SEM MEDO DE SER FELIZ
Atualizado dia 10/07/2012 12:40:55 em Espiritualidadepor Christina Nunes
O assunto Deus incomoda a muitos. Por quê?! Pelas mesmas razões pelas quais os noticiários trágicos dão mais ibope, e as boas notícias, não! Por um certo masoquismo vigente hoje em dia em mentes e almas que lotam cinemas, ou se detêm diante da tv após um dia inteiro de cansaço metidos nas correrias profissionais, para assistir justamente a novela ou o filme de teor sangrento ou violento - embora muitas vezes oferecido sob os álibis bem construídos das produções cool ou intelectualóides, pretensamente criadas para "expor realidades tais quais são, induzindo aos necessários debates sobre os tempos em que vivemos"! Todavia, a meu ver, todos os argumentos para se justificar ou explicar esta faceta de morbidez gritante nos modelos comportamentais de hoje são artifícios falhos visando se encobrir o óbvio: durante décadas, fomos nutridos por um perfil cultural construído de molde a se enaltecer a negatividade! Daí, tantas teorias e filmes funestos a respeito de supostos "fins definitivos" do mundo e da raça humana se alastrando por aí, e faturando alto em cima do gosto puro e simples pelo sangue, pelo sombrio e pela tragédia!
Observa-se os noticiários: corrupção; violência; acidentes; cataclismos climáticos; drogas, marginalidade à solta... E filmes arrebatando bilheterias e platéias: Saga Crepúsculo; Tropa de Elite; 2012; O Corvo, para não mencionar a série infindável de filmes-adrenalina, nos quais lança-se mão do pretexto da necessidade de se descarregar os nervos pulando da cadeira para a exibição incansável de explosões, pancadaria, tiros, sangue esguichando para todo lado, numa palavra: de ensandecimento!
Escapismo! Fuga! Todavia, ninguém se questiona: fuga de quê?! O indivíduo, exausto, exaurido emocionalmente com a bagagem fenomenal de estresse que já enfrenta no cotidiano busca os recursos de lazer para escapismo e fuga - mas para um escapismo para dentro da simulação gigantesca de outras situações ainda mais enlouquecedoras, durante as duas horas e meia que gasta diante das telas das redes Knoplex?!
Amo Arte e adoro cinema também, meus amigos! Todavia, já de há muito causa-me espécie este tipo de masoquismo, que, de forma praticamente inconsciente, leva muitos a preterir conteúdos mais saudáveis, mais leves, mais de molde a suavizar e embelezar nossas vidas, em favor deste prazer inexplicável de se presenciar continuamente a extensão de toda a lastimável esteira das desventuras humanas!
Deus, por isso, a meu ver, atualmente, e reportando-me ao começo deste artigo, vem incomodando justo por esta peculiaridade! Porque abordar a realidade do Criador remete obrigatoriamente o intelecto e a percepção para algo positivo! Inerente e absolutamente positivo! Mas há que se enfrentar de cara o argumento repisado por muitos: positivo?! Como positivo?! Como algo ou alguém absolutamente positivo criaria ou permitiria a criação de tanta desgraça, desde sempre?!
Para tanto, meus caros, a resposta será a mesma: já é passada a hora da voluntária imaturidade humana! Deus criou tudo, de dentro de uma pressuposição de perfeição da qual não alcançamos o cerne total, como uma bactéria não dispõe de meios para abranger a engrenagem que mobiliza o contexto da vida humana!
Durante muito tempo, a parte não concerne entender o Todo, senão intuindo de um único modo: tudo e todos se constituem senão de uma única essência da Vida, regida por Leis equânimes, donde se depreende que compreender aos poucos o funcionamento e a constituição da parte nos conduzirá paulatinamente ao entendimento mais aprimorado dos mecanismos da Existência, que, em última instância, é uma só - em nós mesmos, quanto nos mundos, nas coisas e em todos os seres! Não existe a separação, como a entendemos! E, sob a luz desta nova percepção, torna-se mais fácil entender que a lágrima que derramamos em certo momento de dor é inerente a todos, bem como idêntica serão as sensações de dor ou de alegria para tudo o que, ao redor de nós, se nutre desta mesma Vida, embora variem situações e causas!
Eis todo o fundamento do impulso confraterno e solidário entre os seres, e da atração imbatível e eterna do amor que une poderosamente tudo e todos, no imenso enredo de nossos caminhos! Daí, portanto, também, a profunda distonia dos tempos em que vivemos! Disso, advém toda a raíz dos males que afligem as populações! Porque, paradoxalmente, repelimos dor e sofrimento; mas nos viciamos a nutri-la, a partir do momento em que voluntariamente nos despojamos do poder insuspeitado do uso do nosso livre-arbítrio para consentir irrestriramente com os resultados das iniciativas doentias da atualidade, voltadas apenas ao robustecimento escravizante dos investimentos de interesse no lucro!
Ouvi há um tempo num filme uma frase interessante: fique muito tempo tratando um ser como um bruto e, fatalmente, nalgum momento, ele se comportará como um bruto! Eis, assim, a descrição exata de um aspecto de nossa realidade que, a despeito de hoje ser lugar comum, é o que se sobrepôs, sutil mas poderosamente, nos nossos hábitos e costumes! Durante tantas décadas confinados e dominados pelos atrativos de conforto oferecidos por opções a cada dia mais requintadas do prazer tecnológico, nos esquecemos daquele prazer mais genuíno, saudável, e, como tal, nutrição ideal para o espírito, por advir de conteúdos que necessariamente não se relacionam à frieza insensível desta mesma tecnologia, e nem se reportam todo o tempo a enredos que repisam interminavelmente o desgaste e agressividade da sociedade em que vivemos! Mas este estado de coisas, meus amigos, é subproduto da criação humana, no uso soberano de sua liberdade de escolha e impulso irrefreável em busca de avanços científicos! Não de Deus, no qual, de uma ótica concêntrica, nos vemos imersos na magnitude indizível de sua Criação perfeita, e onde, pela dor ou amor de nossas opções diárias, nos encaminharemos a um estado de felicidade mais autêntica, herança certa de cada um de nós!
Então, sempre será tempo de criarmos sem medo, e para além de todas as negatividades, novas chances para, de fato, sermos felizes!
Texto revisado
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |