O Sopro Fatídico de Maya - Parte 1
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Autor Sadhaka Natha
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 08/01/2011 03:51:57
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Eu lhe trouxe a pluma, e ele me disse:
- Mantenha esta pluma no ar, o máximo de tempo que você puder. Não a deixe cair.
Atirei a pluma ao ar e ela pairou como a semente de um dente-de-leão, voando leve e sutil. Cada vez que ela decaía seu nível, novo impulso eu lhe proporcionava, para que ela não fosse ao chão.
- Observe a sombra da pluma na parede. - apontou-me ele. - O que a pluma faz, a sombra repete, ambas são a mesma coisa. Parecem ser duas, mas são apenas uma. A pluma é o Ser, a Verdade, a Consciência. A sombra projetada é o ego profano, o pequeno "eu" que se julga tão-somente uma manifestação transitória, refém da ignorância e da morte por incontáveis ciclos. Observe novamente a pluma e sua sombra na parede. O que é que nunca acontece nessa situação?
- A pluma e sua sombra nunca se encontram. - respondi.
- Exato. - afirmou o Ser da Luz. - E é o isso que a mente, Maya, faz. O trabalho dela é manter as duas separadas. Primeiro ela projeta a sombra ilusória da pluma e nos faz acreditar que somos apenas isso, um rascunho, um rabisco da Verdade. Seu sopro fatídico bafeja o mormaço que mantém a pluma suspensa e impede o encontro dela e de sua projeção por tempos imensuráveis. A mente é especialista nesse ato sinistro de impedir que o ser humano perceba a Verdade. Ela não desvia sua atenção da pluma nem por um milionésimo de segundo sequer e pode mantê-la suspensa indefinidamente.
E prosseguiu o Ser da Luz:
- Mas ouça o que lhe digo. É inevitável, para cada ser humano, o encontro da pluma e de sua projeção. Todos estão destinados à Luz e à Consciência no tempo da persistência e da credulidade de cada um.
•••
A Conscientização Espiritual vislumbra-se no silêncio e na harmonia do encontro natural de uma pluma com sua sombra projetada ao solo. Leveza e paz. A pluma é a Verdade, a sombra, seu pálido reflexo ilusório. A separação da pluma e de sua sombra cria a dualidade, a ilusão, a mentira de que Deus está lá e nós estamos aqui. Somos a Verdade do Ser, mas acreditamos ser apenas um esboço dessa Verdade, a sombra do ego mental. O encontro da pluma com a sombra constitui a própria autorrealização espiritual, sendo esta inevitável. O tempo é irrelevante; a busca, imprescindível. A união, ao final, é o estado natural. A unidade é o fim da caminhada dual, é o seu destino e conclusão. Em verdade, nunca houve pluma, nem sombra. Apenas o Ser persiste. Apenas o Ser é. Somente Ser. Ser.A mente é o sopro mórbido que mantém a pluma suspensa e tenta impedir o encontro das duas. Esta mente é incessantemente falsa e inexistente e o seu trabalho é iludir. Sua ilusão adia a junção das partes que, em verdade, nunca estiveram separadas. Ela tresanda seu mormaço sob a pluma por incontáveis ciclos. É fria, precisa e especialista nisso e somente a isso se dedica: distrair da Verdade. Para todos os lados que olhamos, somente a mente vemos, jamais a pluma. É como se olhássemos para um espelho e não conseguíssemos distinguir o que enxergamos refletido. Convencemo-nos, então, de que somos apenas a sombra projetada da Verdade. Contudo somos a própria realidade. Somos abençoados e bem-aventurados. Somos merecedores de toda a abundância em todos os sentidos. Porém a mente insiste em adiar. Ela sopra, sopra e sopra seu fôlego inerte, sinistro. E a Verdade permanece flutuando ao nosso redor, óbvia e imperceptível. Uma zombaria da mente.
O que fazer? Como anular a mente e resgatar a Pluma da Verdade de suas mãos profanas? Na verdade, não queremos resgatar nada, porque já somos o Ser, a pluma, apenas não possuímos a consciência dessa verdade. Antes não sabíamos da pluma e a mente jamais permitiria que soubéssemos. Quando de tudo somos ignorantes, a mente nos dá mais dessa ignorância. Seu trabalho nefasto é adiar o inevitável. Assim ela cumpre seu papel. Projeta seus cinco sentidos e encharca-os de percepções sensoriais de infinitas cores, formas, sons, cheiros, gostos, prazeres, entretenimentos e ópio. Esta é a primeira camada de Maya, o corpo e a doença. E, enquanto isso, a pluma continua a flutuar.
E para que não escapemos de suas distrações sensoriais, a mente lança seu marketing: desejo, insatisfação e vício. E voltamos a buscar suas ilusões, reforçadas por frenéticos lembretes, as emoções. E sentimos. Sentimos muito medo, raiva, preocupação, ressentimento, frustração, vitimização. Emoções que nos paralisam. E sentimos mais. Sentimos impulsividade, paixão, desprezo, soberba, prepotência. Emoções que nos atiçam. A mente ocupa os dois pólos: o do bem e o do mal. Não há segurança em nenhum dos dois extremos. Por isso não há boas ou más emoções, pois todas são distrações que surgem, ou por que obtemos o que desejamos, ou porque não obtemos o que desejamos. A mente é a mãe da dualidade e os dois extremos são seus. Somente o caminho do meio não pertence a ela, e o nome desse caminho é neutralidade. E, enquanto isso, a pluma continua a flutuar. As emoções e o sofrimento, esta é a segunda camada de Maya.
Depois, deitamos a cabeça ao travesseiro, fechamos os olhos, tapamos os ouvidos e calamos a boca e, algo fatídico acontece: o pensamento expele seu próprio kit de sentidos. Ele possui seus próprios olhos, ouvidos e boca. E tudo se repete como se lá estivéssemos. A mente replica seu arsenal e, mesmo sonhando, lá estamos, vendo, ouvindo, falando e sentindo. A mente nos dá tudo isso para atrair nossa atenção para outro ponto que não seja a pluma. Mas tudo o que ela nos dá é uma bela e grande montanha de lixo, um grande amontoado de complexidades sem propósito a que teimamos em dar importância.
O Sopro Fatídico de Maya - Parte 2>>
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Sadhaka Natha divulga os ensinamentos e a mensagem do Ser da Luz, visitante que se apresentou a ele quando tinha 31 anos de idade e que modificou sua vida para sempre. Uma trilogia de livros foi escrita e publicada com diálogos e codificação de suas palavras e preceitos. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |