PENA DE MORTE e ESPIRITUALIDADE
Autor Maísa Intelisano
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 09/09/2009 13:03:51
Há um ditado popular que diz: "Um erronão justifica outro". É assim que as doutrinas espiritualistas encaram a questão da pena de morte em suas premissas básicas.
Sejam quais forem os erros de uma pessoa, sejam quais forem os seus crimes contra as leis humanas ou divinas, não nos cabe o direito de julgá-la e condená-la, quanto mais de tirar-lhe a vida a pretexto de a estar cobrando pelos crimes que cometeu.
Nenhum ser humano tem o direito de tirar a vida de outro ser humano. A vida é graça divina, concedida a cada espírito da criação como meio de crescer, amadurecer, evoluir e aperfeiçoar-se.
Não é eliminando os criminosos que vamos resolver o problema da violência e da criminalidade no mundo. Essa é uma medida de remediação ilusória: eliminamos sumariamente o problema DEPOIS de ele ter-se manifestado e não fazemos nada para evitar que o mesmo problema volte a acontecer.
A verdadeira solução está em ver, no criminoso, um espírito perturbado, desequilibrado, que perdeu a noção de sua condição de criatura divina, destinada à felicidade e à perfeição. A solução realmente eficaz é esclarecer as criaturas para que elas sejam mais conscientes de si mesmas, do mundo, do próximo, tudo como parte da criação.
É muito cômodo identificar um criminoso, julgá-lo, condená-lo e eliminá-lo como se elimina um tumor qualquer, que não pensa nem tem sentimento. É muito mais fácil ignorarmos a condição humana de um criminoso e fingirmos que ele é diferente de nós, inferior, podendo ser sumariamente eliminado.
O difícil é ver no criminoso um anjo em potencial e tentar levá-lo a alcançar essa condição de anjo. O difícil é procurarmos entender o que levou aquela consciência a ser o que é e tentarmos ajudá-la a sair desse estado doentio.
Imaginemos o que seria da humanidade se executássemos sumariamente toda criança que agride um amiguinho ou um irmão mais novo. Estaríamos perto da extinção. As crianças cometem vários "crimes" durante a infância e a adolescência e, no entanto, nós não as eliminamos friamente, porque entendemos que elas precisam ser orientadas, amadas, incentivadas para o bem, reconhecidas como criaturas de valor, para que cheguem a ter noção do que é certo e errado.
Todo criminoso é uma criança espiritual que ainda não teve a chance de aprender a amar e ser amado, respeitar e ser respeitado, e ajudar o seu próximo enquanto também é ajudado. Com uma mente infantil e, na maioria da vezes, extremamente carente de afeto e orientação, o criminoso é um espírito perturbado, infeliz, que sofre com a sua condição sem entender exatamente o que se passa. É essa a imagem que devemos ter em mente: todo criminoso, por mais cruel e frio que seja, é um espírito em evolução exatamente como nós, necessitado, acima de tudo, de orientação. Quem garante que no nosso passado espiritual nós mesmos já não cometemos os mesmos crimes que hoje condenamos em outras pessoas?
Mas, se por um lado a solução não está na eliminação sumária desses criminosos, ela também não está no encarceramento desumano que muitas vezes vemos por aí. Até um animal quando encarcerado em precárias condições reage com violência e revolta. Sendo seres humanos que pensam e sentem, os criminosos precisam, sim, ser apartados da sociedade, mas não para estarem simplesmente afastados das nossas vistas, e, sim, para serem orientados e reequilibrados por meio de trabalho ativo, chance de estudar e aprender coisas novas e positivas, tratamento adequado, etc.
Como vemos, a solução para a violência humana não está nem na eliminação fria dos criminosos, nem nos afastamento sumário desses criminosos do meio social humano. Para que eles reaprendam a viver bem com outros seres humanos, eles não podem perder o contato com os seus iguais, nem podem ser rotulados como animais irracionais.
Como se esses argumentos não bastassem contra a pena de morte, as doutrinas espiritualistas ainda nos dão mais um. Ao aplicarmos a pena de morte num criminoso, estamos matando apenas o corpo, enquanto o espírito permanece vivo para continuar a alimentar seus desvios, ódios e revoltas no plano espiritual. Com um agravante: mantendo-o vivo podemos controlar sua ação, mas, ao matá-lo, nós o libertamos, permitindo que ele aja livremente.
Temos também que nos questionar: quando matamos o corpo do criminoso, com o intuito de puni-lo, sabendo que o espírito permanece vivo e consciente, que tipo de lição estamos dando a ele? Que tipo de mensagem estamos passando? Estamos diminuindo as causas do seu desequilíbrio ou estamos contribuindo para alimentá-las com os nossos próprios preconceitos, ressentimentos, medos, etc.?
A pena de morte, mesmo que não seja considerada crime perante a lei de muitos homens, é SEMPRE crime perante a lei de Deus, pois a vida humana é sagrada. Cada encarnação custou ao plano espiritual muitas energias, tempo, programações, acordos, esforços e preparativos para se concretizar. Não temos o direito de frustrar esses esforços sob o pretexto de corrigir a sociedade.
A sociedade é o que fazemos dela. Cada povo atrai para si exatamente aquilo que precisa e merece, de acordo com o que pensa e sente em relação ao mundo, à vida e à humanidade.
Como parte da sociedade, somos também responsáveis pelo estado em que ela se encontra, pois vivemos, pensamos e nos movimentamos nela, manifestando nossos sentimentos a cada passo.
Espíritos que já viveram muitas experiências encarnatórias, somos o nosso próprio antepassado e podemos ter contribuído diretamente para as condições atuais do mundo em vidas anteriores em que ainda não enxergávamos as coisas com a mesma clareza de hoje. Com que direito, então, julgamos e condenamos outros seres humanos que nada mais fazem do que refletir o estado moral da sociedade em que reencarnaram?
Ainda que hoje levemos uma vida digna, honesta e pacífica, não temos certeza de que foi sempre assim. Como saber se em outra existência não teríamos sido condenados à morte desejando apenas uma oportunidade para rever nossas atitudes? Quantas criaturas será que não sofreram a violência em nossas mãos antes que aprendêssemos alguma coisa de respeito, fraternidade e amor?
E quem nos garante que o criminoso que condenamos hoje à morte não virá a ser nosso filho, nosso irmão de sangue, nossa mãe ou nosso melhor amigo numa existência futura? Que tipo de relações estamos cultivando para nós mesmos no futuro? Relações de amor ou de ressentimento?
Psicoterapeuta com formação em Abordagem Transpessoal, Constelações Familiares, Terapia Regressiva, Florais de Bach e Reiki II, é também tradutora e revisora; palestrante e instrutora em cursos sobre espiritualidade e mediunidade; e fundadora e presidente do Instituto ARCA de Mediunidade e Espiritualidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |