Fogão de Lenha

Dia desses estava visitando minha prima e ela contou que minha avó, há cinquenta anos, na cidade de Pirangi, onde nascemos, reunia seus netos e, aquecida pelo fogão à lenha, contava histórias. 

Ela dizia que, no futuro, a cidade grande teria tanta gente e carro que as pessoas teriam que andar por debaixo da terra e que os filhos não teriam mais tanto respeito pelos pais. Falava que pais e filhos se matariam e homens abusariam de crianças indefesas. 

Ouvíamos tudo isso, apalermados, acreditando que nossa querida avó estivesse delirando.

 

Não, ela não estava delirando, não. Hoje viajamos de metrô, em túneis, as cidades estão abarrotadas de gente e a violência e o desrespeito ameaçam a integridade das crianças. Será isso tudo o fim do mundo?

Diziam também os antigos que a Terra iria terminar em fogo. Pode ser, porque a camada de ozônio se desfaz e o efeito do calor já está ameaçando a vida humana... 

 

Apertem os cintos, senhores e senhoras habitantes do Planeta Azul. 

Não! O avião planetário não vai cair!

É hora de aterrisarmos nessa nova Terra.

 

O fogão da nossa avó, com as panelas de ferro cozinhando o frango pego no quintal,  traz realmente saudade.

Saibam, ela contava outras histórias. Dizia que máquinas iam substituir os bois e pra se ganhar a vida seria bem mais fácil. 

 

Ela tinha razão, observem tudo com um novo olhar, vejam que coisas maravilhosas temos a nossa disposição.

Encantem-se com tudo e todos.

 

Um dia, o mês de dezembro vai ser considerado um tempo especial, de confraternização e de alegria, realmente. E vai ser decretada uma lei:

ninguém precisa pagar contas. Em dezembro, o povo só tem que ser feliz, comprar presentes, vestir roupa nova, visitar amigos e dar mimos para seus parentes e conhecidos nos hospitais. 

 

Não seja descrente... quem acreditaria, cinquenta anos atrás, que o trabalhador receberia um salário de presente antes do Natal?
Pois é. Hoje o trabalhador tem o décimo terceiro, este brinde que a evolução social ofereceu como prêmio pelo esforço realizado durante todo ano.

 

Sim, há corrupção, mas quem em sã consciência pode condenar a má utilização do dinheiro público, quando vemos pais de família se desfazendo de seus bens, em jogos e vícios. Quem já não teve seu momento de "fraqueza", quando recebeu um troco errado e se permitiu, até com um sorriso malicioso, ir embora sem alertar a moça do caixa,

sobre o erro cometido. 

"A ocasião faz o ladrão" é ainda uma sentença pesada, mas real diante da fragilidade humana que deixa de praticar a honestidade. "Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado".

Pois é, o tempo novo chegou. Você habita uma nova Terra, acredite nisso. Talvez, falte apenas você entrar nessa nova freqüência, nesse novo jeito de ser. 

 

Eu vi, encantado e emocionado, dezenas de crianças tocando violino, violão, acreditando na vida e buscando com determinação um futuro diferente para suas existências, na Instituição criada e mantida pelo Zeca Pagodinho. E tantas outras fundações existem, mantidas por cantores, artistas, homens comuns, empresários.
O mundo novo chegou, aterrise nele.

"Falta muita coisa ainda, Wilson", sopra alguém aqui no meu ouvido.
Sim... falta seu talento, sua graça e seu empenho para que tudo se realize. 

Quando você acreditar nisso, Deus abençoará todos e tudo se concretizará, como num passe de mágica.

 

E agora, me permita, vou, em pensamento, lá no fogão à lenha da minha avó,  ouvir outras tantas estórias enquanto os gravetos crepitam aquecendo meu coração.
 

Texto Revisado