MATANDO O MAL DE FOME
Autor Oliveira Fidelis Filho
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 05/05/2011 15:34:37
É grande o circo montado em torno da morte de Osama Bin Laden. O vilão no conceito dos americanos e de muitos ocidentais, foi finalmente assassinado. Existe mesmo motivo para comemoração? Será que o mal foi eliminado ou mesmo fragilizado? Será que é possível eliminar o mal com o mal?
Até quando seremos escravos da reatividade, quer entre indivíduos quer entre nações, culturas e religiões? O que fazer diante da orientação do livro sagrado cristão quando diz: "Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem" (Romanos 12.21), ou ainda "Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei e os profetas."(Mateus 7.12).
Talvez estas orientações bíblicas não se apliquem a um mundo de ódio onde a lei é a vingança pelo mal recebido, entretanto, a lei do "olho por olho e dente por dente", do Código de Hamurabi (1792-1750 a.C.) me parece um pouco antiga e provou não funcionar.
Ouvi uma declaração de um fitoterapeuta, "irmão Luciano", : "eu não curo o câncer, eu o mato de fome." Através da reeducação alimentar e o uso de fitoterápicos, ele orienta a alcalinização e a desintoxicação do organismo, além de conscientizar sobre a necessidade da mudança de suas formas-pensamento e sentimentos negativos. Constatam-se resultados "milagrosamente" impressionantes.
O câncer se alimenta do que ingerimos, quer em termos do que comemos e bebemos, quer do que vemos, ouvimos, pensamos e sentimos. Tudo se constitui em alimentos tanto para o físico como para alma, o cérebro e o coração, podendo acidificar e intoxicar a vida. Assim se favorece a somatização das enfermidades, entre elas o câncer. Para eliminar o câncer, o mal, portanto, basta não alimentá-lo.
A Bíblia, ao registrar o Mito religioso da Criação, descreve o comportamento protagonizado pela serpente, símbolo do mal para maioria dos cristãos. Assim diz o texto: "Então o SENHOR Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." (Gênesis 3.14.15).
Gênesis torna-se uma riqueza inesgotável quando liberto das sufocantes ventosas da teologia fundamentalista. Quando não é interpretado a partir da clássica leitura histórico-descritiva e se permite ao Mito planar acima dos enquadramentos das doutrinas sistematizadas, dos dogmas de guetos. Quando é percebido grávido de símbolos, analogias, tipos e arquétipos elaborados no solo fertilizado pela poesia mística, própria do pensamento oriental.
Quando assim são percebidos, seus ensinamentos deixam de ser patrimônio de uma região, cultura ou religião, desaguando na mente e no coração da humanidade, suprindo as demandas do intelecto e da mística, do cérebro e do coração.
Voltemos à serpente: o mal que fala, rasteja, come pó e se esconde. É evidente que a serpente do texto transcrito não é literal, ainda que permaneça real, pois, cobras não falam senão em desenhos animados, fábulas e mitos. Também não se alimentam de pó e sim de pequenos animais. O Mito utiliza-se da serpente para simbolizar o mal e o conhecimento e, sobretudo, o conhecimento a serviço do mal.
Em primeiro lugar, o texto descreve a cobra, o mal, como uma força sedutora desestabilizadora; aponta para o mal da dúvida, capaz de nos desviar de projetos e possibilidades abençoadoras, que solapa a fé, tornando-nos desagradáveis diante de Deus e diante de nós mesmos. Dúvida capaz de nos deixar sob o paralisante domínio do medo, capaz de desfazer sonhos, furtar a ousadia. É, portanto, o mal da dúvida que solapa a confiança, que gera rachaduras nas convicções, que impede que os projetos se mantenham e evoluam. Enfim, é o mal da dúvida que nos faz seduzidos pelo enganoso prazer de aparentes zonas de conforto.
Há, no entanto, benefícios como o "benefício da dúvida", tão necessário no campo do direito, e sua imprescindibilidade nos domínios da filosofia. Filosoficamente falando, para pensar é preciso duvidar.
Evidentemente que a serpente como símbolo da dúvida, da contestação, do questionamento, é mal a ser exorcizado pelos detentores de poder absolutistas, seja na política, na religião e até mesmo no lar.
Outro aspecto da serpente, como símbolo do mal, é sua dimensão rastejante e a amaldiçoada "necessidade" de alimentar-se do pó da Terra. Ela não se eleva, seu interesse é rasteiro, voltado para tudo que é "baixo". Não aspira ao céu e sim a Terra. Aqui, Céu como símbolo da Sabedoria e da Essência Divina e Terra simbolizando a atitude egótica humana. Mudaremos para melhor nossa realidade caótica quando deixarmos de desejar ir para um céu supra-espacial e atemporal, fora de nós. Quando entendermos que ir para o céu é mergulhar em si mesmo, é reconciliar-se com a essência divina que em nós habita, é elevar-se por pensamentos e sentimentos iluminados e amorosos e planar como águias, sustentados pelo vento do Espírito.
Assim será possível sair da dimensão rastejante que caracteriza o comportamento humano ao longo de sua história, sobretudo no chamado mundo civilizado, com sua insaciável fome de consumismo, viciado em valores materiais que não passam de pó, pelos quais vendemos a própria alma. Ou seja, será possível resgatar a vida da atração gravitacional do que é "baixo" e deixarmos de satisfazer o "deus do ventre" que nos faz rastejantes, consumidores do pó da Terra.
O pó, aqui, é também símbolo de sentimentos menores como ódio, inveja, ressentimento, desejo de vingança, julgamento, sentimento de posse, ira, maledicências, enfim, de tudo que não expresse Amor Incondicional. É o alimento através de notícias, pensamentos, sentimentos, palavras e atos recheados de violência.
Outra característica da serpente, como símbolo da mal, é sua incapacidade de assumir responsabilidade. No registro sagrado, no momento de assumir responsabilidade, a serpente se calou. Este é um mal encontrado inclusive em pessoas boas: o mal da omissão, de não se responsabilizar. É, também, pela omissão dos bons que o mal se prolifera, que a maldade se fortalece. O mal também se alimenta do mal da omissão.
Há, entretanto a promessa que "esta (mulher) te ferirá a cabeça, e tu (serpente) lhe ferirás o calcanhar". A mulher é símbolo da sensibilidade, da essência divina, da alma; é a energia feminina, ainda "ferida" pela ação do mal, do intelecto esvaziado de amor. Mas vai nascendo um novo tempo, a Era da Energia Feminina, a Era da Alma, o Reino dos Céus. Ciclo em que a mulher ferirá de morte a serpente, quando o cérebro se deixará enamorar do coração e ambos gestarão filhos repletos de cuidado, misericórdia e bondade.
Cabe a nós, que sabemos que é do mal que o mal se alimenta, a responsabilidade, pessoal e intransferível, de matar o mal de fome.
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Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |
