OS DROGADINHOS - Órfãos de pais vivos 5/11

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Autor Dante Bolivar Rigon

Assunto Espiritualidade
Atualizado em 5/30/2012 5:18:27 PM


  Continuação - 5/11

 Poderia faltar um ou outro, mas o principal responsável e o Marcão deveriam necessariamente ser submetidos. Logo em seguida J.P. apresentou-se à polícia e denunciou o traficante com todo o seu esquema combinando uma emboscada na própria residência dele que na verdade era sua fortaleza. Ficou acertado que à tarde do dia seguinte, pelas quatro horas, quando o traficante normalmente encontrava-se em casa conferindo o recebimento da semana um garoto ligaria para J.P. solicitando determinada quantidade de tóxico. A esse sinal, em exatamente três minutos, os alarmes deveriam estar desligados e os portões eletrônicos abertos.

Feito isso, J.P. deveria sair da linha de perigo, pois seria a principal testemunha da promotoria. Como o comando do sistema de alarme ficava no andar superior e o dos portões no inferior, eu participaria. Tudo correu como o planejado, mas quando os policiais estavam entrando na casa alguém gritou para não acertar o garoto justamente no momento que J.P. retornava à sala em que nos encontrávamos, ficando caracterizada sua ligação com os invasores. Com um ódio intenso em sua fisionomia, o traficante praguejou um nome obsceno, sacou da pistola e atirou contra o peito de meu irmão. Nesse instante os policiais arrombavam a porta e em resposta ao tiro metralharam o traficante. Desesperado, corri para J.P. que no estertor da morte ainda sorriu para mim passando a mão nos meus cabelos. Um policial abordou-me solicitando que me identificasse, e quando me apresentei como irmão de J.P. mandou que fosse embora mas não saísse de casa pois no dia seguinte iriam interrogar-me.

À noite, desalentado, deprimido, desesperado e totalmente perdido devido aos pavorosos acontecimentos que povoaram meu dia e minha vida, recolhi-me ao quarto disposto a drogar-me e tentar dormir. Foi então que apareceu S.R., o encarregado de suprir e fiscalizar nosso estoque. Abraçou-me com pesar e se dispôs a ficar aquela noite comigo, pois eu necessitava de companhia depois de tudo o que acontecera. Preparou a cama com cuidado, e depois de acomodar-me carinhosamente carregou a seringa com a droga. A seringa estava cheia e eu falei que era muita coisa, mas disse-me ser outro produto, o usado pelo traficante quando estava com muito estresse. Quase como uma mãe amorosa que cuida do filho adoentado, acertou a veia de meu braço e lentamente foi injetando a droga até que todo o conteúdo desaparecesse em meu corpo. Em seguida, com todo o carinho que lhe foi possível, entre chorando e sorrindo beijou-me, acariciou-me, afagou meus cabelos, cobriu-me com todo o cuidado, e com vagar dirigiu-se à porta fechando-a carinhosamente após sair do quarto. Aos poucos, lentamente, a droga misturada ao sangue dominou-me por completo. Uma ardência forte, um pequeno mal estar, uma forte dor no peito, e depois um relaxamento, uma leveza, uma alegria, uma paz. Sentia que flutuava, que estava livre, leve, feliz. Notei que me encontrava bem acima da cama e via meu corpo deitado sob as cobertas sem necessitar virar-me para olhar. Aos poucos, no meio da explosão de luz que me banhava começaram a aparecer silhuetas e percebi dois garotos vestidos de branco examinando meu corpo, e na minha frente pairava um senhor de idade vestido com uma túnica branca e com os braços estendidos sorria para mim. Enquanto o observava senti em meu cérebro uma explosão de intensa luminosidade seguida de muita dor, e no desespero me vi flutuar para os braços do simpático senhor. Ao aproximar-me, aconchegou-me em seus braços, e passou a alisar meus cabelos olhando fixamente mas com muito amor em meus olhos sempre falando palavras que me traziam confiança, amor, paz, tranquilidade. Não sei quanto tempo durou esse momento, pois acabei dormindo nos braços dele. Acordei dias depois em um quarto deste mesmo hospital em que estamos, assistido por uma simpática enfermeirinha.

- Meu Deus do Céu! - disse eu apalermado. - Há quanto tempo estamos aqui? Onde está J.P.? O que aconteceu ao resto do pessoal? Afinal que lugar é este?

Com seu sorriso demonstrando certa tristeza meu amigo informou-me: Meu irmão está em uma espécie de enfermaria de terapia intensiva neste mesmo hospital. Ainda não despertou e segundo seu médico levará algum tempo para recuperar-se, pois comprometeu-se bastante nessa encarnação. Quanto ao que aconteceu por lá nada sei a não ser nossos enterros que me foram narrados por Rosinha há poucos dias.

- Rosinha? - indaguei atordoado. - Rosinha também veio parar aqui?

- Ela está conosco, em uma unidade de recuperação na ala feminina. Morreu vítima de uma bala perdida, mas em alguns dias estará totalmente recuperada. O que eu sei é pouca coisa: poucos dias depois que J.P. foi assassinado, seu avô socorreu-o e o trouxe para cá. Foi ele que também me assistiu nos últimos momentos conduzindo-me em seus braços até aqui, e a Rosinha foi socorrida por uma parente sua. O meu caso foi bastante curioso: mais ou menos duas horas após a saída de S.R., chegou esbaforido o V. dizendo à cozinheira para avisar-me que queriam matar-me e o encarregado seria o S.R. Morto o contrabandista, os fiscais resolveram adonar-se do que sobrou, e eu seria o empecilho na mão do promotor. Desesperada, a cozinheira correu ao meu quarto encontrando meu corpo morto. Sem saber o que fazer, resolveram vestir-me com a roupa nova mandada fazer para eu usar na próxima recepção. Segundo Rosinha fiquei muito bonito de gravata. De madrugada, quando não havia mais movimento nas ruas, levaram meu corpo para a pracinha perto do colégio, deitaram-me no canteiro de flores mais bonito, e pela manhã pediram a dois garotinhos que passavam em direção à escola para ver que coisa era aquela. Imagina o resto. Naquele dia não houve aula, nem no outro, e o grêmio do colégio, após os trâmites legais, promoveu o velório e o enterro. Diz a Rosinha que foi emocionante. Teve até televisão. Quanto ao seu, todos acharam estranho, pois apesar de ficar abandonado no mato quatro dias, não havia sido tocado nem por uma formiga, e sua fisionomia estava tão tranquila, parecendo mesmo feliz, apesar do mal que fizeram.

Pareceu-nos que seguidamente A.R.C. demonstrava dificuldade em concatenar as idéias, e Jonas interrogou-o:

- Parece-me que sente cansaço. Gostaria de interromper a narração?

- De fato não estou me sentindo muito bem. Se fosse possível gostaria de descansar um pouco. Parece que meu acompanhante deseja falar[1].

                                                               Continua sexta-feira



4 A pronúncia de A.R.C. é a mesma dos garotos das ruas cariocas, usando a gíria em todos os assuntos. O médium inicialmente tentou transmitir conforme o original atrapalhando-se, pois sua mente não armazena tais expressões idiomáticas. NA.


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