Sobre Xamanismo e a Terra
Atualizado dia 16/08/2013 04:33:20 em Espiritualidadepor Fabrizio Ranzolin
Como muitos que seguem o xamanismo, comecei sozinho por encontrar “ao acaso”. Antes ainda, já havia passado por diversas linhas espirituais, destacando o Budismo, de origem xamânica; estudei com o saudoso Lama tibetano Chagdud Tulku Rimpoche, que passava ensinamentos enquanto catava pulgas no seu cãozinho. O maior exemplo de poderosa simplicidade, fé espiritual e de alegria desapegada que conheci na vida. Também estudei Astrologia, Gnose, filosofia Indiana e pratiquei o Kardecismo; sem falar em estudos paralelos, passando por grupos de ufologia, mestres ascensionados e filosofias orientais.
Depois que trilhei o caminho definitivo do xamanismo, gradativa e naturalmente, passei a repassar aos demais o que aprendi, para que o círculo sagrado se completasse. No xamanismo, tive poucos e valorosos mestres. Recebi muitos ensinamentos que, essencialmente, levaram-me a encontrar meu próprio mestre interior. E é essa a questão fundamental onde queria chegar, e o que mais aprecio no xamanismo, que é a habilidade de encontrarmos os próprios recursos de cura e orientação espiritual.
O xamanismo pode se tornar precioso recurso de autoajuda em diversos níveis. Auxiliando-nos de forma prática, a encontrar o mestre interior, fonte de sabedoria da alma. Hoje em dia temos que aprender a cuidar de nós mesmos, não apenas do ponto de vista material e físico, mas, especialmente, do espiritual. O mundo em que vivemos está cada vez mais complexo, tanto em nível cultural e social, como espiritual. Existe tamanha diversidade de informações, de tantos tipos e qualidades, que a única fonte confiável de saber autêntico está no nosso sábio interior. Temos que pesar com seriedade que, infelizmente, a maioria das pessoas está “andando no escuro” na vida, sem saber quem são, para onde vão, e o que vieram fazer nesta Terra. Para não entrar nessa onda, temos que procurar maior sentido e riqueza espiritual dentro de nós mesmos.
O xamanismo traz a realidade da natureza, de que cada ser, seja inseto, animal, pedra ou homem, tem um papel imprescindível, na grande cadeia de relações na Terra. Temos que descobrir qual é esse papel, que com certeza não é apenas ser “rico e feliz”, ou “vencer na vida”, mas sim encontrar a verdadeira missão no mundo. Algo elementar para os seres simples, mas algo difícil para muitos seres “inteligentes”. Como a grandiosidade do papel fundamental da árvore majestosa, cuja missão é purificar o ar, fornecendo oxigênio para todos; oferecendo sombra e humidade, flores e frutos, para alimentar humanos e animais. Pense na comunidade de diversas árvores, uma floresta, um ecossistema abundante, onde a vida se desenvolve e prospera, enriquecendo o planeta. Assim, descobrir e desempenhar nossa missão, é muito importante para o mundo se desenvolver e prosperar também.
Antiguíssimo, o xamanismo tem mais de 20 mil anos, e foi origem da maioria dos sistemas espirituais curativos da humanidade. De raiz asiática, segundo estudos antropológicos, disseminou-se pelo mundo e, conforme os povos nativos do mundo, desenvolveram sistemas de espiritualidade e cura, evidenciaram-se aspectos universais nessas práticas, o que chamamos atualmente de xamanismo (sobre história geral do xamanismo leia obras de Mircea Eliade). Especialmente no continente norte, central e sul americano, o xamanismo apresenta elementos fundamentais praticamente idênticos.
Pessoalmente, fui iniciado, estudei e pratiquei mais o xamanismo central e sul americano. Posso dizer, resumidamente, que um dos conceitos mais importantes que aprendi, é que fazemos parte integrante e inseparável da natureza. E que neste ponto está nossa força essencial, a base fundamental dos “poderes” ou qualidades elementares intrínsecas, como todos os demais elementos integrantes da natureza. Como a leveza e fluidez da Nuvem, a sabedoria da Figueira centenária, a agilidade e intuição apurada da Onça ou a calma e doçura do Bicho Preguiça. A força está em reconectar com essa parte natural que está adormecida dentro de nós. Despertar a consciência natural instintiva, nos torna simples, e sábios ao mesmo tempo, pois nos conecta com a fonte universal.
O xamanismo sintetiza o sentimento profundo de ligação e amor, que podemos sentir se percebermos a Terra como ser superconsciente. Ser que fornece abundância e vida, ar para respirar, água fresca para beber, alimentos e beleza para viver: a Mãe Terra! Com tantas flores nas primaveras, infinitas e doces frutas da estação, com lindas montanhas e desertos, com belos e silenciosos recantos em florestas e lagos, e com o magnífico céu azul a nos inspirar em cada dia! Se a Terra é nossa mãe, se nossos corpos são feitos de seus elementos minerais, se nos alimenta e dá morada, e tantas graças para vivermos em beleza e alegria, como podemos não amá-la, não cuidá-la e protegê-la acima de qualquer coisa? E como podemos não cuidar dos demais filhos da Terra, nossos irmãos? Estar vivo é um presente, e viver neste lindo planeta é uma benção! Incontáveis espíritos anseiam nascer neste belo planeta e não conseguem. E nós, o que fazemos com a oportunidade da vida? E o que estamos fazendo com esse belo planeta que é nosso único lar? Para iniciar no xamanismo, essas são questões que você deve refletir, antes de tudo.
Não podemos amar, respeitar e proteger, aquilo não conhecemos. Para iniciar-se no xamanismo, torne-se íntimo da natureza. Seja irmão de um rio, ou amigo de uma árvore. Estabeleça relação, observe e conheça a natureza. No caminho do antigo local onde eu trabalhava, existia uma magnífica e grandiosa Paineira, de 20 metros de altura. De vez em quando ainda vou lá visitá-la. Todos os anos eu esperava com expectativa o dia em que ela abrisse suas grandes e incríveis flores cor-de-rosa, isso sempre alegrava minha vida. Depois do universo de suas flores cor-de-rosa, dava frutos, que quando secos, soltavam sementes em painas de algodão branquinho, que flutuavam no ar! Num show de pura vida! Do algodão das Paineiras, os beija-flores fazem seus ninhos.
No xamanismo, a prática é infinitamente mais importante que a teoria. Prestando atenção no vento, de qual direção e intensidade ele sopra, se é quente ou frio, e o que acontece quando muda, poderemos prever as tempestades. Como faz o João de Barro, que constrói a entrada de seu ninho na direção oposta aos ventos dos temporais. Assim, pratique: vá a um local na natureza, escolha uma árvore antiga, toque-a com as mãos, sente-se e faça uma pergunta que seja importante para você. Depois feche os olhos e respire, silencie o eu interno, limpe sua mente e medite. Veja o que acontece. Segundo os xamãs do Alto Amazonas, o conhecimento recebido das árvores é superior ao ensinado por uma simples pessoa.
Texto revisado
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Fabrizio Ranzolin é astrólogo, escritor e professor em cursos holísticos alternativos. Membro CNA Astrologia do Brasil. Ativista ambiental na preservação da natureza. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |