O ÚLTIMO ATO
Atualizado dia 16/07/2012 12:26:49 em Espiritualidadepor Christina Nunes
Estes dias conversava em família sobre espiritualidade, mediunidade e temas afins, e em dado momento o assunto enveredou para a repisada questão Nibiru e 2012, a pretexto de uma palestra que assisti há dias na internet, do autor espírita André Luiz Ruiz. Bastante impressionante, porque não exatamente, durante as duas horas em que expôs com lucidez sobre o tema, ele pretendeu convencer ninguém do que quer que fosse ou fazer alarmismo. Antes, concitar as mais de cem pessoas presentes no auditório a pesquisarem sobre o que propunha, ao exibir fotos e dados de agências espaciais retratando estranhas anomalias no sistema solar acontecidas nos últimos meses, e, daí, a extrairem suas próprias conclusões.
Não me atinha, durante a conversa na minha intimidade familiar, a protestar certezas sobre nada, até porque meu lado racional, ou talvez mais acertadamente a terceira visão, repele francamente qualquer expectativa dramática para mais este ano de peculiaridades proféticas como tantos já houve. Mas ouvi um argumento, a certa altura, que me compeliu a esclarecer melhor, deste posicionamento, as causas: - Ora, mas se as coisas estiverem mesmo acontecendo do modo como este escritor expôs, por que você continua? Por que haveríamos de continuar fazendo tudo normalmente?! Você fala nisso e aparenta certa preocupação. Mas se daqui para dezembro há um grande risco do mundo emborcar o polo magnético, de nada adiantaria insistirmos na rotina de todos os dias!
Foi, portanto, neste ponto que não pude deixar de recordar Iohan e sua assertiva, exposta como abertura deste artigo e extraída de um trecho bastante inspirado do seu tocante livro "Sonata ao Amor": "A vida, simplesmente, prossegue...", válida como resposta a qualquer tempo - tanto para contextos dramáticos de vida como o que ele enfrentou, sendo um portador do vírus HIV que agora retorna para oferecer, via literatura mediúnica, o seu testemunho de que, a despeito das suas grandes dúvidas anteriores, a vida apenas prosseguiu noutras esferas, quanto também para questionamentos como o que ouvi durante o peculiar diálogo de dias atrás!
E respondi: - Em absoluto não tenho preocupação, e faço questão mesmo de prosseguir meus dias como deve ser! Porque tenho convicção de que aqui ou em qualquer outro lugar simplesmente vamos continuar, e bem possivelmente, se estas coisas surpreendentemente se confirmassem, em contextos de vida melhores!
- Mas se há o risco de tudo acabar, por que você continua estudando violino?!...
Quem insistia no argumento confuso era minha mãe, a esta altura da vida praticamente cética para com tudo que não passe pelo crivo apurado de indícios fortes o bastante - de preferência, o dos sentidos! - para convencê-la, como nova versão de São Tomé.
- Ora... - Respondi, com certo humor, embora sincera e convicta - Porque, na certa, continuaria fazendo a mesma coisa "do lado de lá"!...
E o assunto se esvaiu naquela espécie de impasse, desviando-se para outras banalidades, enquanto eu mergulhava em reflexões, a partir mesmo do exemplo do querido músico e amigo que, de outras dimensões, vem se mantendo próximo na atual fase de parceria da minha produção literária espírita. Porque, apesar de naquela sua última vida não ter necessariamente sido um partidário de temas e convicções espiritualistas, fora ele, de outro lado, um otimista incurável! Carregava em si um fardo de ordem cármica que, em muitos, seria de molde a arruinar-lhes ímpeto de vida e otimismo, e no seu caso, ao contrário, foi enfrentado por uma inabalável convicção de que desistir de manter seus objetivos e esperanças nalgo melhor no futuro seria a última opção possível!
Músico, galês, e então portador de raízes religiosas assentadas em correntes diametralmente opostas às percepções mais imediatas das realidades do espírito, convicções adquiridas mais facilmente por quem possuí diretrizes íntimas de fundo espiritualista, algo nele - talvez que uma sensibilidade intuitiva muitíssimo avançada com origens em vidas milenares na atmosfera das antigas vivências druídicas - lhe instilava um poderoso sopro renovador, a lhe manter acesos, de forma maravilhosa, o otimismo, o humor, e o indiscutível virtuosismo naquilo a que se propôs, como mestre e realizador musical!
Iohan, indiscutivelmente, intuía esta continuidade pura e simples - e, contra todos os prognósticos desfavoráveis da moléstia que acabou por arrebatá-lo às esferas mais depuradas ao redor da Terra, persistiu, e conquistou, ainda aqui, inefável estado de felicidade amorosa! Fez feliz, e foi feliz, a despeito de todas as perspectivas em contrário que uma das facetas de sua última estadia material lhe outorgou! E foi este o exemplo maior que me ocorreu durante a palestra acalorada sobre os próximos acontecimentos neste mundo, em cuja face material estagiamos de modo indiscutivelmente fugaz!
Como nos acontece inevitavelmente todas as manhãs, meus amigos, tudo seguirá sempre, ao exemplo exato de um simples fechar e abrir de olhos, no intervalo vertiginoso de nosso desprendimento noturno. E, acima de nossos maiores temores ou dúvidas neste sentido, no momento exato - e não importa se sob os efeitos de mudanças planetárias de maior ou menor impacto nos próximos meses, ou daqui a alguns ou muitos anos, vitimizados por alguma moléstia ou depois de agradável ou imperceptível período de sono - o fato é que continuaremos!
Continuaremos amando, realizando, e nos preocupando. Auxiliando quando o podemos, ou nem tanto. Sendo auxiliados e estimados, e sorrindo ou sofrendo por saudades ou alegrias, a grande verdade é que aqueles de vocês que apreciam ler, dançar, ajudar, ouvir ou fazer música, ou escrever e trabalhar com afinco em qualquer área da vida, prosseguirão como são, pura e simplesmente! Aqui, ou noutros dos setores incontáveis do universo onde a existência prolifera incessantemente, renovando cenários e opções para o livre exercício de nossas escolhas!
E é assim que Iohan continuará regendo, tocando e ensinando música, até quando o queira; meus familiares, amigos e conhecidos trabalhando, aprendendo, realizando e movimentando-se continuamente por aí... E eu, que, entre outras vivências, agora escrevo em parceria com estes amados habitantes de outras dimensões, estudo e toco violino, bem provavelmente darei prosseguimento natural a tudo, quando um dia me transportar destas paisagens para outros lugares situados para além do alcance dos sentidos físicos.
Não existe o último ato! E todos nós, que aqui e agora estamos, plenos desta vida inesgotável, um dia, impreterivelmente, e de algum modo desconhecido, fecharemos as cortinas dos nossos próprios enredos transitórios na matéria, deixando, como miragens celestiais, estes palcos mais densos nos quais aprendemos e vivemos tantas emoções importantes, para apenas surgirmos noutros lugares e roteiros, atuando no fio contínuo dos infindáveis papéis que interpretamos no drama imenso da Criação!
Texto revisado
Avaliação: 5 | Votos: 9
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |