Quem é você, o mestre ou o escorpião?
Atualizado dia 8/12/2015 12:18:31 PM em Espiritualidadepor Flávio Bastos
Atribuem a sua forma aética de agir ao seu passado, às experiências relacionais que tiveram com as figuras referenciais da infância. Culpam o pretérito, o destino e as circunstâncias da vida. Possuem autocrítica, percepção do mal que causaram às pessoas e vontade de mudar, de adquirir uma visão da vida que não seja a de enganar ou aplicar golpes contra seus semelhantes.
No entanto, à medida que o processo terapêutico avança e as verdades começam a ser reveladas à luz da consciência, estes indivíduos sentem o "choque de realidade" pelo fato de suas trajetórias vitais serem carentes de valores éticos, morais e transcendentais. Ou seja, percebem que suas vidas são fundamentadas na tirania do ego, na ilusão da matéria e do efêmero poder.
Esta percepção de si mesmo inserido no contexto vital, serve para uns como um despertar de consciência. Mas para outros, serve para emitir um sinal de alerta em relação ao risco que correm caso seja alterado o modelo comportamental que os acompanha há muito tempo. Modelo que traz na sua essência a índole de cada indivíduo, e que se for alterado pelo fluir do autoconhecimento provocará uma revolução interior no indivíduo de má índole, o que exigirá uma reacomodação comportamental que mudará significativamente a sua visão de mundo em relação ao sentido da vida.
Essa desacomodação de um estado de coisas implica em desafio, que é o desafio da mudança interior pela autodescoberta. Prática que pode tornar-se um empecilho pelo medo de desbravar um território desconhecido da mente, e pelo risco de recaídas associadas ao velho padrão comportamental.
Muitos indivíduos que trazem de outras vivências a marca da má índole, tentam, inconscientemente, sublimar a sua tendência escolhendo profissões pelas quais poderiam ajudar a si mesmo e ao semelhante de forma honesta. Porém, deixam-se levar novamente pelas ilusões e praticam atos que reproduzem o estado de coisas ao qual encontram-se espiritualmente aprisionados.
Para o terapeuta perceptivo e atento às artimanhas da mente humana, ajudar essas pessoas a se autoconhecerem é sempre uma incógnita, pois muitas surpresas podem acontecer durante o processo terapêutico, como a omissão ou manipulação da verdade relacionada a fatos passados, vitimização de "fundo falso", resistência, encenações de ocorrência catártica e não cumprimento de acordo relacionado aos honorários, entre outras.
Levar vantagem é a regra que muitos indivíduos trazem de vivências passadas, e por mais que manifestem vontade de libertarem-se da culpa, cedo ou tarde recaem no ciclo vicioso ao qual estão atrelados. No entanto, para alguns a experiência terapêutica serve para mostrar que eles podem avançar no caminho da autodescoberta, é só querer e persistir na caminhada, que pode ocorrer no momento atual ou em outro momento de suas trajetórias existenciais.
Portanto, o Livre-Arbítrio é o limite entre o indivíduo e a psicoterapia. O uso dessa ferramenta por parte do paciente pode inutilizar quaisquer tentativa de ajuda por parte do psicoterapeuta. A dissimulação e a insistência no uso de máscaras que encobrem a verdade de cada indivíduo, podem tornar inviável o processo terapêutico que usa a revelação à luz da consciência como instrumento indispensável em sua dinâmica.
Historicamente, a perversidade encontra-se arraigada à cultura humana do planeta Terra. Porém, o simples fato da pessoa de má índole buscar ajuda para superar esta tendência, é indicativo de que a centelha do bem reside em seu coração, embora ela ainda não tenha suficiente clareza ou força de vontade para alterar o seu modelo comportamental.
No fluxo existencial, tudo tem o seu momento e, para o ser humano, o Livre-Arbítrio é o que define o momento de processar a libertação das amarras do passado. Sem esta ferramenta sendo utilizada em benefício próprio, a ajuda externa torna-se mais uma ilusão tanto para a pessoa como para quem se dispõe a ajudá-la.
Para as pessoas de má índole, a clareza de intenções na relação consigo própria e com o outrem, é a maior "batalha" de suas experiências vitais, pois tornar claro e transparente o que por muito tempo foi sombrio e opaco, significa travar uma revolução interior, cujo resultado final dependerá do cumprimento de etapas ao longo do caminho.
A antiga parábola "O mestre e o escorpião", que serve para um exercício reflexivo, informa-nos que o mestre e os seus discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O mestre, então, correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o escorpião na mão. Quando o trazia para fora, o escorpião o picou e, devido à dor, o mestre deixou-o cair novamente no rio.
O mestre voltou à margem, pegou um galho de árvore, correu, entrou no rio e salvou o escorpião. Quando o mestre, sentindo muita dor, reuniu-se novamente com os discípulos, que haviam assistido a cena, eles disseram perplexos e penalizados: "Mestre, deve estar doendo muito! Por que foi ajudar esse bicho ruim e venenoso? Ele que se afogasse! Seria um a menos, pois retribuiu a sua ajuda picando a mão que o salvara! Não merecia a sua compaixão nem mesmo sua generosidade".
O mestre carinhosamente respondeu: "O escorpião agiu de acordo com a sua natureza. Melhor compreender e aceitar os seres com quem nos relacionamos. Não podemos e nem temos o direito de mudar o outro, mas podemos mudar a nós próprios, mudar nossas intenções e reações, aceitando que cada um dá o que tem, o que pode ou quer. Devemos agir conforme nossa natureza e não conforme a do outro".
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Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |