Minha Mãe
Autor Fernando Tibiriçá
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 11/1/2013 2:18:51 PM
Minha mãe faleceu em outubro de 2.012, e neste mês de outubro completou-se 1 ano do ocorrido. Muitas pessoas conviveram com minha mãe, suas múltiplas atividades, sua inquietude e jeito de ser. Dentre o que fêz destaco sua carreira artística vivenciada nos anos 30. Pesquisadores e universitários prepararam um perfil artístico, de minha mãe, há poucos anos atrás e reproduzo parte deste estudo no texto que segue abaixo.
CIDA TIBIRIÇÁ
Iniciou a carreira artística cantando músicas brasileiras como sambas e marchas, além de músicas folclóricas passando depois a cantar músicas de origem norte americana como fox e rag-time. Em 1934, ingressou na Rádio Record. No ano seguinte, foi apresentada pelo compositor Silvino Neto que a ouviu cantar e a apresentou ao diretor-artístico da Rádio São Paulo, o maestro Breno Rossi, que gostou de sua voz e imediatamente a contratou para o cast daquela emissora.
Atuou também em outras rádios paulistas como Cultura, Cosmos e Difusora. No ano seguinte, venceu um concurso promovido pela revista "Som" para escolher o melhor cantor e a melhor cantora de São Paulo, tendo Januário de Oliveira vencido o concurso masculino. Em 1936, realizou excursão artística ao Rio de Janeiro, na ocasião conheceu Edison de SantAnna com quem se casou e atuou artisticamente até 1940.
Em 1935, quando de sua vitória no concurso da revista Som, assim reportou o jornal Correio de São Paulo: "Promovido pela revista "Som", encerrou-se agora o concurso para apurar, por meio da votação dos leitores, qual a melhor cantora de São Paulo. Depois de muito disputado durante cinco meses, coube o primeiro lugar a Cida Tibiriçá, cantora da PRA-5, Rádio São Paulo, com grande margem de votos sobre a segunda colocada. Em todo o ramo de atividade humana, existem pessoas com dons para vencer rapidamente, como acontece a Cida Tibiriçá, que possuidora de uma voz doce e personalidade de interpretação, tanto no fox americano como no samba brasileiro, sabe agradar os rádio-ouvintes e sabe granjear admiradores da sua arte, estando assim predestinada a fazer uma brilhante carreira".
Ainda em 1935, participou do filme musical "Fazendo Fita", que contou com as participações dos artistas paulistas Alzirinha Camargo, Januário de Oliveira, Fernandinho, Mario Gracco, e Alvarenga e Ranchinho, entre outros, interpretando a marcha-carnavalesca "Metamorfose (Eu vou na frente)", de Hudson Gaia.
Em 1936, foi convidada pela Rádio Cruzeiro do Sul para realizar uma excursão ao Rio de Janeiro, atuando naquela emissora e também no Cassino Copacabana. Nessa ocasião participou das filmagens do filme "Samba da vida", da Cinédia cantando música carnavalesca. Nessa época, seu repertório incluía composições inéditas de autoria dos compositores Marcelo Tupinambá, Lírio Panicalli e Ari Machado. Ainda em 1936, foi contratada pela Columbia e gravou com acompanhamento da Orquestra Columbia o fox-trot "Fazendo uma canção de amor", e a valsa "Esperando um amor que não vem", ambas de Ari Machado e Lírio Panicali. Aproveitando sua estadia no Rio de Janeiro lançou seu segundo disco pela Columbia a valsa "Você é minha melodia", de Marcelo Tupinambá e Roberto Andrade, e o fox-trot "Não voltes para mim", de Lírio Panicalli, com acompanhamento da Orquestra Columbia.
Também em 1936, cantou no Cassino do Copacabana Atlântico, apresentação assim noticiada pelo jo rnal "Gazeta de Notícias": "Cida Tibiriçá, a estrela do broadcasting paulista, que ontem estreou com grande sucesso na PRD-2, Rádio Cruzeiro do Sul, estreará hoje à noite, no Cassino Copacabana, onde será apresentada, cantando "fox" americano e fazendo a imitação de Betty Boop, com acompanhamento do conhecido Jazz Simão Butman e para mais brilhantismo dessa sua estréia, fazendo um numero em conjunto com o insuperável Bando da Lua, que tomará parte nessa apresentação de estréia".
Por ocasião de sua visita ao Rio de Janeiro, ganhou um perfil feito pelo compositor Lamartine Babo na coluna "Perfis e Perfídias" mantida por ele no jornal Gazeta de Noticias: "Paulistinha querida, estonteante/Que imita Betty Boop.../fiel desenho.../Nos foxes... nos blues... seu desempenho/É de felicidade comprovante./Silhueta. Mignon. Leve. Galante./Perfila-la é o prazer maior que eu tenho.../Olho o retrato... fito-a. É grande o empenho
De fazer um perfil.../cópia flagrante!.../Mas... Cida é muito mais que os meus sonetos!/Seu riso, o olhar, a voz, são três tercetos/Iguais aos de Bilac... indefinidos.../Brasileira no nome e de nascença/Cida Tibiriçá é a nova crença/No teatrinho do lar… /nossos ouvidos!...".
Em 1937, gravou de Ari Machado, com acompanhamento da Jazz Columbia, a marcha "Fita de cinema" e o samba "Pra ganhar um amor". No mesmo ano, também com acompanhamento da Jazz Columbia gravou o fox-trot "Emocional", de Augusto Vasseur e Fernando Faissal, e a valsa "Sempre quis cantar uma valsa assim", de Aloísio Silva Araújo. Nesse ano, encerrado seu contrato com a Rádio Cruzeiro do Suil, assinou com a Rádio Difusora na qual estreou cantando acompanhada pela Jazz Difusora sob a direção do maestro Fernando Montenegro.
No mesmo ano, foi contratada pela Rádio Tupi Paulista onde foi atração na inauguração da rádio. Com seu casamento em 1938, continuou ainda atuando em dueto com o marido nas Rádios paulistas, mas abandonou a carreira artística em 1940, depois de gravar quatro discos com oito músicas pela gravadora Columbia e tendo se tornado a "Rainha do Rádio paulista".
E foi uma boa mãe, avó e bisavó. Cuidou de mim quando tive um grave acidente automobilístico. 24 horas por dia durante mais de 6 meses. Era a enfermeira e cuidadora. Coisa que só uma boa mãe faz.
Meu pai está numa clínica, internado com Alzheimer ( leia Por que prolongar a vida ? neste meu site ), e entre suas atividades está o andar num bosque, assobiando e cantarolando, músicas do repertório de minha mãe e outras que, juntos cantavam. Nesse seu andar solitário, ele aguarda pelo momento de encontrar seu amor.
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