marcos F C Porto
Por exemplo, o processo se define mais ou menos assim: Estamos muito atraídos por algo que está muito em moda, e todos à nossa volta comentam que já o estão adquirindo, colocando nas conversas as vantagens em possuir. Indo à loja olhamos e desejamos intensamente, no entanto o preço torna a compra acima das nossas possibilidades financeiras de momento. Aí começamos a conversar conosco mesmo, sobre as desvantagens em adquirir: “Na verdade por que comprar isto agora, o que tenho está tão bom?”
Quando se trata de um objeto, até podemos diminuir e controlar nossa decepção, mas quando se trata de sentimentos da interdependência afetiva a situação poderá ser muito mais sofrida.
Vamos lá refletir sobre o tema?
Esopo foi um filósofo e fabulista da Antiguidade grega. Sabemos pouco desse personagem que muitos ainda pensam ser ele uma figura lendária. Acredita-se, porém, que viveu entre os séculos 620 e 560 a.C. Suas inúmeras e conhecidas fábulas as quais se personificavam animais, antagonizando-se as qualidades morais de nós seres humanos são atribuídas a ele, como, por exemplo: “A raposa e as uvas - uma raposa, morta de fome, viu, ao passar diante de um pomar, penduradas nas grades de uma viçosa videira, alguns cachos de uvas negras e maduras. A raposa então usou de todos os seus dotes e artifícios para pegá-las, mas como estavam ao alto, fora do seu alcance, acabou se cansando em vão, e nada conseguiu. Por fim deu meia volta e foi embora, e consolando a si mesma, desapontada disse: “Olhando com mais atenção, percebo agora que as uvas estão ainda verdes, não maduras como eu imaginei a princípio”.
A personalidade individualista está sempre entusiasticamente tentando invalidar nossa interdependência afetiva como seres humanos espirituais, filhos e filhas de Deus. E não diz respeito aos objetos que queremos, mas muito mais aos afetos que necessitamos.
Quando se trata de nossos sentimentos de afeto, nossa personalidade individualista nos previne: “Cuidado! Demonstrar é perigoso!”
E, então, quando de forma sofrida nos convencemos que não podemos conseguir o que nosso coração almeja, ao desdenhar esta necessidade, parodiando a fábula de Esopo, tentamos internamente nos prepararmos para que nossos comportamentos não expressem esta vontade.
Esperteza, poderemos chamar?
No entanto, ao tentar ser espertos, não revelando nossos sentimentos estaremos inclinados a sermos desesperançados e sabotadores de nós mesmos. Faz sentido?
A falta de entusiasmo ao assumir um bom sentimento de interdependência afetiva, é um mecanismo de autoproteção, nos precavendo da rejeição.
Mas a prevenção poderá nos magoar ainda mais, nos deixando desolados e solitários.
Deixamos assim de identificar nosso lado intuitivo mais importante, que nos diz, quanto mais profundo e intenso o relacionamento sincero com os outros, mais descontraídas serão nossas emoções. Correto?
Tais comportamentos acontecem, não porque somos contrários à interdependência afetiva. Mas muito mais pela razão de que o medo nos previne da espontaneidade em relação a amar desinteressadamente e assim compartilharmos livremente os relacionamentos.
O problema é que toda esta obscuridade, gerando expectativas negativas são, digamos, profecias das crenças limitativas de autopreenchimento.
Desta forma “o tiro sai pela culatra” como nos diz o dito popular, porque quando iniciamos, seja um trabalho, um negócio ou um relacionamento, já o fazemos com medo que irá falhar.
Este temor é destrutivo, não permitindo que quaisquer possibilidades de sucesso se manifestem. Está claro?
O clima opressivo do medo e indiferença que caracterizam todas estas empreitadas, anula o que é necessário para tornar nossos sonhos em realidade.
Assim, iniciamos com boas percepções, respostas espontâneas e brilhantes como o sol. E então passamos a nos olhar uns aos outros com ‘óculos escuros’, ofuscando as perspectivas de continuidade.
Nós, seres humanos espirituais, somos gregários, ou seja, fazemos parte de rebanhos; vivemos em bandos.
Mas as sociedades segregacionistas agem como máquinas de invalidação deste sentimento.
Com certeza já ouvimos por inúmeras vezes o dito popular: “Viva por você mesmo! Não espere qualquer coisa dos outros! Não confie, dependa só de você!”, complementando com: “Não disponha dos seus tesouros a quem não mereça!”
Sinceramente com toda esta carga de cautela, nossa liberdade ou espontaneidade dos sentimentos da interdependência afetiva, desmorona, não é verdade?
Interdependência afetiva mútua é o caminho do coração. Nosso coração diz: “Sinto-me melhor ao compartilhar meus sentimentos de afetividade com alguém, do que guardá-los só pra mim!”
Esta é a alegria do coração que se manifesta na nossa interdependência uns com os outros.
Nosso coração intui que a interdependência afetiva mútua, é imensamente superior do que ver TV, ir ao cinema ou passear de carro, fazendo tudo isso sozinho.
No entanto com o dogma da antidependência estamos criando uma geração de pessoas solitárias, vivendo sozinhas.
Mestre Jesus nos dá o ensinamento para a nossa interdependência afetiva: “Que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos tenho amado”. João 15.12.
Voltaremos ao assunto.
Texto revisado
Avaliação: 5 | Votos: 10
Marcos F C Porto – Terapeuta Holístico - Psicoterapia Holística Transpessoal – CRT 44432, Diplomado em ITC - Integrated Therapeutic Counselling, Stonebridge, UK, trabalha auxiliando pessoas na busca da sua essência, editor do OTIMIZE SEU DIA! há 23 anos, autor do livro - Redescobrindo o Eu Verdadeiro, facilitador de Grupos de Reflexão há 20 anos. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |